Pessoas de toda Euskal Herria se manifestam em Bilbao para “dizer alto e claro que não é justo utilizar e explorar os demais animais”.
por María R. Carreras | 02/11/2018
Pela primeira vez na história, em uma manifestação que segundo suas organizadoras é “o primeiro passo para unir as antiespecistas de toda Euskal Herria em um movimento mais forte”, se reuniram ativistas antiespecistas de diferentes pontos de todo o País Basco para lutar pelo fim da exploração animal no Dia Internacional do Veganismo, 1º de novembro.
O protesto, do qual participaram algo mais de 400 pessoas, foi convocado por Nor Euskal Herria Antiespecista. Nor é uma organização de criação recente que busca “trabalhar pela criação de um movimento antiespecista forte e coordenado em Euskal Herria”, e que colabora para isso com outras oito organizações que militam pelos direitos animais, cada uma desde seu rincão de Euskadi. Os manifestantes também vieram desde todos os pontos do País Basco, alguns deles chegados em ônibus organizados desde Hendaia, Iruñea, Donostia, Gasteiz e Eibar.
Durante a manifestação, que iniciou seu percurso na bilbaína Plaza de Moyúa e transcorreu por Gran Vía e outras ruas centrais para terminar em frente a Prefeitura de Bilbao, se portaram faixas com frases como “libertação animal” ou “comer animais é extremista” e se puderam escutar slogans como: “carne é assassinato” e “o capitalismo nos mata”.
Ao longo de todo o protesto se ressaltou o caráter político da reivindicação antiespecista. No comunicado, lido — e interpretado em linguagem de sinais — no encerramento da manifestação declararam: “Saímos à rua porque queremos dizer alto e claro que pomos em questão nossa relação com os demais animais; que somos conscientes dos privilégios que temos como animais humanos e que estamos trabalhando para desprender-nos deles e revisar-nos. Queremos dizer alto e claro que não é justo utilizar e explorar os demais animais; queremos dizer alto e claro, sobretudo, que lutamos pela libertação animal, e que por isso, nosso lugar está entre todos os movimentos sociais que trabalham para conseguir um mundo mais justo. Somos uma força política que vem lutar pela libertação animal”.
As porta-vozes que leram o comunicado destacaram que sua intenção é “unir as antiespecistas de toda Euskal Herria e dar forma a um movimento mais forte” ainda que asseguraram saber que não partem do zero, reconhecendo “o trabalho das pessoas e organizações que começaram a fazer caminho em um entorno muito mais hostil”.
Desde Nor aproveitaram também para agradecer o trabalho dos oito coletivos antiespecistas de distintos pontos de toda Euskal Herria com os quais colaboram, e que formam uma constelação de ativismo por todo o País Basco, a saber: Aiuri antiespezista em Ermua e Eibar; Animalistak desde Bilbao; Askekintza, presentes em toda Donostialdea; Bezala e Equipo Antiespecista desde Gasteiz; Kimera antiespezista em Tolosa; Liberabere em Iruñea e Uluak em Arrasate.
Ao longo de seu manifesto, a organização instou às pessoas que ali estavam a dar um passo mais contra a opressão de todos os animais, incluindo os humanos, em uma mensagem de tipo interseccional: “O antiespecismo deve levar-nos irremediavelmente a tomar partido contra toda opressão, a lutar contra todas as suas formas. Deve levar-nos a questionar nossos privilégios, a refletir sobre eles e revisá-los. Porque a luta contra uma opressão não pode justificar que apoiemos outra. O machismo, o racismo, a LGTBIfobia, o capacitismo, o fascismo… não podem ocupar nem o mais mínimo resquício dentro do movimento antiespecista”.
Esta vontade de unir lutas sem deixar ninguém para trás se viu refletida em uma mensagem — “Cuidados para a manifestação de 1N” — que as organizações antiespecistas difundiram previamente à manifestação, oferecendo acompanhamento a quem o necessitasse e garantindo “lugares seguros” dentro do protesto para as pessoas que pudessem se sentir incômodas: “Se tens intenção de participar mas por qualquer motivo o ambiente te parece incômodo ou estranho (pela massificação, o ruído, necessidade de cadeira de rodas…) podes pedir à organização para te colocar na frente; haverá lugar reservado após a faixa. Se preferes ficar em outro lugar, pede às pessoas da organização para que possam te acompanhar. Difundiremos um mapa pelas redes sociais explicando o percurso exato para todas as pessoas a quem seja de utilidade”.
El Salto [periódico] pode falar com Maialen Sagües, porta-voz do Nor, para que explicasse com mais profundidade os objetivos desta manifestação e do coletivo antiespecista a que representa.
Por que decidiu fundar Nor como coletivo em toda Euskal Herria?
O movimento em Euskal Herria está crescendo nos últimos anos e vemos a necessidade de comunicar tudo o que acontece em nosso entorno de forma unificada e, claro, conhecer-nos e tecer redes entre nós. Por isso, criamos Nor como ferramenta comunicativa onde possamos recompilar todos os eventos e ações antiespecistas que estão acontecendo. Ao mesmo tempo, acreditamos que é importante que este crescente movimento tenha uns valores transversais e queremos trabalhar por isso. Isso nos posiciona como anticapitalistas, feministas e euskaltzales e entre nossos objetivos está o de criar material em Euskara, para poder falar de antiespecismo em nossa língua.
Qual é o objetivo principal do protesto de hoje?
Queremos unir ativistas de diversos âmbitos e coletivos e ensinar às pessoas que cada vez somos mais as que estamos dispostas a lutar pelos animais. Que nossa luta se faz maior a cada dia, com umas bases mais fortes e que não vamos parar até conseguir a libertação animal.
Como vês a luta antiespecista a nível Euskal Herria na atualidade?
O primeiro passo é construir movimento, conhecer-nos, conectar-nos e apoiar-nos. Entender nossas diferenças, mas acordar quanto aonde queremos ir e fazê-lo juntas.
Qual é a prioridade para vosso coletivo agora mesmo?
Temos visto o valor de trabalhar de forma local, porque podes falar a teu entorno do que acontece em uma cultura que sentem como própria, como se dá a opressão para com os animais em um contexto concreto como é o de nosso povo, e isso faz com que a conexão seja maior. Seguindo essa lógica publicamos faz apenas umas semanas uma pesquisa sobre matadouros em Euskal Herria, é o fruto de um trabalho de 3 anos e contém imagens de 10 matadouros de nosso entorno.
Crês que a sociedade basca está preparada para o antiespecismo?
Já é hora de analisar-nos e ver nossos privilégios. É inquestionável a violência com a qual exercemos a dominação dos animais e creio que é questão de vontade, de abrir os olhos. Também direi a nosso favor que somos um povo muito ativo e que está em luta permanente.
A manifestação bilbaína abriu uma série de eventos que se realizam em todo o mundo, em razão do Dia Internacional do Veganismo, por volta do dia 1º de novembro. Nos próximos dias se celebrará outra manifestação antiespecista em Madrid — no dia 3 de novembro —, e também ocorrerão eventos em Barcelona, Salamanca e outros pontos da península e do mundo.
Tradução > Sol de Abril
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