Com um pouco de atraso, informamos que Mike Africa Sr tornou-se o segundo membro do grupo de radicais negros baseado na Filadélfia conhecido como o “MOVE 9” libertado da prisão, mais de 40 anos depois de ter sido preso pela morte de um policial em um dos tiroteios mais dramáticos da luta pela libertação negra nos Estados Unidos.
Ele foi libertado da prisão SCI Phoenix, na Pensilvânia, na terça-feira de manhã, dia 23 de outubro, para se reunir com sua esposa Debbie Africa, que também foi libertada em junho passado após de ter sida presa ao lado dele no bojo de um cerco militar em 1978, e seu filho, Mike Africa Jr, que até terça-feira nunca tinha passado um tempo com seus pais num mesmo ambiente.
“Estou em êxtase! Não estava convencido em minha mente que isso aconteceria até que eu saísse pelos portões da prisão”, disse Mike Sr à imprensa local, falando da casa de seu filho nos arredores da Filadélfia.
Ele disse que foi incrível se reunir com sua esposa, que ambos foram mantidos em prisões separadas por 40 anos. “Sentia a falta dela, sempre amei-a. Ela é minha garota desde que éramos crianças. Esse sentimento nunca estremeceu em nenhum momento”, contou.
Debbie Africa disse que ficou emocionada por ter sua família de volta.
A libertação de Mike Africa Sr marca um grande passo na luta de militantes negros que ainda estão atrás das grades há décadas depois de terem sido presos por supostos assassinatos de policiais e outros atos violentos no final dos anos 1960 e 1970.
Duas mulheres do MOVE, Janine Phillips Africa e Janet Hollaway Africa, ainda permanecem na prisão. O “MOVE 9” (ou os “9 do MOVE”) foram condenados e sentenciados de 30 a 100 anos de prisão coletivamente pela morte de um policial, James Ramp, no cerco militar de 1978 na casa do grupo na Filadélfia, embora apenas um tiro o tenha matado. Debbie Africa estava grávida de oito meses na época.
A liberdade de Mike Africa Sr é ainda mais importante para sua família, especialmente para seu filho Mike Africa Jr, que por 40 anos nunca viu seus pais juntos ou fora da prisão. Ele nasceu em uma cela onde sua mãe Debbie deu à luz um mês depois que ela e seu marido foram presos durante o cerco militar.
Durante três dias, Debbie manteve seu filhinho escondido na cela, escondendo-o debaixo das cobertas, até que ela foi forçada a entregá-lo aos guardas da prisão. Com ambos os pais presos até a véspera de seu aniversário de 40 anos, Mike Jr tornou-se efetivamente órfão da luta pela libertação dos negros.
Ele foi criado por parentes e outros membros do MOVE e agora mora com uma família fora da Filadélfia.
“Eu estou tendo uma experiência incrível fora do corpo agora”, disse Mike Jr, quando levava seu pai de volta para sua casa para se reunir com Debbie. “Estou flutuando no carro!”.
Ele disse que era isso que esperava há mais de quatro décadas – estar juntos pela primeira vez com seus pais. “Eu sempre esperei por isso, mas nunca soube que isso aconteceria”.
O cerco militar de 1978 na casa do MOVE no bairro de Powelton Village, na Filadélfia, foi um dos incidentes mais violentos e viscerais dos anos de luta pela libertação negra nos Estados Unidos. Na época, 12 adultos e 11 crianças viviam em uma casa comunal, junto com 48 cães.
Sete anos após o cerco militar na casa do MOVE, um segundo trauma envolveu o grupo radical negro. O então prefeito da Filadélfia, Wilson Goode, deu sinal verde para que uma bomba fosse jogada em cima de outra casa do MOVE.
Isso causou um grande incêndio que matou 11 pessoas, incluindo cinco crianças. Mais de 60 casas no bairro predominantemente de afro-americanos foram arrasadas.
O grupo ainda existe hoje, em grande parte na cidade da Filadélfia, e continua com a campanha pela libertação de seus membros remanescentes atrás das grades.
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