O sindicato em Bilbao perfila uma lista de 24 de seus membros de Euskadi que sofreram o terror dos campos de concentração nazis
por Iban Gorriti | 18/11/2018
Por nossas mulheres da CNT que combateram no começo da guerra em batalhões bascos em Gipuzkoa; por nossos homens que também o fizeram contra os fascismos e pela liberdade e uns ideais”. As palavras de Iñaki Astoreka continuam como aqueles trens que levavam à morte. “Muitas delas e deles acabaram em campos de extermínio nazis”, particulariza.
Sabedor disto, o Comitê de Memória Histórica da CNT Bilbao ao qual Astoreka pertence trabalha de forma minuciosa um muito avançado rol de pessoas que foram militantes do sindicato majoritário no Estado em 1936 e que acabaram com seus ossos – sem apenas carne nem forças – em armazéns de humanos como Gusen, Dachau, Mauthausen ou Feldkich, entre outros muitos.
Até esta data, a Confederação Nacional do Trabalho registrou 426 pessoas filiadas a suas siglas que foram amontoadas em campos nazis. Delas, 24 provinham da CAV e Nafarroa. Quer dizer, 5,63%. “Há que reconhecer-lhes que antes de começar a guerra de 1936, antes do golpe de Estado, já denunciaram que o fascismo estava no auge, como ocorre agora na Europa e aqui”, lamenta Astoreka. Agrega que “os cenetistas combateram até o limite de suas forças e muitos se viram obrigados a exilar-se. Continuaram, no entanto, lutando na França na resistência. Alguns regressaram a Espanha e foram represaliados, e outros acabaram em campos de concentração onde muitos conheceram a morte”.
Agora, esses homens e essas mulheres englobados no termo genérico de republicanos do Estado naqueles barracões viram seus nomes resgatados, em uma lista “sempre sujeita a erros ou omissões, para que permaneçam na memória histórica. Queremos render homenagem a nossas companheiras e companheiros da CNT, vítimas do fascismo europeu”, enfatiza. Faz por sua vez um duplo chamado para que “quem leia esta reportagem se ponha em contato com a CNT Bilbao para dar-nos pistas sobre familiares seus que estiveram naqueles campos. E queremos colaborar com o banco de DNA do Governo basco caso apareçam exumados mais corpos de cenetistas”, diz Astoreka.
Os cenetistas prisioneiros em campos de extermínio nazis foram dez vizcainos, sete guipuzcoanos, seis navarros e um alavés. Todos foram homens. “Estamos certos de que não são todos, que houve mais. Por isso pedimos a colaboração de familiares”, insiste.
Um daqueles bascos foi o vizcaino Marcelino Bilbao Bilbao, com uma vida digna de filme porque foi trágica desde seu nascimento quando seus pais o jogaram no rio de Alonsotegi. Acabaria sendo um experimento humano do nazi Aribert Heim, conhecido como Doutor Morte, que lhe injetou benzeno no coração.
Vicente Moriones Belzunegui era de Sangüesa. Pertencia à Rede Ponzán. Utilizou passaportes falsos graças à habilidade de companheiros da organização sob as identidades de José Luis Márquez Boya ou Enrique Martínez. “Em 14 de outubro de 1942, devido à traição de um amigo zaragozano, a Polícia irrompeu na casa de Ponzán, em Toulouse, e deteve a todos os presentes, entre eles Moriones e o próprio Ponzán”, relata Antonio Téllez em Cultura Libertaria.
Na França
Na opinião de Iñaki Astoreka, estes cenetistas que cruzaram o Bidasoa durante a mal chamada Guerra Civil “fugiam das bestas fascistas, tanto nacionais como internacionais, às quais haviam combatido. Esses homens e mulheres tentaram acolher-se ao país da liberdade e foram recebidos como diabos que encarnavam uma praga”, avalia, e vai mais além: “Foram internados na França em campos de concentração inumanos e tratados como bestas, salvo exceções. Muitos, ademais, foram capazes de engrossar as filas da resistência, pagando com sua morte ou sofrendo os campos de extermínio de Hitler”.
Apesar de sua entrega total em batalhões bascos da CNT e no resto do Estado, sua ideologia foi perdendo adeptos. “Era muito difícil para aquelas pessoas transmitir umas ideias que eram muito perseguidas, mais ainda com tudo o que havia acontecido na Espanha com a guerra. Era um handicap, uma barreira intransponível. Por isso, houve medo de falar aos descendentes sobre isso. Fomos e somos reféns dos que assinaram os Pactos de La Moncloa”, analisa Astoreka.
O membro da CNT Bilbao recorda a outras pessoas que engrossam sua lista, como o santanderino Luciano Allende Salazar, conhecido como Toto, que protagoniza uma fotografia [em destaque] que corta a respiração. “É o homem que carrega em suas costas um companheiro exausto”, sublinha. Allende participou em diversas ações armadas contra as tropas alemãs até ser detido pela Gestapo em março de 1944.
“Não puderam lhe tirar nada e o deportaram a Neuengamme, uma antiga fábrica de ladrilho utilizada como fábrica de horror pelas SS”, agrega. Morreu em 1983. Tampouco quer esquecer, por exemplo, o bilbaíno Francisco Foyo, que foi liberado de Mauthausen em maio de 1945, ou a aragonesa Alfonsina Bueno, que foi condecorada pelas autoridades britânicas, estadunidenses e francesas por sua participação na resistência. Faleceu em Toulouse em 1979. Astoreka conclui orgulhoso destas figuras já históricas: “Nossos companheiros e companheiras foram pessoas que nunca se renderam”.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Acabou a chuva
Canarinhos se molham
Embaixo do arco-íris.
Samanta Raissa Föetsch – 11 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!