por Luis de la Cruz | 25/01/2019
Rota da memória histórica pelos lugares que abrigaram espaços anarquistas durante a década de 20 e 30 do século passado
Neste jornal gostamos de andar. Nós gostamos de ir e voltar pelas mesmas ruas, tentando encontrar novas perspectivas para os nossos passeios e depois compartilhá-los com nossos leitores. Com a proliferação de última hora de passeios históricos guiados pelo bairro, pode ser que nos tivesse escapado a que chamam La Malasaña da CNT, mas, notando que ninguém tinha feito uma proposta pública desse caminho, decidimos passear com vocês. A geografia que estamos propondo hoje se destina a mover-se para a década de 30 do século XX para visitar alguns dos espaços que eram rojinegros (vermelho e negros) no bairro e no centro de Madrid.
Na Rua de San Marcos 3, na vizinha área atual de Chueca, foi a Federação Local de Sindicatos Únicos de Madrid e, ali mesmo, esteve baseado em grande parte da ditadura de Primo de Rivera o Ateneu de Divulgação Social (ADS) . O Ateneu tinha começado sua carreira em 1923 em outro bairro popular, em frente a Gran Via nos números 5 e 7 da Rua Doctor Fourquet primeiro e próxima aos Relatores a partir de 1927. No entanto, por alguns meses entre 1929 e 1930, a sede da ADS esteve na Corredera Baja de San Pablo no. 20, onde os anarquistas compartilhavam as instalações com o Círculo Radical de Hospício.
Trata-se de um edifício que chegou até os dias de hoje e conhecemos bem em Malasaña, que foi okupado em 2011 por um grupo grande de coletivos que procuravam dar um uso social ao espaço, que deveria ter ocorrido de acordo com promessas municipais nunca cumpridas – e outros irão se lembrar de ter hospedado a célebre taverna La Pepita, cujo letreiro amarelo seguiu enfeitando a Corredera anos depois das últimas asas de frango terem sido lá servidas.
No Ateneu de Divulgação Social foram desenvolvidas atividades de natureza cultural ou educacional (como a realização de várias conferências, desde esperantistas à teoria política), mas também foi onde o anarquismo de Madrid desenvolveu a sua atividade durante a clandestinidade da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) na ditadura de Primo de Rivera, que levou ao registro de sua sede e prisões de seus comitês dirigentes em diferentes ocasiões.
Durante o mês de junho de 1931, Madrid tornou-se a capital do anarquismo mundial. A ideia era muito forte na Catalunha, mas Madrid, apesar de que sempre teve uma presença anarquista nada desprezível e que requer mais estudo, era um feudo da UGT. Lançar a CNT – uma confederação de sindicatos anarquistas e de classe – na capital era um anseio constante entre as fileiras vermelhas e negras, o que levou a um esforço para realizar na cidade os congressos anarquistas e fundar berços jornalísticos afins. Naquele junho de 31 foi realizada em Madrid a Conferência da FAI, o IV Congresso Mundial da AIT (no Teatro Barbieri) e o Congresso Internacional da CNT, que não se reunia oficialmente desde 1919 e que se realizou entre 11 e 16 de junho no Teatro Conservatório (hoje María Guerrero). Este último é considerado chave quando se trata de entender a CNT durante toda a República.
Era comum então realizar atos de encerramento que, além de manifestações públicas, serviam para divulgar aos trabalhadores as discussões e conclusões do congresso. Embora o congresso da FAI fosse ilegal, houve uma cerimônia de encerramento no Teatro Fuencarral (rua Fuencarral, 133) em 17 de junho. Após a conclusão, dois carros passavam através do centro de Madrid com bandeiras confederadas, avisando de que os anarquistas, que passaram anos se movendo nas sombras, iriam disputar a batalha pela visibilidade pública durante a República.
A cerimônia de encerramento do IV Congresso Mundial da AIT e do Congresso Extraordinário do CNT, em 21 de Junho, realizou-se no Teatro Maravillas, e foi presidida por Angel Pestana, contando com figuras do anarquismo internacional e nacional, como Rudolf Rocker ou Abad de Santillán.
No vídeo¹ que acompanha este artigo se pode ver os delegados e participantes no Teatro Conservatório, a Angel Pestaña, Rudolf Rocker com seu aspecto de velho sábio, ao alemão Augustin Souchy e, sim, aos quatro minutos, uma garrafa passando de mão em mão entre a multidão.
Algumas datas após esses encerramentos, em 6 de julho, começaria a greve da Telefônica, a primeira grande tentativa cenetista no terreno laboral, o que não veio a bom termo e também teve muito impacto nos arredores da Gran Vía por estar lá a sede da empresa (Gran Vía 28).
Muito perto da central telefônica, na Rua Flor Alta 10 (no Palácio de Altamira), houve uma sede da CNT, onde diferentes sindicatos únicos afetos realizavam suas atividades e que foi um dos cenários mencionados na greve da Telefônica. Ali também se criaram as Juventudes Libertárias, depois de uma conferência que reuniu grupos de jovens organizados em diferentes partes da Espanha, em agosto 1932.
Os anos da Segunda República significaram um grande crescimento da CNT em Madrid, que iria ganhando terreno em setores como os da construção através do sindicalismo direto, aberto para os desempregados e trabalhadores pouco qualificados e, acima de tudo, Sindicatos Únicos de Ramo, muito mais apropriados para os tempos que os sindicatos antigos de ofício, grandes raízes ainda da UGT.
Esta jornada de fortalecimento da CNT em nossa cidade funda suas raízes nos novos espaços da cidade obreira, o bairro de Vallecas -Bridge, Cuatro Caminos, Prosperidade, Vendas ou Guindalera-, mas no centro da cidade, como não poderia ser de outro modo, também permanece um espaço importante para a política dos trabalhadores.
Quando os militares se revoltaram contra a República na África, em 17 de julho de 1936, as instalações da Federação Local da CNT eram na Rua da Lua (no final do Palácio de Monistrol). Apesar de ter sido fechado pela greve da construção em curso no momento, como outras sedes sindicais, logo se tornaria o Comitê Nacional, e o Regional a própria Federação Local e o Comitê de Defesa. Ali foram distribuídas armas e tomadas decisões importantes para a defesa de Madrid.
Poderíamos seguir o passeio pela Malasaña vermelha e negra durante a Guerra Civil passando diante do Palácio de Villahermosa (Fuencarral 97), que foi sede de milícias anarquistas, ou no Ministério da Justiça (San Bernardo 45), onde passou brevemente o ministro anarquista da justiça Juan García Oliver. Logo viriam décadas de esquecimento, o exílio, a repressão e clandestinidade… também para o anarquismo.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=d89Pt8krDhs
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
meia-noite ao meio-dia
o rio amazonas
dormia saltado
joaot2015
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!