[Porto Alegre-RS] Baixe a nova edição da Revista Crônica Subversiva

Os anárquicos, os tiranos e as Crônicas Subversivas.

Muitos estigmas, histórias e até boatos, antecedem os anárquicos. Porém nossa carta de apresentação é simples: a vontade de não se inclinar diante de ninguém, viver em absoluta liberdade, longe de explorar ou ser explorados. Que essa carta chegue no meio dos estrondos da luta contra quem atenta contra essa simpleza, não é por vocação de conflito. Quem declara a guerra contra todo ser livre e vivo que não admite ser escravo, muitas vezes termina colhendo o revide, isso foi criando nossa terrível e formosa memória. Como todo ser que não se submete, cultivamos a sensibilidade de não dar por normais as múltiplas formas da dominação e não ficamos indiferentes aos embates do poder.

E mataram mais um pouco da terra.

A empresa VALE, atacou mais uma vez a terra. Faz dois anos mataram o Rio Doce, e foram premiados pelo estado e as ongs através da fundação Renova, dedicada à recuperação do Rio Doce, e com a qual lavaram manchas da lama. E agora assassinam mais pedaços de terra. Os funcionários são simples elos miúdos de um mostro gigante. Seu presidente, intocável, para pôr um exemplo, não é questionado, apedrejado ou forçado a fugir, ele fala, junto dos governantes como se fosse voz neutra na história. A Vale é uma das maiores mineradoras do mundo e a maior empresa de logística da região. Opera em 14 estados, nos cinco continentes, possui 2000km de malha ferroviária e 9 portos. Benjamin Steinbruch, também dono do Grupo Vicunha, o maior grupo têxtil do continente, e do Banco Fibra, é seu proprietário. O lema da sua empresa é: “Para um mundo com novos Valores”. Valores que impõem atentados contra a terra mantidos em nome do progresso. A ordem em que funciona esta forma de “vida” não faz mais do que erradicar lentamente o lugar que habitamos. Os governantes justificam a ordem da devastação e submissão. Porém não são apenas eles…

Impuseram um tirano. 

Os servos voluntários, os amantes da obediência, nas últimas eleições, impuseram um fascista.

A democracia é o jogo da imposição dum mandatário segundo os ânimos dos eleitores. Mas entender o resultado destas eleições é entender que uma significativa parte das pessoas com as que convivemos amam obedecer, amam a chibata e pouco lembram das revoltas pela liberdade das que são herdeiros. Nada lembram das vitórias de Zumbi dos Palmares, nem da revolta da chibata, nada herdaram da memória da greve de 1917, nem da revolta de Sepe Tiarajú, Mandu Ladino, nem Nheçu. Pouco aprenderam dos balaios, dos guerreiros do Xingú, dos cortadores de cabeças do Tapajós. Os amantes dos tiranos mostraram que há uma divisão profunda entre as pessoas que amam a liberdade e aquelas que a querem restrita e subordinada a um líder.

Estamos num momento em que a visão do mundo, totalitária, de direita, está tendo um reposicionamento nos governos. O seu discurso nem sequer está adocicado, louva escancaradamente os fundamentos do totalitarismo: o mando, a obediência, a família tradicional, deus, o patriarcado e o militarismo. E parece até ganhar seguidores. As explicações podem ser muitas: Que os valores inclusivos não incluíram os excluídos de sempre; que a democracia nunca conseguiu o bem estar geral; que se desiludiram da esquerda, que as igrejas, inocularam valores autoritários; que as pessoas se conformaram com ter quem as governe e não enxergam além disso. Sob quaisquer explicação, impuseram um tirano, e vamos ter que combatê-lo.

Os territórios não civilizados, os grupos de afinidade, grupos de ação, espaços okupados, e sobretudo grupos que confrontam à dominação, tem a radicalidade dos instintos que não se inclinam diante desses valores e forma de vida. Mas viver a margem não é a singela resposta. Se ficamos indiferentes ou neutralizados, por muito que moremos alternativamente, ecologicamente, inclusivamente, desconstruidamente, ainda seremos cúmplices da paulatina consolidação do totalitarismo.

Por isso, espalhamos posições que se afastam das chamadas ao voto útil, das paranoias e autoexílios. O medo não pode fazer abdicar tanto como para correr a ser protegidos pelo amo vermelho! Precisamos ter a certeza de nossa rejeição ao domínio e procurar nos fortalecer no encontro, na insistência das nossas idéias, na dissidência da dissidência passiva, para continuar acreditando em nós mesmos.

A Crônica Subversiva, ou os relatos da subversão.

Nossa publicação, pega o nome da Cronaca Sovversiva, um jornal anárquico editado por Luiggi Galliani, nos Estados Unidos, entre 1903 e 1918, ano em que foi ilegalizado e fechado. O jornal era o ponto de confluência de muitos anárquicos na época, na sua maioria imigrantes italianos, todos eles no confronto contra as iniquidades, pelo qual foram perseguidos, mortos ou deportados, entre eles lembramos de Sacco e Vanzetti, Mario Buda, Carlo Valdinoci, e do cozinheiro anarquista Jean Crones. A Cronaca Sovversiva teve tanto vôo que os subscritores chegaram a 5000, e vários jornais tomaram o mesmo nome em diferentes regiões e momentos. No Rio de Janeiro, em 1918, também existiu uma Crônica Subversiva, jornal anarquista, que teve a contribuição do José Oiticica, fechado pelos arranques repressivos contra a insurreição anarquista daquele ano.

Este terceiro número, mais uma vez, difunde atos rebeldes da insondável beleza da liberdade, esperando que sejam a chispa da próxima fogueira. Ainda com o panorama nefasto e maiores obstáculos a frente, temos confiança no instinto dos ingovernáveis. Cada fato de revolta, insubmissão e desobediência, alentam esta publicação e animam a sentir que estamos onde sempre estivemos, contra toda autoridade, na defesa da terra e da liberdade.

Conteúdo:

– Os anárquicos, os tiranos e as crônicas subversivas
– Direitos humanos. Quando nossas vontades não cabem nas suas leis.
– O Protesto | Um jornal anarquista que desafiou a lei de segurança nacional
– Pela Terra. Contra o Capital!
– Aconteceu em Porto Alegre: Combate o Fascismo.
– Um pouco de flamejante clareza
– O principio de Autoridade.
– De olho na revolta social do outro lado do oceano: coletes amarelos: guerra civil ou guerra social?
– Entrevista com um dos 23 processados pelas revoltas de junho de 2013
– SEPARATA: Nossa é a convicção! Sobre os ataques anárquicos no território controlado pelo estado argentino. /A saúde em nós!/Misha.

Contato: Nosso sincero convite para compartilhar com nós toda ação e relato de eventos, propaganda, agitação ou desborde que esteja contra toda autoridade na luta pela terra e liberdade.

Nosso novo email: cronica-subversiva@riseup.net

Porto Alegre, Verão de 2019

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