Antiautoritários— incluindo alguns anarquistas bem conhecidos — não rejeitam necessariamente toda autoridade.
por Bruce Levine | 17/03/2019
Lyndon Johnson famosamente proclamou suas exigências para um nomeado: “Eu quero que ele beije minha bunda na janela da Macy’s ao meio-dia e me diga que cheira a rosas”. Johnson e seus bajuladores eram autoritários.
O autoritário é rotineiramente definido como “favorecendo a submissão cega à autoridade”. Autoritários com poder exigem obediência inquestionável daqueles com nível inferior, e os subordinados autoritários cumprem com todas as exigências das autoridades.
Em contraste, os antiautoritários rejeitam — para si e para os outros — uma obediência inquestionável à autoridade, e desafiam e resistem às autoridades ilegítimas. Antiautoritários— incluindo alguns anarquistas bem conhecidos —não rejeitam necessariamente toda autoridade.
O antiautoritário Noam Chomsky oferece esse exemplo de uma autoridade justificada: um adulto que impede uma criança de cinco anos de sair correndo em uma rua e ser atropelado por um carro. No entanto, Chomsky acrescenta que as autoridades muitas vezes não têm justificação moral, mas estão “lá apenas para preservar certas estruturas de poder e dominação” — e são autoridades ilegítimas que devem ser resistidas.
Há um continuum do autoritarismo extremo ao antiautoritarismo extremo, e em diferentes pontos da vida das pessoas e sob diferentes circunstâncias, as pessoas podem estar em diferentes pontos deste continuum. Alguns antiautoritários evidenciam rebeldia cedo na vida, enquanto outros só mais tarde começam a resistir à autoridade ilegítima. Antiautoritários existem em todos os estilos de vida e vêm em todos os tipos de temperamentos. Para ilustrar essa diversidade, eu traço o perfil de vinte famosos norte-americanos antiautoritários em Resisting Ilegitimate Authority.
Do meu estudo sobre os famosos antiautoritários, bem como da minha experiência com muitos antiautoritários não famosos, vejo um valor limitado nas explicações reducionistas do autoritarismo e do antiautoritarismo. Assim, por exemplo, enquanto algumas pessoas aceitam famílias opressivas e se tornam autoritárias, outras se rebelam contra elas e se tornam antiautoritárias.
A anarquista Emma Goldman é um exemplo de tal rebelião de uma família opressiva. Seu pai batia regularmente em seus filhos por desobedecê-lo, e a rebelde Emma seria a mais espancada. Seu interesse por garotos provocou raiva em seu pai, como ela contou: “Ele me socou com os punhos, gritou que não toleraria uma filha solta”, mas desobedeceu ao pai.
Finalmente, uma adolescente Emma Goldman ameaçou cometer suicídio se seu pai não permitisse que ela imigrasse para os Estados Unidos, e sua estratégia funcionou. Enfim, além de seu pai, Goldman desafiaria uma longa lista de autoridades que ela considerava ilegítimas: seus professores, seu primeiro mentor anarquista, a polícia, o governo dos EUA e, mais tarde, os bolcheviques; e sua lista de inimigos variava de J. Edgar Hoover a Vladimir Lenin.
Enquanto alguns antiautoritários, como Goldman, são rebeldes na infância, muitos antiautoritários famosos e não famosos começam a desafiar e resistir à autoridade ilegítima apenas mais tarde na vida, após serem radicalizados por suas experiências— um exemplo é Edward Snowden, cujo caminho para resistir à autoridade ilegítima não poderia ter sido mais diferente que os de Goldman.
Snowden cresceu como um patriota americano em uma casa patriota. Em 2004, ele se alistou no Exército dos EUA, contando mais tarde: “Eu queria lutar na guerra do Iraque porque sentia que tinha uma obrigação como ser humano de ajudar a libertar as pessoas da opressão”. Ele começou a trabalhar para a Agência Central de Inteligência (CIA) em 2007, mas ficou alarmado com as violações do governo de George W. Bush aos direitos constitucionais dos americanos.
Aos vinte e poucos anos, Snowden relatou mais tarde: “Comecei a entender que o que meu governo realmente faz no mundo é muito diferente do que eu sempre aprendi.” Depois de trabalhar para a contratante de defesa Booz Allen Hamilton para coletar dados sobre a NSA, em 2013, ele vazou para a imprensa evidência da violação do governo dos EUA da Quarta Emenda por sua vigilância sem mandado em massa sobre os cidadãos dos EUA. Aos 30 anos, Snowden foi acusado pelo governo dos EUA de violar a Lei de Espionagem.
O arco do antiautoritarismo de Malcolm X foi bem diferente do de Goldman e Snowden. Quando criança, ele foi abalado pelo trauma em extremo, que incluiu o assassinato de seu pai por supremacistas brancos (a polícia alegou que foi um acidente e a companhia de seguros o chamou de suicídio). A morte de seu pai resultou em grave estresse financeiro para sua família, uma variável importante que levou à hospitalização psiquiátrica de sua mãe.
Antes de sua família ser dilacerada, um jovem Malcolm tinha sido um excelente aluno. Então, quando adolescente e jovem, tornou-se egoísta, predador, envolvido em roubos e foi encarcerado na prisão. Então, depois de sua conversão religiosa, ele foi por um tempo obedientemente autoritário dentro de uma organização autoritária.
No entanto, depois que Malcolm X ganhou conhecimento dos comportamentos predatórios do líder da Nação do Islã, Elijah Muhammad, ele teve outra transformação. Reconhecendo que suas ações provavelmente resultariam em seu assassinato, Malcolm X desafiou a legitimidade da autoridade de Elijah Muhammad e rejeitou seu decreto contra a participação política. Antes de sua morte, Malcolm X passou a adotar um programa político anti-imperialista e anticapitalista revolucionário.
Os antiautoritários são ideologicamente diversos: Emma Goldman era uma anarquista; Edward Snowden inicialmente um libertário; Malcolm X tornou-se cada vez mais socialista; e alguns antiautoritários que eu tracei o perfil, como George Carlin e Jane Jacobs, se orgulhavam de não se identificar com nenhum dogma.
Os temperamentos e personalidades dos antiautoritários também são diversos, desde o brincalhão Lenny Bruce até o sério Scott Nearing. Se qualquer temperamento se torna um antiautoritário é determinado por um conjunto de muitas variáveis que incluem sorte e escolha.
Devido à natureza subjetiva e imensurável das múltiplas variáveis que determinam se alguém se torna um antiautoritário, a previsão científica não é possível. Esta é uma boa notícia para os antiautoritários. Se poderosos autoritários pudessem prever cientificamente antiautoritários por meio de tipagem de personalidade ou testes genéticos, eles certamente tentariam eliminá-los.
Fonte: https://www.salon.com/2019/03/17/chomsky-snowden-and-malcolm-x-a-psychologist-explains-how-people-become-anti-authoritarians_partner/
Tradução > sapat@
agência de notícias anarquistas-ana
Silêncio:
cigarras escutam
o canto das rochas
Matsuo Bashô
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!