Para a proliferação de ideias e pontos de encontro, multiplicar as possibilidades existentes.
Apresentação da “Librería Desquiebre”
Ideias são perigosas junto com suas respectivas vontades. As ideias vistas como armas fornecem um grau de perigo para o que construímos, não apenas em nosso pensamento, mas nas reflexões que nos levam a tomar decisões, sentimentos que enchem nossos corpos com a segurança de agir contra algo. Esse posicionamento claro é uma expressão imediata de nossas intenções, princípios e contradições, que nos pertencem individualmente e que podemos melhorar coletivamente ou não. Ontologicamente, as ideias remontam à observação e à sua intervenção imediata pela curiosidade, isto é, por um ato intuitivo que abre para ao conflito por conhecer, um sulco de perguntas sobre o que vemos e imaginamos, uma sensibilidade para o que existe. Vivemos em um ponto de ruptura entre o que vemos e interpretamos, entre o que existe e o que acreditamos ser, entre o que existe e o que queremos, um espaço imperceptível de confronto, um território de ideias.
A iniciativa de uma livraria, hoje, tem muitas razões políticas, tanto do interesse pessoal daqueles que gerenciam o projeto (logisticamente falando), como das ideias similares que temos coletivamente aguçado; mas também carrega uma urgência imediata, que acreditamos exigir em cada contexto de/na luta e que corresponde àquela de espaço e ponto de encontro onde podemos exercitar com maior “autonomia” os princípios e a propaganda anárquica. Nossa realidade territorial está cada vez mais ausente por vários resultados: bibliotecas e projetos foram liquidados fisicamente falando, apesar disso, podemos dizer que várias dessas iniciativas não desistem de suas convicções e continuam com suas atividades de maneiras diferentes, porque deixam claro que as casas passam, mas as ideias permanecem. Mesmo assim, é evidente a falta de espaços em que ficamos frente a frente entre nós e nós, e com “falta de cantos” nos referimos explicitamente à ausência de espaços físicos (ocupados ou não) que abertamente têm um projeto antiautoritário onde podemos gerar vários nós de comunicação: contribuições para a fraternidade longe das redes sociais, personalizando assim nossas relações e enfatizando nossas discussões. Assim se materializa com entusiasmo e carinho a habilitação de um, que independente de seu tamanho e de infraestrutura, o espaço permite-nos individualmente e coletivamente assumir um novo material de ponto de distribuição e propaganda anárquica reconstruindo as velhas desculpas que nos fazem se reencontrar e, ao mesmo tempo, enfatizar (ou pelo menos em sua ingenuidade mais imediata) não apenas a desfetichização do livro desde uma consideração prática e necessária para romper com a idealização de ideias em seu formato de mercadoria, mas também como um exercício com o que nos abre a um espectro de leituras “críticas” além da ideologia e do consumismo esmagadores que se estagnaram e se reduziram ao livro como um mero objeto de aquisição. O livro em si sempre foi considerado como uma ferramenta, bem como uma passagem de lazer. Gostamos de ler, nos entretemos com a discussão e o colapso teórico que pode ocorrer quando confrontamos nossas ideias com aquelas que vemos escritas, com as quais nos cercamos na vida.
Não forçar ninguém a ler, a menos que deseje, nem nos vinculamos com este ou aquele conteúdo de um livro, como qualquer campanha de “promoção da leitura” e mais: é esta predisposição uma das razões pelas quais decidimos estender nosso catálogo não só às ideias anarquistas, porque entendemos que o campo de aprendizagem e curiosidade pode ser dado entre diferentes temas e correntes, e isso não significa que a biblioteca é uma variedade de tudo, mas é entendido? A nossa predisposição é o entusiasmo para compartilhar uma pergunta ou comentário que por algum texto energiza a troca de ideias, que, a propósito, que consideramos vital em qualquer processo de formação, chame-a política ou não, mas emerge da frontalidade ou da dúvida (mais que da autoafirmação de nossas mesmas ideias). Agora, plantear um “déficit” no hábito do leitor de um “ambiente” anárquico nos escapa de nossas estatísticas. Cada indivíduo está ciente de seus interesses e metodologias, seja através de um hobby ou através de algum treinamento político contínuo. Mas ainda assim não somos indiferentes ao argumento de que você pode construir em torno de lugares como estes, onde os livros são um dos principais “pilares” ou “desculpas” para convocar ou reunir aos nossos afins. O livro é uma ferramenta que decidimos promover.
“Multiplique as possibilidades existentes”, melhore as ferramentas que nos rodeiam, entusiasmar as mãos ativas.
Podemos falar de uma jornada de propaganda anarquista no Chile nos últimos anos? Fazer esta pergunta não só nos convida a viajar por estatísticas, falando sobre os vários projetos que têm sido geridos por parte da imprensa anarquista nos últimos anos nesta área, mas também propõe uma leitura do conteúdo desses mesmos de como tem sido o desenvolvimento da ideia antiautoritária ao longo dos anos, desenhando várias bifurcações que nos foram confiadas por uma análise muito interessante e ao mesmo tempo pessoal. Aqui nós apontamos para alguns meios de comunicação específicos e de propaganda, que sentimos fazer uma contribuição para as possibilidades existentes e com os quais decidimos potenciar em primeira instância, nos referimos a editorais e companheiros de propaganda que se esforçam voluntariamente para financiar a publicidade na cidade. Não reduzimos o esforço de outras formas e canais de propagação, como a mídia audiovisual, artística ou musical, ao contrário, administramos e incentivamos sua propagação. A ideia da livraria é reunir uma grande quantidade de material em um só lugar. Apesar de nosso sistema de compras não contemplar a “gratuidade” na aquisição de um livro, nós não desenhamos um quadro lucrativo com eles. Devemos dizer que esta iniciativa é autofinanciada com os livros que vocês camaradas nos deixam, contribuindo em apoio mútuo para uma rede difusora que agite e inquiete dentro e fora das paredes da livraria. As ideias e propaganda muitas vezes são perigosas, e é por que isso que incomodam, é por isso que a perseguição pelo poder tende a taxa-la com diferentes adjetivos enchendo-as com apologias de violência, que em alguns casos são assim, mas não nos distrai de sua verdadeira preocupação sobre nós: a memória e persistência para não esquecer, não desistir, continuar nossas lutas multiformemente, continuar onde mais lhes dói, vivendo nossos sonhos.
Convidamos você a dar uma passada pela livraria
Alameda 1621, Patio los Héroes, Local 32.
Cidade de Santiago, território chileno.
Outono de 2019.
libreriadesquiebre.wordpress.com
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
um tufo de algodão
flutuando na água
uma nuvem
Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!