Nos dias 30-31 de Maio e 1o de Junho aconteceu a 5° Festival do Livro Anarquista no centro da cidade de Patras (em Esperos, na praça King George). Durante esses três dias muitas pessoas passaram pelo local do Festival, estabelecendo contato com livros anarquistas/radicais e participando em eventos políticos e culturais, numa organização particularmente bem sucedida, tanto política quanto logisticamente, assim como no que diz respeito à aceitação do evento. Assim, uma área livre do Estado e do Mercado se formou, um espaço público que se transformou em local para encontros e debate, interações e criticismo.
Como havíamos mencionado também na chamada política do evento:
“O objetivo desse festival é o de destacar a riqueza dos conceitos anarquistas, libertários e anti-autoritários e difundir essas ideias na sociedade, em especial para os jovens ao redor da cidade. Isso é particularmente importante em um período em que prevalece a propaganda do Estado contra aqueles que optam pela autogestão e pelas iniciativas grassroots enquanto meios de luta, e o racismo, o canibalismo social e o retorno ao fascismo são apresentados como as únicas alternativas para superar a crise atual. Ao mesmo tempo, mesmo dentro de movimentos de resistência, o debate político e a troca de ideias para alcançar uma análise mais profunda são tratadas com desprezo; nós acreditamos, portanto, que a promoção da educação autônoma, da investigação política e teórica e a preservação da memória da classe trabalhadora contra o anarquismo de estilo de vida e o hooliganismo político são de importância primordial para a reconstrução ampla de um movimento radical e revolucionário”.
Em tempos de retrocessos radicais, onde a individualização e fragmentação da resistência parecem predominar na sociedade, nós consideramos muito importante a construção de tais eventos, organizados horizontalmente já da sua base, através dos quais pessoas de qualquer idade têm a oportunidade de se aproximar da riqueza das ideias anarquistas de uma forma direta e não mediada, livre das distorções da classe dominante.
O primeiro dia teve inicio com a apresentação da segunda rodada dos eventos sobre “Ideias Libertárias na Literatura” (a primeira rodada se deu em Novembro de 2018, como parte dos eventos comemorativos dos 5 anos do Centro Social Autogerido “Epi ta Proso”). O evento começou com a contribuição de um companheiro do “Epi ta Proso“, com o seguinte título: “Derrubando o mito do Super-Herói: O Cavaleiro das Trevas a serviço da Soberania do Estado”, além da apresentação da HQ “Adeus, Batman”, da editora Red’n’noir, de Tasos Theofilou. Depois desses eventos, seguiu-se a apresentação do livro “As aventuras de Nono”, de Jean Grave e Modern School, pela editora Stasi Ekpiptondes. Ambos os eventos direcionaram criticas tanto ao papel dos super-heróis (na medida em que eles são construídos pela classe dominante) quanto aos contos de fadas e à educação libertária.
Foi durante o segundo dia que se deu uma apresentação muito interessante do livro “Quando o galo chorava no escuro…”, uma antologia de textos anarquistas escritos entre 1971-1978, editada por Michael Protopsaltis, da editora Vivliopelagos, assim como um vídeo chamado: “Os anarquistas nos anos 70. A luta da memória contra o esquecimento é uma luta contra o poder.” Do vídeo seguiu-se uma discussão sobre os anarquistas desse período, seus textos e suas falas e terminamos com uma conclusão útil sobre o presente. O dia terminou com um “rebetiko” visando o suporte financeiro da Feira, que se deu nas “escadas de Patreo”, onde muitas pessoas participaram.
O terceiro e último dia do Festival começou com a apresentação do livro “As últimas chamas da Resistência. Uma estória de um lutador da Volante Rossa”, da editora Diadosi, apresentação que foi seguida de um testemunho em vídeo, de Paoli Finardi, cujo título era “Nós fizemos o que tivemos que fazer”. O Festival terminou com uma apresentação de hip-hop que visava o apoio econômico para o Festival, com a presença dos grupos TNT (Rationalistas), Penthimos/Clown, Spira & KK, DJ Gzas e Hiphopathi. Esse show foi o melhor fechamento possível para o Festival, cheio de sons, poesia, slogans e estórias da estrada e da luta pela revolução.
Concomitantemente à feira de livros, que se deu durante os três dias do festival, houve uma exibição contendo pôsteres políticos, uma galeria fotográfica, livros políticos/radicais, textos e revistas do movimento anarquista/antiautoritário, assim como camisetas, cujas vendas se destinaram à reconstrução do okupa “Libertatia”, em Tessalônica, que foi queimada por fascistas em Janeiro de 2018.
Enquanto membros do Centro Social Autogerido “Epi ta Proso” [1], nós gostaríamos de agradecer a todos aqueles que responderam positivamente ao nosso convite para participarem no 5o Festival do Livro Anarquista (coletivos editoriais, autores, grupos políticos, grupos musicais, camaradas que apoiaram os eventos com a sua presença e todos e todas que mostraram interesse pelo Festival). A ótima resposta que o Festival teve esse ano é também graças a aqueles camaradas que nos apoiam desde o primeiro ano em que o Festival ocorreu, assim como os novos adeptos que aprenderam sobre o Festival e reconheceram a importância de apoiá-lo ao longo dos anos. Sem todas essas pessoas e os projetos que elas formam, tal organização não seria possível.
No que diz respeito a nós, podemos afirmar que vamos continuar promovendo formas de comunicação e expressão autônomas e não mediadas assim como espaços igualitários, horizontais e coletivizados, com a crença de que a forma com que lutamos deve estar diretamente relacionada com o mundo que desejamos construir com a revolução. Vamos continuar intervindo em busca da emancipação, em uma variedade de temas e problemas que tem relação direta com as nossas vidas e com o impacto que os planos e decisões das classes dominantes – políticas e econômicas – têm sobre as nossas vidas.
Contra a crença da representação, contra toda ilusão eleitoral que cultiva submissão e abdicação, nós reconhecemos que esse Festival foi apenas mais um momento, mais uma peça na luta que nós, enquanto anarquistas, assumimos, por uma sociedade liberada dos grilhões do Estado e do Capitalismo, por um mundo de equidade, solidariedade e liberdade.
Essa luta vai continuar…
Centro Social Autogestionado “Epi ta Proso” | Rua Patreo, 87 – Patras, Grécia
epitaprosw@gmail.com/epitaprosw.espivblogs.net/anarchistbookfairpatras.wordpress.com/en/
[1] Esse era o nome de um jornal anarquista, publicado entre 1896 e o começo do século XX na cidade de Patras. O grupo de anarquistas que publicava o jornal tinha o mesmo nome; alegadamente, eles foram os primeiros grupos anarquistas-comunistas do país. Epi ta Proso pode ser traduzido livremente como “Seguindo adiante”.
>> Mais fotos:
Tradução > Ruídos da Natureza
agência de notícias anarquistas-ana
manhã de inverno—
pela fresta do telhado
um raio de sol
Geralda Caetano Gonçalves
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!