“Se a minha mãe estivesse aqui, diria para ela que a amo muito e que estava muito feliz”, disse Martín de la Torre Muñoz, a partir do sofá de sua casa em Cevico de la Torre, um município da Espanha na província de Palência. Há 83 anos, quando tinha apenas oito meses de idade, perdeu a sua mãe para um pelotão de fuzilamento, durante a Guerra Civil espanhola.
Uma equipe de arqueologia devolveu-lhe, agora, um chocalho desenterrado da vala comum onde estava o cadáver da mãe. Com o brinquedo devolveram também à família toda a história de Catalina Muñoz Arranz, fuzilada em 22 de setembro de 1936.
Catalina foi a única vítima mortal do sexo feminino em Palência (na comunidade autónoma de Castela e Leão) a ser submetida a julgamento, indicando que todas as outras vítimas foram mortas sem condenação. É por essa razão que havia registro da sua campa e foi por isso que foi possível identificar Catalina sem recorrer a provas de DNA.
A mãe de quatro filhos, dos quais Martín era o mais novo, foi condenada à morte depois de julgada em conselho de guerra, numa província que nunca esteve em guerra mas que foi assolada pela repressão franquista.
Catalina tinha ferimentos de bala no crânio, nas vértebras cervicais, na clavícula e nas costelas, de acordo com o relatório forense. O chocalho estava ao lado da sua anca esquerda.
Martín foi criado por uma tia e não se lembra nem da mãe nem do brinquedo. O pai, que tinha sido preso durante a guerra, foi trabalhar em Bilbao e só regressou para junto dos filhos oito anos antes de morrer. Nunca falou sobre Catalina e os filhos nunca lhe perguntaram.
Também nunca souberam onde estava enterrada Catalina, nem sequer que tinha sido desenterrada em 2011, por uma equipe de arqueólogos da Sociedad de Ciencias Aranzadi.
“O chocalho é um objeto excional, primeiro porque ajudou a identificar o cadáver de Catalina, porque se sabia que tinha um filho de oito meses, e segundo porque nunca se encontrou mais nada do género e nenhuma vala da Guerra Civil”, indicou uma das arqueólogas, Almudena García-Rubio.
Agora, conhecendo-se a história e recuperando a preciosa última memória de Catalina, a família reclamou os restos mortais. Foram a enterrar junto ao marido, Tomás, numa cerimónia de homenagem organizada por uma associação histórica local.
Fonte: agências de notícias
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