“Seja livre, como um pássaro voando”

Santiago Maldonado, o Bruxo, o Lechuga.

de Porto Alegre (RS) | sábado, 25 de julho de 2019

Santiago Maldonado, um anarquista que vale a pena conhecer, procurou uma vida livre, e por isso se afastou da vida estabelecida. Ocupou casas para morar coletivamente, em autonomia, e ocupou terrenos abandonados para fazer hortas. Participou da Biblioteca Anarquista Guliay Polie. Gravou e escreveu sons independentes como MC de profundo rechaço aos amos e donos. E também trabalhou, mas em casa, porque nas fábricas revolucionava tudo (conta um dos seus empregadores). Santiago marcou a pele de vários companheiros com suas tatuagens e marcou também várias cidades com seus murais.

Nunca permaneceu indiferente, diante de nada, e por isso também agitou forte solidariedade pelos companheiros sequestrados Fredy y Marcelo, e pelos presos dos saqueios em Bariloche.

Tinha um profundo amor pela terra assim como pela liberdade. Saiu das cidades e desceu para o Wallmapu, no sul,  território Mapuche, onde chegou em lugares ocupados e recuperados pelo povo Mapuche e em espaços anarquistas da região. Pouco a pouco, foi se adentrando na intensidade e beleza da luta pela terra que não tem  pausa, nem trégua.

Por isso, ele estava no bloqueio da estrada 40, na comunidade Pu Lof (departamento de Cushamen, Chubut, Argentina). Era um protesto pela Liberdade de Facundo Jones, liderança Mapuche, e contra o despejo das terras Mapuches retomadas por serem território ancestral que fora-lhes quitado pelo empresário italiano Luciano Benetton  (“dono” de 900.000 hectares, que “comprou” por 50 milhões de dólares nos anos 90, como se essa terra não tivesse nela habitantes milenares). “Aquele dia, os policiais chegaram para matar um. Começaram a atirar sobre nós que corremos até o rio, de aí vimos como ele (Santiago) estava com a água até os joelhos se segurando duns galhos, e os policiais acima dele, outro companheiro viu os policias batendo, e depois uma camionete e o caminhão da polícia aparecerem ali, neles, meteram alguém, sempre fazendo um cordão para ninguém enxergar” (Habitante do Chubut). Aquele dia, 1° de agosto de 2017, desapareceu Santiago Maldonado, um anarquista que amava a terra e que estava lutando contra a dominação.

Durante 77 dias, os anarquistas de dentro e fora da Argentina, perguntamos: Cadê Santiago Maldonado? Durante 77 dias, houveram ações que ofenderam o poder, o Estado Argentino, as lojas Benetton, em protesto pela desaparição de Santiago e em apoio à luta Mapuche. E foi por essa gigantesca e permanente agitação, de 77 dias, que Santiago foi entregue, morto, pelo Estado e sua polícia assassina, os quais não podiam mais esconde-lo. “Morreu de hipotermia”, mentiram  e assinaram.

De Santiago Maldonado, os repórteres disseram que era um hippie, mas ele era um anarquista, punk e MC. De Santiago Maldonado tentaram fazer um produto para a mídia, fazendo dele um filme. Mas deixamos claro que a vida de Santiago não foi “a exemplar” e sua morte provocou mais de uma revolta. Estamos contra a apropriação mercantilista de nossos mortos, eles não descansam em paz, não são inocentes, nem mártires que transformam-se em lembranças mercantis, eles são inimigos da dominação e seguem vivos no fogo de cada barricada! Com ele compartilhamos a luta, a procura por liberdade e o rechaço da vida dominada!

Os anarquistas, não nos perguntamos mais por Santiago. Respondemos, com a força da solidariedade, mediante a luta contra toda dominação; desde o Norte até o Sul, pelo Leste e Oeste, ofendendo todo tipo de poder e de usurpação da terra dos povos originários. Sabendo e sentindo que, como Santiago, somos todos parte da terra e por ela lutamos!

Que a memória seja um arma de combate, atualização infinita da nossa hostilidade contra a dominação!

 Difundimos cartazes com os olhos de Santiago, para armar em 35, 24 ou 1 peças. As possibilidades de ação para acompanhar esses cartazes são infinitas!

>> Baixe o cartaz aqui:

https://mega.nz/#F!96hgXAZD!1C_NyccVx01Nkmj8k-KYOw

Nem culpado nem inocente.

Não sou um cliente desta sociedade.

Infernal, celestial,

não sei distinguir entre o bem entre o mal.

Uns dizem é assim, outros dizem é relativo.

Eu só acredito na cosmovisão dos antigo,

nos rios, no mar, nos bosques, nos morros, nas lagoas.

Nas dunas y nas minhas ruínas, nas pedras e nos meus temas.

Na areia.

Na minha janta, no meu ódio, no meu amor,

na minha alegria e na minha dor. 

(Santiago Maldonado)

agência de notícias anarquistas-ana

Silêncio:
cigarras escutam
o canto das rochas

Matsuo Bashô