Insurgência no Equador

Desde o início do mês, quando o governo do Equador anunciou o paquetazo que incendiou as ruas de Quito. Entre outras medidas para o ajuste de contas com o FMI, decide sobre a retirada de subsídios aos combustíveis. Sindicatos, movimentos sociais, estudantes e desempregados tomaram a cidade em um paro geral. Mas foi a presença de povos indígenas, vindos de outras regiões, que potencializou os protestos. Quíchuas, chibuleos, otavalos, saraguros, chimboracenses, amazônicos “não se acovardam ou se ajoelham na frente de ninguém, com a cabeça erguida seguem na luta”, como afirmam em carta aberta certos jovens quíchua. Não esmoreceram, mesmo diante da brutal resposta do Estado, que acionou também o exército, executando ao menos sete pessoas, ferindo incontáveis corpos e prendendo centenas; que declarou toques de recolher e bloqueou os acessos telefônicos e de internet na região. Junto a outros insurgentes, os indígenas enfrentaram o exército e as polícias, sequestraram policiais, atacaram bancos e lojas, incendiaram viaturas, acenderam barricadas, invadiram e saquearam o prédio da Controladoria e defenderam os milhares de manifestantes da violência estatal. No domingo, ainda que algumas pessoas continuassem desobedecendo o toque de recolher com suas barricadas, as ruas de Quito esvaziaram. Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), sentou-se para negociar com o presidente, Lenín Moreno.

Virá?

O resultado dessa negociação foi a revogação do decreto e a proposta de um novo texto redigido por uma comissão integrada por organizações do movimento indígena, “com a mediação das Nações Unidas e da Conferência Episcopal do Equador, e com a supervisão das demais funções do Estado”. A questão que se coloca agora é: após vários dias de sublevação e revolta, os equatorianos se contentarão com este acordo? Simplesmente aceitarão voltar ao mesmo? Só os próximos acontecimentos dirão. É o perigo das greves por demandas para o Estado, dificilmente tem outro fim que a mesa de negociações. Mas há sempre espaço para o surpreendente: que venha!

Fonte: Flecheira Libertária n. 558, 15 de outubro de 2019. Ano XIII.

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