David Campbell está sendo injustamente encarcerado pelos eventos que se desdobraram durante um protesto contra o movimento de extrema-direita “alt-right” (direita-alternativa) na cidade de Nova York, em 20 de janeiro de 2018.
Um amante de linguagens e arte, David estava há duas semanas de se mudar para Paris para estudar tradução francesa. Foi o compromisso dele com o antifascismo e a sua comunidade que o levaram ao protesto aquela noite.
No protesto uma briga estourou, na qual um homem embriagado da alt-right, de 56 anos, ficou inconsciente. Durante a briga um policial, sem aviso prévio, derrubou David no chão e quebrou sua perna em dois lugares. Com nenhuma outra prisão feita do outro lado, o policial alegou que David perseguiu, socou e estrangulou o participante do partido alt-right e, então, tentou estrangular o próprio policial. Essas fabricações foram circuladas pela mídia da direita.
As acusações iniciais foram retiradas depois que as imagens de videovigilância falharam em dar suporte a qualquer uma das alegações acima. No entanto, elas foram substituídas por uma acusação mais vaga e pesada, a de Ataque de Gangue. Ataque de Gangue faz com que qualquer grupo de três ou mais pessoas envolvidas em uma briga seja legalmente responsável pelas ações de cada uma e implica em uma pena mínima obrigatória e excessiva de três anos e meio.
Depois de quase dois anos de uma manobra legal, David aceitou uma alegação de não-cooperação por uma sentença de 18 meses, em uma unidade local, para evitar um julgamento e uma sentença muito maior em uma unidade distante de suas amizades e familiares. Durante este período, a Promotoria de Justiça de Manhattan, inexplicavelmente, ofereceu acordos muito mais leves, envolvendo apenas serviço comunitário a um número de membros de gangues alt-right, presos e acusados em um caso separado, mas muito similar, cerca de 10 meses depois de David. Nenhuma justificativa para esses resultados díspares foi dada pela Promotoria de Justiça de Manhattan. O oficial de prisão do caso de David não foi responsabilizado por ter quebrado a perna dele e mentido sobre as ações de David.
Mensagem de David:
Tenho uma confissão a fazer: Sou um antifascista e estou indo para a prisão por isso. É uma história complicada e longa. Em resumo, fui preso em um protesto contra a alt-right, na cidade de Nova York, no ano passado. Uma briga estourou e eu fui pego nela. Um policial me abordou pelas costas, quebrou minha perna e mentiu sobre isso. Tabloides me pintaram como um assassino e a Promotoria de Justiça me acusou de Ataque de Gangue, uma lei vaga e drástica. Ela faz com que, legalmente, qualquer grupo de três pessoas ou mais, envolvidas em uma briga sejam responsáveis pelas ações das outras pessoas e implica em uma pena obrigatória e mínima de três anos e meio. Se eu for para o julgamento e perder, eu cumpro pelo menos três anos e meio em uma prisão no norte do estado, com gangues de nazis e detentos presos a décadas e, então, pelo menos 5 anos de liberdade condicional. A Promotoria Pública quer desesperadamente me colocar na categoria do Monstro Antifa e fazer de mim um exemplo. Eles podem, provavelmente, fazer isso. Minhas/meus excelentes advogadas/os da Defensoria Pública do Harlem e outra dúzia que me consultei concordam: não ir à julgamento e rolar os dados, não há nada mais que eu poça fazer. A Promotoria de Justiça de Manhattan simplesmente não quer deixar isso passar. Minhas/meus advogadas/os geralmente colocam minhas chances por volta de 50%, no melhor dos casos. Eu assumi uma terrível alegação para diminuir minhas perdas.
Eu cumprirei 12 meses, de uma sentença de 18 meses, em Rikers, começando em 23 de outubro. Não haverá nazis e ninguém ficará lá por mais de 2 anos, e não haverá liberdade condicional. Um acordo de merda, mas com menos merda que eu poderia conseguir.
Os últimos 19 meses foram, honestamente, os piores da minha vida. Serei sentenciado há mais 18 e estou bem preparado para o início da minha sentença. A incerteza do não saber foi, de longe, a pior parte de todo este processo. Lidar com mais 12 meses com um final definido será, comparativamente, fácil. Tentei aproveitar minha liberdade a despeito desse prazo carcerário e ser grato pelo que tenho. E, de fato, foi muito bom, comparado com a maior parte das pessoas que cumprem pena. Muitas, muitas pessoas, não podem pagar fiança. Eu tive amizades que deram um passo a frente e conseguiram uma boa quantia de dinheiro para assegurar minha soltura. Graças a elas, eu passei os últimos 19 meses livre e tentei viver a minha vida ao máximo, apesar da tortura psicológica. Cozinhei boas comidas e as aproveitei com familiares e amizades, celebrei o Halloween, a Ação de Graças, o Natal, o Ano Novo e meu aniversário com pessoas importantes para mim. Morei na França por três meses com alguém que eu me importo profundamente. Adotei um gato e me deu tanto prazer diário ser gentil com uma pequena criatura peluda e ver ele se tornar mais gentil e afetuoso de volta. Escalei e fiz mochilão, fiz passeios de bicicleta e visitas a museus e teatros, cujo os trabalhos ainda me deixam sem fôlego ao relembrar. Eu circunaveguei o mundo com uma única mochila para lembrar a mim mesmo que ele é muito maior e rico que a caixa na qual eles me colocarão. Não tomo nada disto como garantido. Claro que estou triste por ir embora, mas muita gente passa por coisas piores por muito menos.
Tive bastante tempo para me preparar para o meu encarceramento e tenho um grupo sólido de amizades que estiveram ao meu lado todo o tempo com tudo que eu precisava – apoio, segurança, pesquisa, auxílio legal, conectando-me com terapeutas, especialistas em autodefesa e outros ativistas que cumpriram pena. Acima de tudo, tenho um motivo para cumprir uma pena, mesmo que não seja certo, e isso é uma coisa muito estranha, mas confortante, porque saberei enquanto estiver lá que a) é por uma causa que eu acredito e b) é mentira.
Sentirei falta de uma boa comida, ar fresco, minha cama, minhas amizades e familiares, meu gato, arte, teatro, música, natureza, privacidade, gentileza, aconchego, sexo e, claro, liberdade para tomar minhas próprias decisões. Não sentirei falta de pagar aluguel, de redes sociais, da vida frenética de Nova York e da ansiedade da FOMO que a acompanha, ou do transporte público.
Se você está lendo isso, eu já estou em uma cela. O contato com o mundo externo é um dos maiores indicadores de uma boa recuperação ao encarceramento. Não me importo se não nos falamos há anos. Escreva para mim, me visite. Free David Campbell (freedavidcampbell.com) tem todas as informações que vocês precisam.
É duvidoso que qualquer quantidade de pressão pública fará com que me tirem da cadeia, mas não importa o que aconteça comigo, o precedente por responder a esse tipo de repressão precisa ser definido. Trump está amontoando a corte, tanto da alta quanto da baixa instância, com juízes não qualificados da direita. A legislação está propondo penas superiores a 10 anos de prisão para aquelas/es consideradas/os antifascistas, geralmente definidos, simplesmente, como protestando enquanto usavam uma máscara, está sendo regularmente promovida nas legislaturas estaduais e federais. Se é isso que eles fazem comigo, um jovem antifascista, nerd e comum em 2019, pode ter certeza de que muito, muito pior está por vir e possivelmente para você – a menos que você deixe claro agora que esse é um comportamento inaceitável de qualquer agência governamental em uma sociedade ostensivamente livre e justa. Diga que isso é uma merda. Mesmo que você não goste de mim, concorde comigo ou aprove minhas táticas, diga que este caso é uma merda, pelo bem de todos/as nós.
Escreverei mais sobre isso e haverá um artigo saindo logo mais. Enquanto isso, escreva para mim, me visite, assine uma petição para minha soltura antecipada e mantenha a fé contra os fachos. Tentarei tirar esse tempo para melhorar a mim mesmo e sair sem transtorno pós-traumático e uma cicatriz gigante na cara. A única saída é através…
Amor e solidariedade,
Vejo vocês em breve.
Tradução > A Alquimista
agência de notícias anarquistas-ana
Flauta,
cascata de pássaros
entornando cantos úmidos.
Yeda Prates Bernis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!