[Chile] Santiago: 31º dia de Revolta Social

18 de novembro de 2019

UM MÊS INESQUECÍVEL!

Por trás do capuz… um sorriso inextinguível!

Respiramos a mistura de fumaça e gás lacrimogêneo. Olhando ao nosso redor as cenas nos marcam, são milhares os que continuam lutando. Uma imensa emoção nos percorre e por trás do capuz um sorriso inextinguível se desenha. Estamos vivendo o que cem vezes lemos nos livros!

Não há certezas de nada, o nosso impulso continua sendo a busca da liberdade. Mas quase sempre o nosso desejo é antagônico com o da multidão. Continuamos sendo uma negra minoria… Mas uma minoria muito ativa.

No fim-de-semana ocorreram cinco atentados incendiários contra bancos em Peñalolén, Cerro Navia, Lo Espejo, El Bosque e Santiago. E um ataque com bombas molotov contra uma delegacia de Maipú termina com dois detidos.

Hoje, segunda-feira, na Praça de Puente Alto houve confrontos com os lacaios e um ataque à sua delegacia. Na Praça de Maipú efetuou-se distúrbios e estudantes tomam o CODEDUC.

Em Antofagasta desconhecidos pintam de preto a Âncora, ícone da cidade. Em Iquique atacam com bombas molotov uma guarita do Regimento. Em Valdivia incendeiam a sede do Partido Socialista. Em Concepción queimam as bandeiras de todos os partidos, uma demonstração de que esta Revolta não tem líderes nem dirigentes nem partidos políticos. Em Santiago expulsam da “zona zero” a ex-candidata presidencial Beatriz Sánchez, acusando-a de fazer parte dos pactos da elite.

Entre milhares de pessoas na “Praça da Dignidade” tremulam bandeiras anarquistas (pretas) e ecoanarquistas (verdes e pretas). Encapuzados distribuem jornais anárquicos e uma banda de metais entoa “Bella Ciao”.

Quando o sol se vai, a polícia solta toda a sua artilharia, faz cercos pulverizando com gás lacrimogêneo e atirando balas de chumbinho em grandes quantidades. Hoje perante esta violência policial alguns preferiram desesperadamente saltar no Rio Mapocho para escapar da repressão.

Até a urgência do pronto-socorro central chegaram mais de quarenta feridos por balas de chumbinho. A soma multiplica-se se adicionamos outros centros médicos e há os que não aparecem a nenhum centro de cuidados médicos. Um manifestante é ferido com fratura de crânio ao ser impactado diretamente por uma bomba de gás lacrimogêneo, terá que ser operado.

Em Valparaíso a polícia deixa com risco vital a um jovem ao qual dispararam no pescoço. Manifestantes denunciam queimaduras de segundo grau pela água tóxica lançada por blindados de jato d´água.

A vingança chega à noite, quando desconhecidos aproveitam os dados filtrados pelo Anonymous e continuam os seus ataques noturnos contra carros particulares e domicílios de policiais.

Deputados pedem a renúncia do General Diretor dos Carabineiros, mas desde o governo, apesar das acusações de violações aos direitos humanos, reafirmam no seu cargo.

Viralizam vídeos de postos de comida, locais comerciais e de serviços onde literalmente policiais civis são expulsos, afrontados ou não querem atendê-los pelo seu trabalho repressivo.

Colapsam cantões de recrutamento por aglomeração de jovens que se recusam a realizar o serviço militar. Uma contundente rejeição ao trabalho assassino do braço armado do Estado e do capital.

Surgem grandes Incêndios florestais em diferentes pontos de Valparaíso. São encontrados aceleradores e tudo aponta para a intencionalidade. Moradores acusam que, através desta emergência, pretendem desmobilizá-los.

Ainda não há respostas para as exigências do povo. Os burocratas profissionais ampliam o aumento às pensões, salários mínimos, dispensa da dívida do CAE, e um longo etc. Dizem que não há recursos e oferecem migalhas a longo prazo. Nunca acreditamos neles, muito menos agora.

Agrupamentos sindicais anunciam Greve de 48 horas para o dia 19 e 20 de novembro. Greve Geral para o dia 21, e o colégio de professores reitera o chamado para boicotar a prova Simce.

Colégios se enchem de faixas em favor da Revolta e atletas em eventos esportivos fazem gestos em solidariedade com os mutilados, tapam um olho com a mão para protestar enquanto recebem medalhas em pódios ou posam na clássica foto da equipe.

A multiplicar as instâncias de organização antiautoritária!

Continuamos procurando que viva a anarquia!

N.T.

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Philippe Caquant