A seção da Comunidade e Setor Científico da CNT divulgou uma declaração, que reproduzimos abaixo, expondo sua opinião sobre a conferência que as Nações Unidas realizará em Madrid entre os dias 2 e 13 de dezembro.
Nota prévia:Toda a nossa solidariedade com a população do Chile e nossa repulsa à brutal repressão promovida pelo Estado que ela está sofrendo. Talvez a realização da cúpula da COP25 no Chile não devesse ter sido cancelada. Qualquer solução possível para a crise climática passa necessariamente por avançar até uma situação de justiça social. Teria sido um bom palco para evidenciar essa necessidade. Infelizmente, é mais fácil virar as costas.
A crise climática demanda ações urgentes. Ações que exigem superar o dogma neoliberal do crescimento econômico ilimitado. Ações que impliquem que essa necessidade de “puxar o freio” não suponham uma ainda maior deterioração das condições de vida daqueles que estão abaixo, aqueles que sempre sofrem com as ressacas depois das festas das elites. Ações destinadas a procurar novas formas de produção e consumo. A crise climática é definitivamente o sintoma de uma doença já conhecida chamada capitalismo.
Pensamos que a luta contra a crise climática não precisa começar do zero, como se fosse um novo projeto de ativismo, e sim pode encontrar diversos recursos e ferramentas úteis nas várias lutas anticapitalistas que já estão em andamento, desde movimentos feministas até conflitos por direitos trabalhistas. Dividir as lutas por ordem de importância, ou fingir que são fenômenos que não se sobrepõe é como fechar os olhos para a realidade. Por isso, enfatizar a necessidade de ações sobre a crise climática e ocultar a necessidade de uma ação anticapitalista é simplesmente uma omissão irresponsável ou uma estratégia premeditada. Nesse contexto, basta dar uma olhada para a agenda da COP25 para perceber que ela está longe de ser a cúpula que a crise climática precisa.
Nos últimos anos a crise climática se converteu em um problema fundamental para milhões de pessoas em todo o mundo. Manifestações por causa destas questões enchem as ruas das principais cidades do planeta. Neste cenário, a postura institucional se adapta mas não muda seu objetivo de perpetuar o funcionamento de um sistema que não vai modificar seus objetivos ou sua dinâmica. Se sucedem diversas declarações de emergência climática (vazias de conteúdo) e os governos se comprometem com as metas de redução de emissões (claro que para as contas fecharem, a produção externa feita em países periféricos da globalização é excluída). Não contem conosco. As soluções para as questões da classe trabalhadora sempre partiram de baixo. Temos memória e não temos tempo.
Acusamos a cúpula da COP25 como culpada deste baile de máscaras institucional. Não pretendem desenhar um cenário de ações necessárias contra o aquecimento global. Eles estão apenas procurando ganhar tempo para que o sistema capitalista possa continuar sua dinâmica usual: acumular, às nossas custas e do planeta. Também são culpados os meios de comunicação que enchem os jornais e a televisão de conteúdos ditados pela elite. Não podemos nos permitir deixá-los fazer isso. Apostamos na ação direta. Na organização. Na criação de um movimento.
A ação individual, desde a reciclagem até reduzir viagens de avião, não é suficiente, mesmo. Mobilizemos as assembléias de bairro, habitacionais, trabalhistas. Incluamos reivindicações próprias da luta contra a crise climática em cada um destes espaços. Que sigam surgindo seções sindicais em todos os locais de trabalho. Que as ações pela redução da jornada, mudança do modelo energético, contra a precariedade, pelos serviços públicos e por um trabalho e uma vida distintos, pós-capitalista, sejam criadas e se organizem a partir de baixo. Apostamos numa universidade e numa ciência para as pessoas e que não sirvam aos interesses do sistema, dos bancos, da indústria farmacêutica, nem de empresas armamentistas. A ciência e a universidade devem servir aos interesses da classe trabalhadora, entre os que estão, sem dúvida, a luta contra a crise climática.
A realização da COP25 transformou Madrid no palco onde irá se escrever um grande capítulo na luta contra a crise climática. Nossa voz se ouvirá. A elite do sistema capitalista, culpada desta crise, saberá que estamos aqui.
As Instituições, globais e locais, culpadas por evitar as soluções e perpetuar o problema, saberão que estamos aqui. Participaremos dos protestos durante a cúpula da COP25. Ainda assim, o momento mais importante, onde está nossa força, não está no dia do protesto, algo necessário mas pontual. Nossa força está na capacidade que temos de nos organizar e traçar uma agenda a curto, médio e longo prazo, e segui-la.
CNT Comunidad Universitaria y Sector Científico de Madrid
Fonte: https://www.cnt.es/noticias/ante-la-celebracion-de-la-conferencia-sobre-el-cambio-climatico-cop25/
Tradução > Mauricio Knup
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!