[Seguir criando e construindo feminismo anarquista]
No sábado, dia 28 de setembro, se realizou a jornada do Encontro Anarcofeminista, no espaço da Cooperativa Guasasapo, bairro Matta Sur, Santiago, a qual contou com a participação de mais de 60 pessoas. Começou por volta das 12 horas do dia com a apresentação do encontro acompanhado com música de fundo, enquanto começavam a chegar os participantes de forma paulatina.
A primeira oficina chamada “Anarcofeminismo: expresiones no Abya Yala” iniciou por volta das 13 horas, com uma exposição sobre história do Anarcofeminismo na América Latina, seus principais expoentes e várias noções sobre a importância de situar-se geograficamente para revelar aquilo que nos convoca neste território, a importância de construir um feminismo anarquista desde as necessidades, demandas e lutas que se desdobraram em nossa América Latina (Abya Yala), com o fim de seguir fortalecendo a criação autônoma de diversos espaços que nos abram caminhos para a emancipação social, política, intelectual, teórica e cultural. Surgiram várias palavras de companheires sobre as diversas formas que toma o capitalismo extrativista no território Latino Americano e como incide em nossas vidas e em nossos próprios corpos. Também, surgiram diversas visões sobre o Anarcofeminismo na Bolívia e a experiência de “Mujeres Creando” como uma das mais conhecidas manifestações de uma organização de mulheres desde o território e do anarquismo.
Desfrutamos de um cálido e compartilhado espaço para almoçar, para depois iniciar a segunda palestra intitulada “El Pensamiento Libertario de Silvia Federici”. A companheira que expôs, fez uma revisão das principais colaborações teóricas que apresenta esta defensora do feminismo autônomo. Abordamos o questionamento que faz à noção de mais valia de Marx, uma categoria que desde o ponto de vista marxista não considera que a reprodução da vida e os cuidados relegados às mulheres também geram um lucro ao patrão e portanto fazem parte da acumulação capitalista. Também pudemos dialogar em torno da noção de patriarcado salarial e as divisões que se colocam entre as mulheres no âmbito da nova divisão internacional do trabalho e no marco do capitalismo global, podendo identificar os grandes objetivos que se nos propõem ante o contexto político e econômico que nos envolve. Estas notas deram passagem à conversa entre os participantes, que em sua maioria deram ênfase na importância de aprofundar um enfoque classista e anticapitalista ao movimento feminista. “Devemos infectar todos os espaços onde estejamos”, foi o lema compartilhado por uma das mulheres moradoras que nos acompanhou neste nutritivo espaço de autoformação.
Logo se realizou a atividade “Reflexionando el aborto”, já que, desde um princípio se pensou fazer o encontro este dia 28 de setembro, com o objetivo de comemorar o Dia pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe. Esta atividade se realizou de uma forma mais lúdica, para que assim todes participantes fossemos formando-a. Nos dividimos em grupos e a cada um se propôs um objeto para refletir em torno dele e seu vínculo ou ideário sobre o aborto; logo cada grupo expôs suas considerações frente ao resto. Se formou uma interessante série de reflexões que deram conta da importância da descriminalização do aborto, para que não tenhamos que lamentar mais mulheres presas nem mortas por abortar e sobre o controle que pretende ter o estado sobre nossos corpos e nossas decisões, apropriando-se da vontade individual sobre a maternidade.
Ainda que mais além da legalidade ou não do aborto, uma das conclusões que pudemos resgatar foi sobre a autogestão de nossa saúde, nossas decisões e de nossas próprias vidas, levando-as a cabo em solidariedade e apoio mútuo entre nós, por meio de compartilhar e resgatar velhos saberes e com isso criar novos e compartilhá-los. Devemos, reconquistar o conhecimento de nossos corpos, seguir explorando, formando redes e comunidade, para criar alternativas, com o fim de recuperar nossas vidas.
Ademais, uma das interrogantes que ficou à deriva: considerando o estado atual da saúde pública no Chile, onde seguem morrendo pessoas nos corredores dos hospitais, as intermináveis listas de espera e um sem fim mais de situações contraditórias, como a “objeção de consciência” que gerou o Estado para excetuar axs médicxs conservadores de realizar abortos, é:
Se hoje o aborto fosse legal, o farias em um hospital?
Finalmente, terminamos a jornada com um espaço musical que contou com uma banda de punk e um grupo de dança cigana, cabe destacar que todas estas agrupações são compostas por mulheres.
Ademais, durante toda a jornada se manteve uma exposição chamada “Enemigas públicas del estado” que se realizou com o objetivo de destacar mulheres que levaram a cabo ações e experiências, para fazer frente ao estado e ao capital em suas diferentes formas nas quais se impõe, em distintos territórios no transcurso da história.
Assim, agradecemos as companheiras da cooperativa Guassasapo, as companheiras da banda Ahorkate, as dançarinas de Kali Subversiva e a todes participantes, já que, em conjunto conseguimos desenvolver este primeiro encontro de Anarcofeminismo, o qual, se perfilou como um espaço de criação e reflexão coletiva.
Esperamos ver-nos em um próximo encontro para seguir criando e construindo feminismo anarquista.
Saúde!
Ni Amas Ni Esclavas
Tradução > Sol de Abril
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!