[Chile] Santiago: 42º dia de Revolta Social

29 de novembro de 2019

VIVA OS IRREDUTÍVEIS INIMIGOS DO PODER!

“Estamos diante de um inimigo poderoso e implacável, que não respeita nada ou ninguém. Que não respeita a vida dos seres humanos, que não respeita nossos heróis”. A frase é repetida várias vezes pelo Presidente da República, desta vez em uma ação prévia da polícia.

O MEDO é uma das armas mais poderosas do poder, por isso eles continuam promovendo um clima de paranoia para desmobilizar e dividir os oprimidos.

O Estado redobrou seus esforços para aprovar sua “lei anti-encapuzados”. Piñera aponta para os anarquistas, os Barras Bravas e os traficantes de drogas como uma tríade coordenada para desencadear a violência, tentando misturar água e óleo, mas isso é quimicamente impossível.

O plano de comunicação é exceder os saques de pequenas lojas, oferecendo uma grande cobertura jornalística. Eles batem na tecla das lágrimas dos proprietários ao ponto de exaustão para aumentar o drama, ou seja, a imprensa do capital lança uma poderosa carga emocional para deslegitimar a Revolta Social.

Existe uma cumplicidade óbvia (por ação ou omissão) entre a polícia, “domésticos” e traficantes, indivíduos sem códigos que não estão interessados naqueles que prejudicam suas ações.

Sem dúvida, a propriedade privada faz parte do que desejamos destruir, mas hoje nossos objetivos estão cheios de simbolismo estratégico. Se o ataque a qualquer local precisa de explicação, não é simbólico o suficiente.

Uma solução provisória seria “comitês de autodefesa”, mas nossa inexperiência e ineficácia nessas práticas deixam o caminho pronto para os “coletes amarelos” que começam a se armar com um inegável hálito fascistoide. “Que os milicos voltem às ruas!” é o discurso repetido pelos amantes do sistema neoliberal, embora nos seus bolsos o dinheiro sempre tenha brilhado por sua ausência.

A triste realidade é que o capitalismo é tão internalizado em uma porcentagem de oprimidos e explorados que a mercadoria e seus locais de abastecimento são mais importantes que a vida de outros seres. O trabalho, o dinheiro e o consumo são um bem superior, bem mais que cem pessoas com olhos mutilados.

Mas outra parte da população já se deu conta do plano do Estado e o denuncia cada vez que tem a oportunidade na televisão, incomodando cada soberano ao vivo.

Pessoalmente, não me lembro quantas vezes chorei assistindo a vídeos de adolescentes baleados ou sem olhos. Não me lembro de um dia sem a angustiante sensação de saber que em algum momento no Chile alguém sofre de brutalidade policial ou que, dentro de uma delegacia, eles estão torturando e estuprando.

Na sétima sexta-feira de Revolta, e após dois dias com baixa adesão, a “Praça da Dignidade” voltou a encher e a performance feminista “Um estuprador no seu caminho” foi realizada de maneira massiva na zona zero. A performance se expande nacionalmente, globalmente e se torna viral nas redes sociais. Tanto que consegue ofuscar o discurso governamental do medo. Uma faixa gigante é aberta pedindo a renúncia de Piñera e da ministra da Mulher e Igualdade de Gênero Isabel Plá.

Desconhecidos incendeiam a estátua do “Negro Matapacos”, ícone da Revolta. Nas suas fundações, manifestantes constroem outra com flores.

Os confrontos entre lacaios e encapuzados continuam com muitos fogos de artifício. Em Concepción, a polícia usa bombas de efeito moral que desorientam por causa dos flashes de luz que emitem quando ativadas, e o barulho alto da explosão afeta temporariamente a audição. Na mesma região, a etapa do Mundial de Rali é cancelada.

O sindicato dos trabalhadores do Scotiabank e os clientes pressionam o banco e demitem o gerente Antonio Benvenuto, que agrediu manifestantes no shopping La Dehesa.

O ministro da Saúde é achincalhado e seu carro arranhado em um hospital, ele teve que ser protegido pela polícia. A ministra Plá também foi vaiada por manifestantes.

Um manifestante é detido em Vina del Mar por carregar e lançar bombas molotov, ele é investigado por posse de material explosivo. Ontem houve uma concentração em solidariedade com os presos e presas da guerra social nos arredores do centro de (in)justiça. Policiais protegeram e fecharam o local.

Se sente o cansaço, mas não desistimos.

Que a propaganda insurrecional permaneça presente em cada barricada!

ICEM A BANDEIRA REVOLUCIONÁRIA!

N.T.

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Uma pequena borboleta.

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