A Aurora Dourada, um partido grego de extrema direita, está vendendo suas sedes e nem mesmo seu site está em funcionamento.
Por Hibai Arbide Aza | 18/09/2019
O movimento antifascista derrotou a Aurora Dourada. Raramente se pode afirmar isto com tanta contundência, mas a Aurora Dourada já é história. Seu site oficial parou de funcionar semanas atrás. Os escritórios do que até recentemente era sua sede estão à venda. Entre eles, sua sede na Avenida Mesogeion e a sede do Pireu, a partir da qual os ataques foram coordenados por anos, incluindo o que terminou com o assassinato do cantor antifa Pavlos Fyssas, conhecido como ‘Killah P.’.
A Aurora Dourada deixou de ser a terceira força parlamentar e não teve representação na câmara. As recentes eleições – europeias, municipais e legislativas – foram desastrosas, obtiveram apenas um deputado, Yanis Lagos, que deixou a organização com a intenção de fundar outro partido sem muito sucesso – sua apresentação foi cancelada porque algumas das pessoas anunciadas para o ato se recusaram a participar. Lagos foi quem deu a ordem para matar Fyssas, de acordo com as evidências fornecidas pela família no julgamento. Está, como toda a cúpula neonazista, pendente de uma possível sentença que pode significar muitos anos de prisão.
A derrota da Aurora Dourada vai muito além de um simples golpe eleitoral. A Aurora Dourada não é – não era – um partido político. Era uma organização paramilitar neonazista criada à imagem da SA de Hitler. As consequências do seu desaparecimento vão muito além do Parlamento. Refugiados, pessoas trans, esquerdistas, migrantes, pessoas de cor… Há milhões de pessoas que agora andam mais pacificamente pelas ruas da Grécia. Este é um detalhe que muitas vezes esquece quem compara a Aurora Dourada com o Vox [partido de extrema-direita espanhol] ou qualquer outro partido ultraconservador. A Aurora Dourada não era isso, era uma estrutura paramilitar que realizava ataques organizados e sistemáticos porque fazia uso sistemático e instrumental da violência.
Assim como suas consequências transcendem o Parlamento, as razões de sua derrota devem ser buscadas além da lógica eleitoral. É verdade que a falta de recursos derivados de seu fracasso eleitoral foi a gota que encheu o copo, mas o copo estava transbordando graças ao incansável movimento antifascista que assolou a Aurora Dourada por terra, mar e ar.
AS ESTRATÉGIAS ANTIFASCISTAS
No capítulo dedicado a Aurora Dourada do livro Epidemia Ultra: A onda reacionária que infecta a Europa (autoeditado em 2019), além de uma revisão histórica mais profunda dessa organização neonazista, descreve as quatro linhas estratégicas com as quais o antifascismo helênico agiu: mobilizações em massa, amplas plataformas, perseguição judicial e confronto nas ruas. A classificação visa apenas facilitar a explicação e, é claro, não se trata de escolher entre elas. Elas funcionaram porque foram todas feitas de uma só vez.
Mobilizações em massa têm sido comuns nos últimos cinco anos. As ruas de Atenas, Tessalônica e outras cidades foram preenchidas com milhares de pessoas muitas vezes para lutar contra o fascismo, contra o racismo, a favor de refugiados e migrantes. A data mais óbvia do calendário antifa é 18 de setembro, o aniversário do assassinato de Pavlos Fyssas. Mas não é, de longe, o único dia em que houve manifestações em massa.
Existem várias coordenações antifascistas. Elas são organizadas por bairros e seu objetivo é que, dia após dia, além dos encontros vários, os fascistas sintam que não têm espaço. Eles acreditam que a força do movimento reside não apenas em ações maciças e espetaculares, mas em se tornar um tormento contra a Aurora Dourada. Em todos os momentos, em cada bairro. Somente em 2017 e 2018, essa pressão constante conseguiu forçar o fechamento de 32 sedes deste partido na área metropolitana de Atenas. Eles convocavam manifestações quase todas as semanas e pessoas de todas as idades participavam. Costumavam ser manifestações tranquilas que não terminavam em tumultos. Eles organizaram conversas, colagem de cartazes, atos pequenos e a criação de comitês locais. É a parte maior e mais distribuída do movimento. A mais transversal.
Por outro lado, há equipes de advogados que se dedicam a costurar as querelas dos líderes e bandidos nazistas. Advogados que, posteriormente, promoveram acusações em processos criminais contra a Aurora Dourada. Especialmente no macro-julgamento que quer mostrar que eles não são um partido político, mas uma organização paramilitar. Um julgamento que já completou quatro anos de audiência, com a complexidade que isso implica: centenas de testemunhas, centenas de horas de gravações, milhares de páginas como prova testemunhal, advogados dedicados quase exclusivamente a esse julgamento, organizações que tomam nota de cada uma das sessões, coletivos que relatam prontamente como as sessões acontecem etc. Mas não foi apenas o macro-julgamento, a intenção foi persegui-los por todos e cada um dos ataques que eles praticaram.
Além disso, o antifascismo grego é uma força de choque nas ruas. Uma parte substancial do movimento decidiu não delegar a defesa de espaços ou bairros antifascistas a uma força policial que demonstrou muitas vezes que simpatizava ou colaborava com os neonazistas. A imagem dos cordões de segurança formados por centenas de militantes com capacetes e bastões prontos para enfrentar os nazistas tornou-se habitual. Um exemplo disso é o centro social Distomo, localizado em Agios Panteleimonas, a praça que já foi o bastião da Aurora Dourada. É aqui que os nazistas faziam sua distribuição de alimentos “apenas para gregos”, “doações de sangue de helena” ou o fechamento dos espaços para impedir que as crianças gregas se misturassem com os filhos de migrantes. A abertura de um centro social antifascista ali foi literalmente alcançada à forças. Houve brigas, confrontos contra fascistas e policiais, antifascistas torturados por policiais que, na delegacia, se identificaram como membros da Aurora Dourada. A expressão “sangue, suor e lágrimas” é frequentemente usada como metáfora. Aqui não.
Há outro fato que, sem dúvida, influenciou o fato da Aurora Dourada ter menos presença na rua. Mas é algo que os antifascistas geralmente não falam em público, devido às implicações legais e éticas que isso representa. Em 1º de novembro de 2013, um mês e meio após o assassinato de Pavlos Fyssas, uma motocicleta parou ao lado da sede da Aurora Dourada em Neo Iraklio, nos arredores de Atenas. Duas pessoas com capacetes saíram e atiraram em quatro neonazistas que estavam na porta da sede. Alexandros Gerontas foi baleado, mas conseguiu escapar. Um dos quatro conseguiu entrar na sede e salvar sua vida. Yorgos Fountoulis, 27, e Manolis Kapelonis, 22, morreram instantaneamente. Os agressores dispararam treze balas. Foi uma execução completamente aleatória para esclarecer a mensagem: qualquer membro da Aurora Dourada seria um alvo potencial a partir de então, não apenas aqueles que ocupavam cargos de responsabilidade. Os autores nunca foram identificados. Desde então, a sede da Aurora Dourada se converteram em fortalezas nas quais seus membros entraram, mas não os lugares que congregavam seus partidários.
E AGORA O QUÊ?
A dissolução da Aurora Dourada não significa o desaparecimento da extrema direita na Grécia. Um dos partidos históricos ultraconservadores, o LAOS, foi integrado à Nova Democracia e vários de seus líderes são ministros no novo governo.
O ministro da Agricultura, Makis Voridis, era o secretário geral da juventude do EPEN, partido fascista fundado pelo coronel Yorgos Papadópoulos após a ditadura militar. Voridis coincidiu lá com Nikos Mijaliliakos, líder da Aurora Dourada. Na foto mais conhecida de Voridis quando jovem, de 1985, ele carrega um machado durante um ataque de um esquadrão fascista contra estudantes de esquerda.
Adonis Yeoryiadis é outro dos ministros provenientes do LAOS. Em sua etapa anterior como ministro, durante os anos mais difíceis da crise, ele eliminou a universalidade da saúde pública e privou da mesma os 25% mais pobres da população.
Kyriakos Velopoulos também era um líder do LAOS. Em vez de ingressar na Nova Democracia, ele fundou o partido da Solução Grega. Ele é nacionalista, eurocético, pró-russo e próximo da Igreja Ortodoxa. Uma combinação extravagante, uma espécie de Salvini, se não fosse porque Salvini é um herege católico para os ortodoxos. Nas eleições parlamentares de 2019, a Solução Grega entrou no Conselho dos Helenos pela primeira vez com 3,7% dos votos e dez deputados.
Diante desse cenário, de elementos ultraconservadores no governo e do surgimento de um novo partido de fachada, há quem afirme que o desaparecimento de Aurora Dourada é uma simples transferência de votos, mas a extrema direita continua sendo o mesmo problema. É uma análise completamente errônea. Como repetimos, a Aurora Dourada não era um partido político ultraconservador, era uma organização paramilitar neonazista. Nesse sentido, nada tem a ver com a Solução Grega ou, por exemplo, com o Vox. Compreender as nuances e diferenças internas da extrema direita é fundamental. Sem uma análise rigorosa do neofascismo, qualquer estratégia antifascista será inútil.
O espaço ocupado pela Aurora Dourada está órfão. Hoje, não existe uma organização tão estruturada, tão extremista e tão conectada com o “Estado Profundo” como estava a Aurora Dourada. No curto prazo, no máximo, serão reforçados alguns dos grupelhos neofascistas cuja capacidade de atuação é limitada à realização de ataques menores ou ataques isolados.
Vitórias não caem do céu. Isso custou um esforço terrível e um preço brutal foi pago em termos de mortos, feridos e indiciados por enfrentar os nazistas. Devemos celebrá-lo como merece, porque um movimento que não reconhece ou celebra vitórias está destinado a derrota. Eles não passaram; não passarão.
[ATUALIZAÇÃO] Depois de ficar inativo por mais de um mês, o site oficial do AD ficou visível novamente desde a manhã de 18 de setembro de 2019.
Tradução > Liberto
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tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
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