Lições do anarquismo

Por Felipe Corrêa | 14/11/2019

Em 2019, celebram-se cem anos de fundação da Internacional Comunista ou, como ficou historicamente conhecida, Terceira Internacional. Essa experiência constitui parte de um quadro mais amplo da história transnacional dos movimentos de trabalhadores, que encontra no comunismo e na socialdemocracia parte de sua expressão.

Quando analisamos os esforços organizativos internacionais que foram levados a cabo, desde a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, ou Primeira Internacional, fundada em 1864), por outra corrente, bem menos conhecida, apesar de relevante – composta por anarquistas, anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionários – é possível não apenas entender de modo mais aprofundado essa história, mas também encontrar contribuições para uma necessária renovação de projeto político da esquerda brasileira.

Mesmo que a conjuntura brasileira esteja completamente conturbada, e em grande medida desfavorável, parece fundamental, paralelamente aos debates e lutas conjunturais, nos dedicarmos a repensar o projeto da esquerda no Brasil.

Penso que não será possível dar o devido combate à ascensão pública e organizada da extrema-direita e da direita neoliberais, e nem resolver problemas centrais da própria esquerda, reproduzindo aquilo que vem sendo feito nas últimas décadas. E, nessa rediscussão de projeto, creio que a história do anarquismo, do anarcossindicalismo e do sindicalismo revolucionário tem aportes significativos.

Uma dessas contribuições se colocou durante o debate, iniciado na Primeira Internacional, em 1868, acerca do papel dos partidos políticos e da conquista do poder político no projeto socialista. Estudando devidamente esse debate – que perdurou, na AIT, até o Congresso de Haia, em 1872, e que foi, infelizmente, bastante distorcido na historiografia – é possível dizer que ele contrapôs duas tendências, duas concepções socialismo.

De um lado, os centralistas (encabeçados por marxistas e socialdemocratas), que sustentavam como objetivos da AIT: “transformar a classe em partido da classe e conquistar o poder político”. De outro, os federalistas (encabeçados por anarquistas e sindicalistas revolucionários), que discordavam, pois entendiam como objetivos: “a articulação da classe numa organização classista e revolucionária de massas e a destruição do Estado”.

Gestados no seio da classe trabalhadora internacional, ambos os projetos se enfrentaram e – apesar das exegeses feitas na obra marxiana e dos estudos no campo do marxismo – representaram, pelo entendimento dos próprios agentes em disputa, duas estratégias distintas para o campo socialista. Qual seria a melhor maneira de promover o socialismo? E, para tanto, seria o Estado um instrumento útil ou mesmo desejável?

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