A existência do Estado enquanto poder de mediação e criador de regras para a convivência em sociedade é contestada por aqueles que defendem a teoria de que as organizações sociais podem conviver de forma independente, sem o estabelecimento de leis que punam determinadas posturas.
O anarquismo e sua utilização como solução para os dramas que o país vive foi objeto de estudo do professor de História do Colégio Pedro II Alexandre Samis no livro “Clevelândia – Anarquismo, sindicalismo e repressão política no Brasil”, lançado pela editora Imaginário.
Com surgimento na segunda metade do século XIX, a ideologia é vista por muitos como uma ruptura drástica demais. No entanto, o autor destacou que o anarquismo não se limita a determinados ideais, ele passa por atitudes que historicamente se configuraram como conquistas da população oprimida.
“Se não é uma saída para o país, e eu entendo que o projeto anarquista é internacionalista, não se restringiria ao Brasil, mas ele é no mínimo uma belíssima fonte de inspiração. Quando falo de inspiração, não me refiro apenas às ideias, estou falando também da ação dos anarquistas ao longo desses quase 200 anos. Não é apenas uma proposta, uma ideologia, é parte da história do conjunto do que chamaríamos de classe trabalhadora ou dos oprimidos”, lembrou.
O surgimento do anarquismo se deu no mesmo período do marxismo, na Europa. No entanto, as duas ideologias se confrontam no aspecto estratégico, conforme explicou o professor do Colégio Pedro II, na Associação Internacional dos Trabalhadores, posteriormente conhecida como Primeira Internacional.
“Para os marxistas, a estratégia geral era a constituição de partidos operários. Para os anarquistas, que entendiam que a questão de necessidade unificava e a política muitas vezes separava a classe trabalhadora, a estratégia geral era a organização de classes. Essas duas concepções, partido e organizações de classe, que chamaríamos posteriormente de sindicatos, vão se desenvolver e praticamente influenciar todo século XIX e o XX também”, disse.
A contenção da filosofia anarquista no país se deu no início do último século, ainda durante o período da chamada política do ‘café com leite’, quando gestores mineiros e paulistas se alternavam na Presidência da República.
“Houve, de certa forma, o ofuscamento do anarquismo. Eu nem diria que isso se relaciona com o triunfo propriamente do socialismo realmente existente, o socialismo real, mas se deve, em grande medida, ao que explico no meu livro. A chave para esse entendimento, pelo menos no que diz respeito ao Brasil, está nos anos 1920, quando a repressão política é minuciosamente articulada pelo governo Arthur Bernardes, que governou praticamente o tempo inteiro sob estado de sítio, onde a repressão recai principalmente sobre os anarquistas”, relatou Samis.
O lançamento do livro “Clevelândia – Anarquismo, sindicalismo e repressão política no Brasil” se dá nesta terça-feira (03), a partir das 12h30, na Praça das Bandeiras do Edise, edifício sede da Petrobras, no Centro do Rio.
>> Ouça a entrevista de Alexandre Samis:
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