Micro-entrevista com os organizadores da Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre (FLAPOA), que acontece neste final de semana, dia 7 e 8 de dezembro, no Largo dos Açorianos/Travessa dos Venezianos.
Agência de Notícias Anarquistas > Qual a expectativa para mais uma Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre? Qual a importância deste tipo de evento para este momento político que estamos vivendo?
FLAPOA < A feira do livro anarquista é importante sempre. Retomar esse evento após dois anos é um convite para nos encontrarmos, discutirmos e nos organizarmos diante deste cenário adverso e afiar posicionamentos e estratégias de luta. Não podemos nos omitir nesse contexto de avanço do fascismo que está acontecendo a nível global. Precisamos nos reunir, trocar ideia, debater no intuito de tornar a feira do livro um espaço de diálogo e solidariedade entre os diversos movimentos anarquistas e sociais desta região e para além. Também vemos necessário alinhavar as análises do contexto latino-americano, pensar coletivamente e encaminhar ações, não podemos nos estagnar diante da reação dos povos oprimidos. Que os eventos no Equador, Chile, Haiti, Bolívia, entre outros, sirvam de inspiração.
Pensando mais localmente, estão acontecendo, como era previsível, muitos “ataques” de parte dos governos (estaduais e federal) contra toda a população. Seja a cada vez maior naturalização das chacinas e agressões nas favelas, nos territórios indígenas, nos assentamentos do MST, seja os cortes de verbas das universidades, dos salários dos professores, a reforma da previdência até a militarização das escolas. Essas agressões por parte do Estado se articulam com megaprojetos de desenvolvimento na região, como por exemplo, o projeto da Mina Guaíba a cargo da empresa Copelmi, que visa a devastação de toda da fauna e flora da região, a contaminação das águas, além da expulsão de várias populações dos seus territórios. Acreditamos que não podemos ser indiferentes e inarticulados com os diversos movimentos sociais que se organizam para, de uma forma ou de outra, combater os avanços nefastos dessa política declaradamente fascista, racista e classista.
ANA > Como está a programação para este ano? Alguma coisa a destacar? Lançamentos…
A troca de ideias, saber o que estamos fazendo nos diversos lugares onde atuamos, será a principal missão dessa feira. Mas claro, teremos material sobre o contexto atual que vem sendo produzido quase em tempo real, escritos direto de compas que estão nas lutas pelo continente, muita produção independente e a cultura forte dos zines. Também daremos destaque às ações solidárias para compas desses frontes, uma delas será um flash tattoo no domingo, onde a grana arrecadada irá direto pro apoio às lutas.
ANA > Como vês e percebes o envolvimento da comunidade anarquista no evento?
FLAPOA < As mudanças políticas que vemos desde 2013, principalmente, afetam o movimento. Infelizmente, acreditamos que a perseguição contra os movimentos anarquistas, que aconteceu em 2017 através da “operação Erebo” tornou mais difícil a realização da feira do livro nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo em que entendemos os riscos, os de sempre e os relativos a esse contexto especifico, também reconhecemos a urgência de tomar posição e expor aquilo em que acreditamos. Paralelamente, é perceptível a presença de jovens interessados e envolvidos na construção da feira e do anarquismo na região. Nesse sentido, prezamos pela abertura para diversos setores da população, apontando o desejo de tentar romper o isolamento e nos aproximarmos das diversas lutas sociais com a ideia de não ficarmos presos em purezas ideológicas e sectarismos que nos levam a brigar entre nós muito mais do que reconhecer e apontar ao inimigo.
ANA > De cinco, dois anos para cá tem aumentado o lançamento de livros anarquistas no Brasil, não?
FLAPOA < Existem vários livros em curso de elaboração, sejam eles traduções ou produções independentes. Para além de livros, nesses dois últimos anos, temos visto surgir alguns zines e revistas, produzidos na região como a revista anárquica “Crônica Subversiva” que já tem publicado 4 números e a revista “Fagulha”, só para dar alguns exemplos. Estamos em um momento propício para a difusão de ideias libertárias, para fomentar mais autonomia. A feira abre espaço para uma maior divulgação dos materiais anarquistas e precisamos aproveitar mais esse panorama, com redes de colaboração para criar, editar e difundir tudo isso. Temos ótimos exemplos de compas que já fazem isso, como, por exemplo, a Monstro dos Mares.
ANA > Deixe uma mensagem aos nossos leitores e leitoras. Valeu!
FLAPOA < América Latina se agita em chamas. A terra dos mil povos, das mil histórias e das mil línguas, se nega a prescindir da sua dignidade. É uma triste realidade: Vivemos uma guerra desigual. Uma guerra ke não escolhemos, mas que nos é outorgada e ke se torna o caminho para sobreviver. Sobreviver econômica, social e culturalmente. Aki na pindorama, na terra dos mil nomes, não é diferente. Os processos de destruição da terra e dos seus “recursos humanos” e da vida como um todo, nos oferecem cada vez mais a garantia de colapso. Em meio a esses panoramas, dentro das dinâmicas da luta social: Quais são xs nossxs “sujeitxs revolucionarixs”? Qual o papel dxs anarquistxs na luta social?
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!