[Reino Unido] A revolução sem líderes | Análise

A revolução sem líderes (The Leaderless Revolution) de Carne Ross é refrescante, por causa de sua perspectiva atípica. A literatura anarquista contemporânea é frequentemente escrita por acadêmicos que estudaram teoria política, ou pelas pessoas da classe trabalhadora, que lutaram em uma sociedade capitalista neoliberal, e entendem a necessidade de mudança. Ross não é um desses; como ex-diplomata britânico, ele foi um oficial importante nas missões britânicas das Nações Unidas em Nova York nos acordos com o Iraque. Ele foi responsável pela política de armas de destruição em massa e das sanções pré-guerra. Ross afirma que a Grã-Bretanha e seus aliados sabiam que Saddam Hussein não possuía armas de destruição em massa (WMD) significativas. Portanto, as sanções e a subsequente invasão do Iraque foram injustificadas, e resultou em centenas de milhares de mortes desnecessárias de civis. Ao invés de criticar a estrutura (establishment), seus sistemas e instituições do lado de fora, Ross estava envolvido no funcionamento da máquina e decidiu que está quebrada.

Esse livro é para aqueles novos no anarquismo como teoria política, mas que estão insatisfeitos com o estado do mundo, e anseiam por algo melhor. A primeira reação de muitos anarquistas veteranos ao Carne Ross pode ser uma desconfiança – ele foi parte da estrutura (establishment), veste um terno, parece um funcionário público, e ainda está envolvido na diplomacia internacional, apesar de independentemente defender os grupos marginalizados. Contudo, o fato de ele ser um anarquista não-convencional, pode ser a maior força de Ross. Brexit e Trump foram indiscutivelmente um resultado das insatisfações das pessoas com os sistemas atuais, e um desejo por mudanças radicais. Greta Thunberg e a Rebelião de Extinção (Extinction Rebellion) tem envolvido uma grande gama de pessoas que normalmente não estão envolvidas em políticas radicais. Este parece um tempo potencialmente fértil para atrair pessoas para o anarquismo, e muitos podem ser mais facilmente recrutados para a causa por um bem falado e respeitado ex-diplomata, do que alguém de dreadlock com uma bandana preta no rosto. A experiência e antiga posição de Ross proporcionam para ele um ar de respeitabilidade e legitimidade que pode tornar suas mensagens mais palatáveis para muitas pessoas.

Ross evita exemplos estabelecidos de anarquismo em ação, como a Comuna de Paris ou a Guerra Civil Espanhola, apresentando exemplos mais contemporâneos, como a região autônoma de Rojava, no nordeste da Síria, a democracia participativa a nível municipal em Porto Alegre, no Brasil, ou até a capacidade das comunidades em responder às suas próprias necessidades após situações de emergência mais efetivamente do que as autoridades e instituições encarregadas de fazê-lo, como testemunhado após o furacão Katrina ou o incêndio na Torre de Grenfell.

Onde a visão de Ross de uma sociedade igualitária difere de muitos anarquistas é o seu comprometimento com a não-violência e sua sugestão de uma transição gradual para uma sociedade anarquista, em vez do pensamento revolucionário. A crença de que grandes instituições cooperativas de propriedade dos trabalhadores poderiam ser construídas dentro de um Estado capitalista e que elas seriam tão atrativas e produtivas que as alternativas capitalistas existentes iriam simplesmente desaparecer, demonstra ingenuidade da parte de Ross. Este livro é como uma droga de passagem, que, esperançosamente, irá levar as pessoas a procurar substâncias mais fortes no futuro.

Stuart Barton

Fonte: http://organisemagazine.org.uk/2019/10/26/the-leaderless-revolution-review/

Tradução > Brulego

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