Análise aponta presença de soda cáustica em água usada por polícia chilena

Uma análise encomendada pelo Movimento Saúde em Resistência (MRS) ao Colégio de Químicos Farmacêuticos e Bioquímicos do Chile revelou que a água usada pelos policiais na repressão dos protestos contém soda cáustica e elementos de gás de pimenta.

A soda cáustica é potencialmente letal e pode causar danos severos ao entrar em contato com a pele e os olhos, ou se for ingerida.

O estudo foi solicitado após a constatação do grande número de pacientes que apresentavam intensas queimaduras e reações alérgicas.

De acordo com a análise, o contato com soda cáustica pode causar inflamações nos pulmões, desmaios e queimaduras com bolhas e sangue nas fezes e em vômitos.

A substância também pode levar a cegueira – seu uso pode explicar o alto número de casos de pessoas que perderam a visão durante a onda de protestos que ocorre no país desde 18 de outubro. Estimativas recentes apontam que ao menos 350 manifestantes tiveram ferimentos nos olhos.

A análise relatou ainda a presença de Capsaicina, uma substância que compõe o gás de pimenta e que também estaria misturada à água. Segundo o relatório químico, ela pode causar irritação nos olhos e em membranas do corpo.

As amostras testadas foram coletadas em novembro por brigadistas voluntários e apresentaram pH igual a 12 em uma escala de 1 a 14, na qual 7 é neutro e 14 é o mais básico.

O ministro da Saúde, Jaime Mañalich, discordou do resultado da análise. Numa rede social, ele afirmou que o informe recebido pela pasta sobre o líquido usado pelos canhões de água não relata “presença de soda cáustica”.

Ao jornal La Tercera, a polícia chilena negou que o uso das substâncias esteja previsto em seus protocolos. “Não existe nenhuma forma de empregar esse produto no controle da ordem pública”, disse o general Jean Camus Dávila, diretor de logística.

Na última segunda (09/12), o Departamento de Direitos Humanos do Colégio Médico do Chile já havia alertado durante uma sessão da Comissão de Direitos Humanos do Senado para a possível existência de agentes químicos na água dos jatos utilizados pelos policiais para dispersar protestos.

A entidade mostrou aos senadores imagens de manifestantes com queimaduras vermelhas com bolhas, algumas em carne viva.

O MSR foi formado após o início das manifestações e tem entre seus membros estudantes da área de saúde, psicologia e direito de diversas universidades. Seu objetivo é “responder às violações de direitos humanos dos manifestantes, por meio da prestação de primeiros socorros e auxílio jurídico”, diz um comunicado do grupo.

A organização afirmou que o uso dessas substâncias ocorreu “em violação de todas as normas legais que regem o uso de recursos anti-distúrbios”.

Na quinta-feira (12/12), o alto comando da polícia anunciou mudanças nas regras de atuação de seus agentes após ser alvo de uma série de críticas e alegações de abusos pela defensoria pública local e por entidades chilenas e internacionais de direitos humanos.

A corporação afirmou que planeja reconsiderar o uso de caminhões blindados de grande porte, conhecidos como “guanacos”, que são usados para disparar canhões de água contra manifestantes, e também de veículos chamados de “zorrillos”, que pulverizam gás lacrimogêneo.

Um dia após o anúncio, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos denunciou casos de estupro, tortura e abusos cometidos tanto por policiais quanto pelas Forças Armadas do Chile nos protestos dos últimos meses.

Fonte: agências de notícias

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