[Santo André-SP] Comunicamos o fim da Casa da Lagartixa Preta!!!

É com muita tristeza que o coletivo Ativismo ABC vem a público comunicar o fim da Casa da Lagartixa Preta (2004 – 2020).

Nesta quinta-feira, 16 de janeiro de 2020, o contrato de locação do espaço foi encerrado junto à imobiliária Gualluzzi, em Santo André.

Sabemos que a Casa da Lagartixa Preta, localizada na Rua Alcides de Queirós 161 – B. Casa Branca, se tornou referência como espaço anarquista autogerido. Com mais de 15 anos, a infraestrutura conta com uma micro agrofloresta, composteira e círculo de bananeiras, tem um sistema de captação e armazenamento de água da chuva, um galpão com ferramentas para diversos tipos de trabalhos, uma biblioteca com títulos anarquistas, agroecológicos e variados, e um forno artesanal feito por bioconstrução há vários anos, em que milhares de pizzas veganas foram assadas, uma estante de dádivas onde se pode dar e receber objetos etc.. Ela acolheu inúmeras pessoas em situação de vulnerabilidade de moradia e eventos como oficinas, aulas, cursos (no último ano tivemos grupos de Inglês e Espanhol), debates, cines, feiras e festas gratuitas. Foi referência política contribuinte para formação de muitos jovens da região.

Porém, nos últimos 2 anos, especialmente diante da crise político-econômica que o país tem vivido, temos enfrentado problemas devido a diminuição do número de membrxs do coletivo e a desmobilização das pessoas remanescentes. Um espaço anarquista como esta casa necessita de pessoas com tempo livre, com o mínimo necessário para o transporte e outros custos pessoais para estar no local, e dispostas a fazer a gestão dele, com a manutenção da casa, da horta, das redes sociais, da comunicação com outros coletivos e arrecadação de recursos para o financiamento.

A situação foi se agravando ao longo do tempo. As pizzadas realizadas não foram suficientes para arrecadar o dinheiro necessário para os últimos pagamentos de contas de água, luz e aluguel e outros eventos foram empreendidos sem o mesmo sucesso, de modo que as reservas do coletivo chegaram ao fim ao final de 2019.

Diferente de espaços culturais que trabalham com a lógica do sistema, não temos pessoas remuneradas com a única finalidade de manter o espaço, todo trabalho aqui é voluntário. Entre as pessoas que ainda conseguiam estar presentes para gerir a casa, a maioria delas trabalha, estuda ou os dois, ou então está desempregada e com dificuldades, algumas dessas pessoas são mães com crianças pequenas e a maioria mora distante do local. Sem a disponibilidade dessas pessoas para a gestão do espaço, torna-se impossível organizar, divulgar eventos, fazer a manutenção necessária, responder todas as pessoas que se comunicam através das redes sociais e até mesmo manter o espaço aberto para visitação. O coletivo teve verba e energia para que a casa completasse 15 anos em março de 2019, com uma grande quantidade de atividades e eventos no que chamávamos de Março do Arregaço, que foi um dos últimos momentos de intensa atividade na casa.

Mas a gestão se tornou cada vez mais insustentável para o Ativismo ABC e entre o final de 2019 e o começo de 2020 já não havia mais vida coletiva no espaço.

Com os eventos organizados para a arrecadação de dinheiro, a participação na Feira Anarquista de São Paulo e uma generosa doação para cobertura do seguro fiança em caso de renovação do contrato, no mês de janeiro de 2020 o coletivo tinha em caixa o valor de R$ 3.609,00, que seria insuficiente para quitar os custos necessários para a renovação do contrato de aluguel, que totalizariam R$ 5.428,73.

O aluguel mensal tem o custo de R$ 1.145,45, e não conseguimos cobrir o mês de janeiro com a arrecadação dos eventos, portanto as pessoas locatárias do contrato atual notificaram a imobiliária da entrega de chaves iminente para o encerramento do contrato.

Para renovação do contrato seriam necessários locatários com renda mensal superior ao valor de 3 alugueis e pessoas amigas se dispuseram a ajudar neste sentido, mais o valor de um seguro fiança de R$ 2.834,00 (valor que foi calculado com base na renda destas pessoas) dada a impossibilidade de encontrar fiador, e ainda o valor referente aos dias em que o imóvel permanece ocupado (aproximadamente R$ 37/dia) até a “passagem de chaves” entre contratantes (já que os nomes dos contratantes mudariam). As contas de água e luz somam R$ 337,83, pois uma das contas de dezembro ficou atrasada, e a arrecadação do coletivo para o pagamento do aluguel em janeiro foi insuficiente. Desse modo, a doação que recebemos para o seguro fiança precisou ser usada para pagar as contas de aluguel. Diante desta situação, além da falta de verba para o seguro fiança, as pessoas amigas que se dispuseram a participar da renovação do contrato estariam se arriscando demais, e já não podem mais arcar com esta responsabilidade. E as pessoas que constam com o nome no contrato (algumas delas membros que batalharam pelo processo de renovação do contrato) correm o risco de ter de arcar elas mesas com as dívidas (porque, mesmo depois da notificação de entrega de chaves, os dias de aluguel seguem sendo cobrados até que a casa esteja vazia e arrumada para a imobiliária) diante das impossibilidades apresentadas pelo coletivo.

Dadas estas dificuldades, estamos aceitando doações. Contribuintes podem realizar o depósito na seguinte conta:

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (Cód.104)
Agência: 4714 Conta:00000378-8
Titular: Rodrigo Galindo
CPF: 406.188.068-30

A partir do dia 18 (este sábado) estará sendo realizada a desocupação da mobília. Precisamos de ajuda para fazer o carreto. Pessoas que estiverem interessadas podem entrar em contato, porque vários da casa não têm destino definido e necessitamos de braços. Aceitamos negociações sobre vendas de móveis e utensílios domésticos para arrecadar o dinheiro.

Coletivo Ativismo ABC

Quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

agência de notícias anarquistas-ana

Oh cruel vendaval!
Um bando de pequenos pardais
agarra-se à relva.

Buson