Por Ramón Mayrata
A incrível vida de Robert François, aliás Mystag, militante anarquista e mago especialista em “grandes ilusões”. Enquanto organizavam espetáculos de magia para financiar a causa anarquista, fazia parte do Comitê de Experimentação dos Fenômenos Paranormais
Mystag foi o nome artístico como mago do militante anarquista e livre pensador Robert François (1919-1988), que inspirou o personagem do ilusionista Corback na novela policial Belleville-Barcelone de Patrick Pécherot, publicada por Gallimard em sua famosa Série Noire. Também aparece no documentário de Agnès Varda Daguerréotypes (1975), no qual se descreve a vida cotidiana de um dia qualquer na rue Daguerre de Paris. Mystag faz um jogo com um periódico. Patrick Pécherot, por sua parte, evocou a Robert François “Mystag” nestes termos: “Todos os personagens de uma história não se tomam emprestados da memória. Por exemplo, nunca conheci, nem de perto ou nem de longe, a um faquir. Inventei um para minha novela Belleville-Barcelone porque a ideia parecia favorável a situações interessantes. No entanto, outro dos personagens da novela, o ilusionista Corback, tem sua história. Faz vários anos, durante uma visita ao Museu da Magia, em Blois, contemplei vários objetos de grande intensidade poética. Entre eles, um pôster que representava um ilusionista com o qual havia encontrado em círculos libertários: Mystag, o mago”.
“Mystag era um livre pensador que praticava as “grandes ilusões” clássicas do ilusionismo (a cesta hindu, a mulher serrada), desmitificando-as — afirma Patrick Pécherot em Verdades e mentiras da magia —. Em Blois exibiam o cartaz com o qual costumava anunciar seus espetáculos. Nele aparecia rodeado de chamas. Quando o vi, recordei algo que havia esquecido. Um detalhe terrível: Mystag morreu em um acidente de tráfico no qual seu automóvel se incendiou. De repente, as chamas no cartaz adquiriram um significado especial e premonitório. Nesse momento, decidi que um ilusionista apareceria em uma de minhas novelas”.
ANARQUISTA E MAGO
Estel Negre, por sua parte, nos oferece uma pequena biografia sua na qual podemos comprovar sua frenética atividade, implicação em atividades anarquistas e seu afã por levar a magia ao terreno da cultura popular:
Em 17 de setembro de 1919 nasce em La Rochelle (Poitou-Charentes, França) o ilusionista e propagandista anarquista, neomaltusiano, pacifista e livre pensador Robert François, mais conhecido sob o nome artístico de Mystag. De adolescente começou a fazer parte do movimento anarquista e quando tinha 18 anos se submeteu à vasectomia, no “assunto das esterilizações de Burdeos”. Foi em 1935, ano em que um grupo de quinze libertários se submeteram voluntariamente a uma vasectomia em Burdeos, realizada pelo doutor Norbert Bartosek com o apoio de destacados militantes anarquistas (André e Andrée Prévotel, Aristide Lapeyre, Louis Harel, etc.). Foi um ato de propaganda neomaltusiana; o caso, muito comentado na época, ficou conhecido como o “assunto das esterilizações de Burdeos” ou “assunto Bartosek”.
Durante estes anos aprendeu o ofício de barbeiro, profissão que praticou numerosos anos. Durante a II Guerra Mundial visitou Sébastien Faure em Royan (Poitou-Charentes, França) e lhe indicou que se tivesse que fazer uma nova edição de seu livro La doleur universelle, todo o capítulo dedicado ao neomaltusianismo deveria ser modificado. Depois da liberação estabeleceu contatos com os círculos anarquistas de sua região e organizou numerosas conferências na igreja desafetada El Oratoire, tanto da Federação Anarquista (FA), da Libre Pensée ou do grupo editor do periódico Ce Qu’il faut dire, publicado por Louis Louvet e Simone Larcher.
UM “COMITÊ DE EXPERIMENTAÇÃO DOS FENÔMENOS PARANORMAIS”
“Sua arte se baseava na razão e, em seus shows, denunciava os charlatães profissionais (magos, faquires, ocultistas, espiritistas, etc.) que pretendiam ter dons transcendentais ou sobrenaturais”
Em 1946 organizou uma turnê ao sudoeste, do compositor e interprete Raymond Asso. Depois se instalou em Paris, onde trabalhou de barbeiro, e se integrou na FA. Mais tarde empreendeu sua carreira de prestidigitador sob o nome artístico de Mystag e se converteu em um reconhecido ilusionista especializado em diferentes disciplinas (magia branca e de fogo, hipnose, telepatia, visões, etc.) e foi membro da Associação Francesa de Artistas Prestidigitadores (AFAP) e do Comité de Expertise et de Expérimentation Phenomena Paranormaux (CIEEPP, Comité de Peritaje e de Experimentación dos Fenómenos Paranormales) e secretário geral do Comitê de Defesa do Ilusionismo (CDI). Sua arte se baseava na razão e, em seus shows, denunciava os charlatães profissionais (magos, faquires, ocultistas, espiritistas, etc.) que pretendiam ter dons transcendentais ou sobrenaturais.
Durante estes anos colaborou em Le Libertaire e em La Entente Anarchiste, boletim editado em Le Mans entre 1952 e 1953 por Raymond Beaulaton, Jean Perrin e André Prudhommeaux e que agrupava os opositores a linha que Georges Fontenis marcava na FA e na Federação Comunista Libertária (FCL). Depois participou na reconstrução da FA em torno a Maurice Joyeux, exercendo diversos cargos, como o encarregado de controlar os comunicados e anúncios da redação de Le Monde Libertaire. Após o Congresso da Reconstituição, realizado entre 25 e 27 de dezembro de 1953, foi nomeado secretário de Relações Interiores, junto a Pierrette Martínez (Secretaria Geral), Maurice Lais (Relações Exteriores) e André Prudhommeaux (Relações Internacionais).
O CARRO INCENDIADO
No outono de 1952, junto a um grupo de companheiros (Pierre-Valentin Berthier, Charles-Auguste Bontemps, Louis Chauvet, Georges Glazer, René Guillot, Maurice Joyeux, Gérard de Lacaze Duthiers, Pierre Lentente, Louis Louvet, André Prudhommeaux e Georges Vincey ), criou o grupo anarquista de livre discussão “Centro de Recherches Philosociales” (Centro de Investigações Filosociais) que cada sábado organizava debates (Conferências “Défense de l’homme”) na Sala das Sociétés Savant de Paris. Foi o promotor da edição em fascículos do livro de Han Ryner El Église delante ses juges. Organizou numerosas galas e comícios para diversas organizações libertárias ou anarquizantes, especialmente a “Gala de Magia”, para arrecadar fundos para o periódico Liberté de Louis Leco.
Em 1965, com Charles-Auguste Bontemps e Alain Sargento, publicou o folheto El anarchisme et la science. Após a exclusão de Maurice Lais da FA e a criação da União dos Anarquistas (UA), foi nomeado secretário de Relações Exteriores no congresso de fundação desta nova organização realizado entre 17 e 18 de novembro de 1979. Também foi membro de outras organizações, tais como a Libre Pensée, a Unión Racionalista, a Unión Pacifista, Amis de Han Ryner e do Movimiento de Autogestión Distributiva.
Robert François morreu em 22 de agosto de 1988 em Puy-du-Lac (Poitou-Charentes, França) em um acidente automobilístico no qual seu carro se incendiou.
Fonte: http://www.agenteprovocador.es/publicaciones/mystag-el-mago-anarquista
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Bolhas de sabão
sopradas no ar da manhã
exalam arco-íris.
Ronaldo Bomfim
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!