Por Mensah M. Dean| 21/01/2020
Delbert Africa, um membro do MOVE de longa data, está impenitente quanto a sua participação em 1978 no confronto de Powelton Village entre o grupo e a polícia da Filadélfia, que deixou um policial morto e o levou a prisão por mais de 40 anos.
“Nada poderia ser feito de forma diferente para parar e interromper o ataque da polícia sobre nós. Não teria acabado”, Africa, 73, disse na terça-feira em sua primeira entrevista na Filadélfia desde que saiu em liberdade condicional da prisão estadual no sábado.
Um dos nove membros do MOVE presos no incidente de 1978, Africa disse que ele está ansioso para se reunir com os membros sobreviventes do MOVE que saíram antes em liberdade condicional, para continuar o trabalho de desafiar o que ele chamou de um sistema de justiça criminal injusto. O fato de que a prefeitura teve comissários de polícia afro-americanos durante o seu tempo na prisão, não tem nenhum impacto na desigualdade do sistema, disse ele.
“Eu quero continuar a pressionar toda a frente de combate a este sistema injusto. Eu quero continuar a pressioná-lo e fazer tudo que puder no meu tempo aqui, como prescrito pelos ensinamentos de John Africa. Continue trabalhando, fique em movimento”, disse Africa, que discursou sobre seus objetivos passados e futuros na coletiva de imprensa na terça-feira, na Livraria Kingsessing Branch, Oeste da Filadélfia.
No encontro, Africa, com seu rosto emoldurado por dreads e pelos faciais grisalhos, recebeu as boas-vindas de um herói dos membros do MOVE e apoiadores, que ouviram com uma atenção voraz enquanto ele relembrava o confronto de agosto com a polícia e relatava como ele foi xingado e violentamente espancado pelos policiais, após já ter se rendido.
“Estou inconsciente, e é quando um policial me puxou pelos cabelos pela rua, um policial começou a pular na minha cabeça, outro começou a chutar nas minhas costelas e me bater”, ele disse. “A desculpa deles depois era que pensavam que eu estava armado. Eu estava pelado da cintura para cima”.
Walter Palmer, um professor de História da Universidade da Pensilvânia que atuou como negociador-chefe para o MOVE durante o embate, disse que sua lembrança era de que os membros do MOVE não estavam em uma posição para terem atirado no policial.
“Este crime não foi um crime do MOVE. Foi um crime do Estado”, Palmer disse durante a coletiva de imprensa. “Por 40 anos, essas pessoas passaram suas vidas na prisão por um crime que não cometeram”.
Africa disse que ele não atirou durante o embate, mas foi sentenciado de 30 a 100 anos na prisão por conta da sua afiliação ao MOVE, na qual ele serviu como ministro de confronto e segurança. Os seus oito corréus receberam a mesma sentença, embora ele tenha dito que eles também não atiraram.
Ele disse que as décadas atrás das grades não o destruiu.
“Eu me tornei mais forte no encarceramento, por causa daquela força de Deus que me sustentou através dos anos, fortaleceu as minhas convicções e compreensão que este sistema é errado, injusto e racista”, ele disse. “E a forma de mudá-lo não é apenas apontando o dedo para você ou qualquer outra pessoa, mas apontar o dedo para mim mesmo”.
O MOVE foi criado em 1972 pelo nativo do Oeste da Filadélfia, Vincent Leaphart, que se autodenominou John Africa e pregava uma ideologia centrada em ideias revolucionárias negras e filosofias voltadas à natureza. As dezenas de membros consideram o MOVE sua religião, adotando crenças antitecnologia e antigovernamental, enquanto abordavam questões que iam da brutalidade policial até os direitos dos animais.
Em 1977, um grande júri federal indiciou 11 membros do MOVE na detonação de bombas, depois que um arsenal de armas, incluindo 49 bombas caseiras e peças, foram apreendidas do grupo. Um ano depois, a cidade criou uma ordem de despejo que mandou a polícia invadir a casa do MOVE, Powelton Village.
Bombeiros jorraram a casa com mangueiras de incêndio, e a polícia violentamente retirou as pessoas. No final, um tiro matou o policial James Ramp. Dezoito policiais e bombeiros foram feridos.
O MOVE sempre sustentou que a bala que matou Ramp foi acidentalmente disparada pela polícia.
Até 1980, o grupo tinha se realocado para o bloco 6200 na Avenida Osage. Vizinhos começaram a queixar-se a prefeitura sobre o lixo, discursos em alto-falantes e preocupações sobre negligência e abuso infantil na casa do MOVE.
Em 13 de maio de 1985, a prefeitura enviou um helicóptero em cima da casa do grupo e deixou uma bomba que matou 11 pessoas, incluindo John Africa, como também a filha de 13 anos de idade de Delbert Africa. A vizinhança ficou em ruínas, com 61 casas destruídas. Policiais da cidade foram considerados imprudentes, mas não foram apresentadas acusações.
Delbert Africa foi um dos nove membros do MOVE condenados a homicídio em terceiro grau pela morte de Ramp.
Janine, Janet e Eddie Africa foram liberados da prisão em 2019. Mike Africa Sr. e sua esposa, Debbie, foram soltos em 2018. Merle Africa morreu na prisão em março de 1998 e Phil Africa morreu na prisão em janeiro de 2015. Chuck Africa permanece preso [foi libertado recentemente].
Tradução > A Alquimista
Conteúdos relacionados:
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2020/02/05/eua-delbert-africa-livre/
agência de notícias anarquistas-ana
Sesta no jardim:
a borboleta me acorda.
Coça o meu nariz.
Anibal Beça
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!