Grécia, a fronteira da “Fortaleza Europa”, onde desde 28 de fevereiro de 2020 um “jogo” geopolítico brutal e desumano tem estado a decorrer. Por um lado Erdogan, presidente da Turquia, que levou dezenas de milhares de migrantes a acreditar que as fronteiras para a Europa, através da Grécia, estão abertas para elxs entrarem, para que a Turquia chantageasse a UE a dar apoio à sua campanha terrorista contra as e os curdos na Síria.
Por outro lado, a Grécia, que para que o governo de extrema direita extraísse dinheiro da União Europeia para prisões parecidas a campos de concentração de migrantes e para fins de defesa, fechou as fronteiras prendendo qualquer umx que conseguisse atravessá-las.
E na terra de ninguém, milhares de refugiadxs, usadxs como peões pelos governos e pela UE, sendo empurradxs pelas forças turcas que lançam granadas de gás lacrimogêneo e disparam balas de borracha contra o lado grego de Evros ao mesmo tempo que as forças gregas lançam também granadas de gás lacrimogêneo e usam canhões de água. Vários relatórios do lado turco dizem que migrantes foram mortxs por balas disparadas do lado grego, permanecendo desconhecido se é pelas forças armadas ou pelas milícias nacionalistas.
Grupos de justiceiros gregos em Evros estão a perambular livremente pelas fronteiras, aterrorizando e prendendo grupos de migrantes que conseguem encontrar um buraco na cerca, enquanto na ilha grega de Lesbos os grupos agem como uma máfia que estabeleceu pontos de controle nas margens e no centro da cidade de Mitilene (capital da ilha de Lesbos), agridem verbalmente todxs xs migrantes que chegam à costa grega em botes, atacam e aterrorizam voluntárixs ou trabalhadores de ONGs que ajudam migrantes, esmagam os seus carros ou agridem-nxs violentamente. Fascistas de vários países europeus voaram para a ilha de Lesbos para participar na multidão que ataca qualquer pessoa que não fale grego, migrantes, trabalhadorxs de ONGs ou turistas. Uma escola para crianças refugiadas também foi incendiada por esta máfia de direita. Turistas, voluntárixs e trabalhadorxs de ONGs estão a fugir da ilha de Lesbos porque não é seguro para quem quer que seja que não fala grego, exceto os fascistas e nacionalistas estrangeiros que ajudam as multidões de justiceiros.
E embora se possa pensar que estes atos desprezíveis não seriam tolerados pelo menos pela maioria das pessoas, o contrário acontece. Racistas, nacionalistas, conservadores, neoliberais, pessoas de direita, social-democratas e até alguns auto-proclamados esquerdistas uniram-se numa frente, apoiando estes atos ou fazendo vista grossa.
E quando se ouve a narrativa deles, de que os migrantes são invasores e não pessoas e que isto é uma guerra na Europa, é impossível não se lembrar de uma outra época em que as pessoas estavam a tratar xs outrxs como se fossem inferiores, como o inimigo e a aplaudir ataques a pessoas com base em características diferentes, a aplaudir a queima das escolas, lojas e livros do inimigo, riam-se com o gaseamento do “inimigo” e aplaudiam a morte do “outro” e então vem isto à memória:
“Primeiro eles perseguiram os comunistas, e eu não disse nada, porque não era comunista.
A seguir perseguiram os socialistas, e eu não disse nada, porque não era socialista.
Depois vieram atrás dos sindicalistas, e eu não disse nada, porque não era sindicalista.
Depois perseguiram os judeus, e eu não disse nada, porque eu não era judeu.
Depois vieram atrás de mim e não havia mais ninguém para me defender”.
No sábado, 7 de março de 2020, milhares de anarquistas, antiautoritárixs, antifascistas e pessoas solidárias em Atenas, na Grécia, fizeram exatamente isso. Elxs escolheram falar alto, em defesa da humanidade e contra o fascismo, em defesa de um mundo sem fronteiras, em defesa daquelxs que não têm voz, porque foi sufocada pelo gás lacrimogêneo, pelas armas e pelas cercas de arame farpado na margem da “Fortaleza Europa”.
>> Veja o vídeo (12:49) aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=9CxdXKOdCys&feature=emb_title
Tradução > Ananás
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!