Em três meses, o novo coronavírus estendeu-se por cerca de 170 países. No total, mais de 200.000 casos de COVID-19 foram confirmados, bem como 9.000 óbitos, segundo a OMS. Na origem desta crise sanitária é o capitalismo que está envolvido e, especialmente, a indústria da carne, que, além das condições sanitárias degradadas, induz desmatamentos. Esses últimos acabam por destruir o habitat de animais vetores de doenças. Todos esses fatores favorecem assim o contato de vírus diversos com as populações humanas. A organização atual da economia e do comércio acelerou a propagação do coronavírus em uma escala mundial. A concorrência e a corrida pelo lucro entre capitalistas retardam e limitam as medidas sanitárias em inúmeros países. E as consequências desta pandemia serão ainda mais dramáticas nas regiões dominadas economicamente.
Uma crise sanitária e econômica internacional
Na América Latina, o Uruguai tomou as primeiras medidas perante o vírus, desde 13 de março, decretando o fechamento de todas as suas fronteiras. 80 casos foram recenseados entre os 3,4 milhões de habitantes, uma quarentena foi estabelecida, controle policial foi anunciado. As escolas foram fechadas e as empresas têm, pouco a pouco, implementado as recomendações de segurança…
Na Argentina, desde o primeiro caso confirmado há menos de duas semanas, a pandemia estendeu-se a pouco menos de 100 casos recenseados. As escolas foram fechadas desde 16 de março e uma quarentena obrigatória acabou de ser decretada, de 20 de março até 1º de abril. Anunciada na noite do dia 19 de março e com efeito imediato a partir da meia-noite, a população teve muito pouco tempo para preparar-se. Uma implementação massiva das forças policiais do país incita o temor por uma explosão de violência policial nos bairros populares, sobretudo nas villas (favelas). As saídas estão autorizadas para se comprar o que comer nos supermercados, que continuam a funcionar, para ir à farmácia e para ajudar pessoas vulneráveis.
A questão que se levanta sobre a proteção de trabalhadoras e trabalhadores, o pagamento de seus salários, bem como o fechamento das empresas, é a seguinte: os empregados serão coagidos a trabalhar tendo suas vidas desprezadas assim como na Europa? Milhões de trabalhadores da economia popular estão fora da classe trabalhadora formal e não serão protegidos. Que será então dessas milhões de pessoas que não poderão sobreviver sem poder sair para trabalhar? Por causa de um acesso muito restrito à água, é temida uma crise de grandes proporções. Enquanto isso, a Argentina já vive também uma epidemia de dengue, concentrada principalmente nas favelas, onde se desenvolvem os mosquitos em razão das condições de insalubridade elevada. Tal epidemia inquieta menos o governo, atingindo de fato apenas os mais pobres.
O Brasil também sofre as consequências da irresponsabilidade de seu presidente de extrema-direita, dificultando todas as medidas sob o pretexto de que a pandemia seria mais devido a uma “histeria coletiva”. Apesar de tudo, o país começou tardiamente a seguir seus homólogos latino-americanos e decretou no dia 22 de março o fechamento de todas as suas fronteiras terrestres e a interdição da entrada de pessoas vindo de alguns países europeus e asiáticos. No Chile também, as medidas da classe política visam, antes de tudo, proteger mais os lucros que a população.
Na África, onde o primeiro caso de COVID-19 apareceu no Egito em fevereiro, preparam-se para o pior. Até o momento, fala-se em cerca de 640 casos distribuídos em 33 países, mas cuidadoras e cuidadores advertem que pouquíssimos testes foram feitos e que os números oficiais estão certamente abaixo da realidade. O continente africano sofreu ainda mais com a crise por causa da atitude e das políticas coloniais que visam tornar e manter dependente toda uma parcela de sua economia. As medidas tomadas pelos países europeus e os Estados Unidos em termos, por exemplo, de trocas comerciais têm, portanto, ainda mais impacto. No nível sanitário, a constatação é igualmente alarmante, com muitas zonas nas quais será muito difícil, até mesmo impossível, implementar ao menos as medidas básicas a fim de atenuar a propagação.
Resistência e organização entre aquelas e aqueles de baixo
No México, até o momento, o governo tenta impedir uma implementação rápida das medidas necessárias. As comunidades zapatistas decidiram por medidas de urgência “considerando a irresponsabilidade frívola e a falta de seriedade dos infames governos e da classe política em sua totalidade, que utilizam um problema humanitário para atacarem-se mutuamente, em vez de tomar as medidas necessárias para afrontar esse perigo que ameaça a vida sem distinção […] assim como a ausência de um legítimo plano para afrontar a ameaça”. O alerta vermelho foi, portanto, declarado nos “caracoles“, que serão fechados até nova ordem.
Os EUA, sofrendo os suplícios de Donald Trump, não escaparam de uma tentativa de minimizar a magnitude dos riscos. Medidas de quarentena lá também tiveram início e a solidariedade e a resistência se organizam, especialmente com um apelo a uma greve dos locatários que começa a tomar alguma amplitude. Lá também depararam-se com a lentidão na resposta à crise, que ameaça causar grandes estragos, ainda mais porque o sistema de saúde ultraliberal não autorizará as classes populares a serem tratadas corretamente e a receberem os cuidados necessários.
Embora agora o isolamento seja total na Itália, país que conta o maior número de mortes, as empresas que não eram absolutamente necessárias para impedir a epidemia continuaram produzindo até o dia 22 de março. No entanto, como as greves multiplicaram-se, o governo foi compelido a suspender (até 3 de abril, por enquanto) todas as atividades não-essenciais. Foram as trabalhadoras e os trabalhadores que impuseram as medidas necessárias aos capitalistas e ao Estado. Em Portugal, o governo de esquerda tomou a dianteira suspendendo totalmente o direito de greve.
Em todo lugar, a crise sanitária está extremamente preocupante para as pessoas abaixo na pirâmide social. Os capitalistas e seus serviçais políticos colocam-nos em perigo em benefício dos lucros (enquanto eles estão abrigados), não tomam medidas sociais e até mesmo questionam os direitos sociais para tentar, custe o que custar, reencaminhar-nos ao trabalho, ou impedir-nos pura e simplesmente de abandoná-lo. A solução virá apenas de nossa solidariedade e de nossa auto-organização para resistir. É necessário manter-se em contato, trocar nossas experiências e nossas resistências para manter vivo nosso internacionalismo.
Union Communiste Libertaire
Domingo, 22 de março de 2020
Tradução > Dienah Gurhühor
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Olho o jardim da mamãe
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Alisson de Matos – 06 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!