[EUA] A experiência de um prisioneiro anarquista durante o COVID-19

Prisioneiros federais que são transferidos através da rota “con air” de Oklahoma City geralmente passam um curto período de tempo no Centro Federal de Transito de Oklahoma City, mas como este está temporariamente fechado devido ao COVID-19, toda a gente que chega nos aviões está a ficar temporariamente na prisão local de Grady County. Como o Departamento Federal de Prisões instituiu um confinamento nacional, eles estão agora a dizer-nos que nenhum avião vai decolar, deixando várias centenas de nós presos nesta cadeia irregular onde as condições são abismais e lamentavelmente inadequadas para lidar com a pandemia do coronavírus.

As condições nas prisões municipais são muitas vezes escandalosas e é particularmente grave aqui em Grady County. Eles tratam-nos como animais de jardim zoológico, amontoando-nos em dormitórios sujos sem ar ou luz solar. Estamos empilhados em beliches triplos, somos trinta pessoas num dormitório de 161 metros quadrados, sendo concedidos apenas 2,60 metros quadrados por pessoa, não incluindo as duas casas de banho e chuveiro. A comida é de uma qualidade terrível e é pouca quantidade, muitas vezes servida fria: sanduíches todos os dias, sem fruta e sem opções vegetarianas. Não há livros para ler, nem rádio para ouvir nem programação educativa ou religiosa, deixando-nos sem nada para fazer.

Eles justificam estas condições severas dizendo que normalmente não passamos mais de uma ou duas semanas aqui até o nosso voo partir. Mas tendo em conta que estamos presos aqui por causa da pandemia do COVID-19, há uma necessidade desesperada de mudanças. Perguntei sobre a regra de distanciamento social de 1,80m e enviei pedidos a dizer que precisamos de máscaras, luvas de látex e desinfetante. Apesar da Agência de Controle de Comida e Medicamentos e dos Centros de Controlo de Doenças recomendarem desinfetante para mãos que contenha pelo menos 60% de álcool para matar o vírus, visto que a lavagem das mãos não é uma alternativa viável, e o CCD agora recomenda o uso de máscaras faciais para ajudar a diminuir a propagação do vírus, os funcionários não nos dão qualquer desinfetante para as mãos porque dizem que nós “abusaríamos” e, quanto ao resto dos itens, eles apenas dizem: “Nós não temos esses itens. A regra do 1,80m não se aplica à prisão”.

O município de Grady declarou publicamente que não há casos confirmados de COVID-19, no entanto, quando questionados, eles admitiram que só fizeram um teste. Eles dizem que “rastreiam toda gente”, mas, na verdade, tudo o que eles fizeram foi medir a nossa temperatura à chegada. Eles constantemente trocam pessoas de unidade, nunca deixando que uma unidade não esteja cheia até à capacidade máxima, aumentando a possibilidade de contaminação cruzada.

Quando fui transferido para outra unidade, havia várias pessoas visivelmente doentes, a tossir e a espirrar. Dentro de dois dias, quase todas as trinta pessoas da nossa unidade — incluindo eu — ficaram doentes. Todos os dias várias pessoas declaram estar doentes, a um custo de 8 dólares por visita, e é-lhes apenas dado Mucinex e anti-histamínicos. Dizem-nos que ou são alergias ou gripe comum e que eles não fazem testes de COVID-19 a menos que haja fortes sintomas de tosse seca e febre. E mesmo nessas condições, teríamos que pagar o teste nós mesmos. Eles fizeram a piada de que todo o quarto andar (oito unidades de trinta pessoas) têm gripe e embora seja provável que o que a nossa unidade tem seja apenas uma gripe comum, é alarmante o quão rapidamente e completamente se espalhou por causa da nossa proximidade e da falta de saneamento. Se o vírus entrar aqui, não teremos chance.

A severidade geral da prisão só agrava o potencial para o desastre. Recebemos dois conjuntos de roupas à entrada e eles só lavam uma vez por semana um conjunto de roupas. As roupas estão todas usadas e sujas, voltando da lavandaria com um cheiro terrível. Os cobertores e as toalhas estão cobertos com pequenos pelos. Lavamos as nossas roupas no chuveiro e na pia e penduramo-las para secar nos nossos beliches e varais que estendemos em todo o lado. Todas as manhãs, os polícias gritam conosco para os retirarmos, como se não tivessem  nada mais importante para fazer e recusam-se a ligar a televisão até o fazermos. A prisão não lava os colchões até os reenviar para novos prisioneiros; as e os trabalhadores da cozinha não usam redes de cabelo nem protetores de barba ao servir as nossas refeições e têm sido repetidamente observados a espirrar e a assoar os seus narizes. Os canos muitas vezes entopem; apenas um chuveiro funciona, só sai água a escaldar e a drenagem está estragada portanto fica água estagnada. O teto deixa passar água quando chove lá fora, pingando nas mesas e cadeiras da sala. Eles têm o ar condicionado ligado (mesmo quando estavam 0 graus no exterior) talvez pensando que iria abrandar a propagação de doenças. Eles não vendem multivitamínicos, deixando-nos sem nutrição adequada para fortalecer os nossos sistemas imunológicos.

A situação é agravada pela incerteza relativamente a quanto tempo vamos definhar aqui no limbo de trânsito. Não temos acesso a conselheiros, gerentes de casos, administradores ou qualquer pessoa do Gabinete das Prisões para responder a quaisquer perguntas ou lidar com as  libertações de pessoas ou com a elegibilidade para confinamento doméstico antecipado que se segue devido ao CARES ACT [saúde acessível].

Sabemos que este é um momento difícil para todos, mas a vida dos prisioneiros não deve ser menos prioritária do que a vida daqueles que estão em liberdade. Alguns especularam, ignorantemente, que estamos de alguma forma mais seguros da pandemia porque estamos fechados, mas considerando os aposentos fechados e as condições nada higiênicas, corremos na verdade um risco acrescido e não temos qualquer controle direto sobre o nosso destino. Todos nós preferimos arriscar lá fora do que ficar vulneráveis nestas gulags. Apesar das nossas condenações criminais, merecemos ser tratados como seres humanos e não devemos ser submetidos a negligência criminosa e a punições cruéis e extraordinárias.

Sabemos que muitos países do mundo, como o Irã, a França e o Reino Unido, começaram a libertar prisioneiros em massa. Considerando o surto de COVID-19 em várias prisões federais dos EUA, com a taxa de infecção e mortalidade a subir diariamente, os EUA precisam começar a fazer algo para lidar com essas condições hediondas e começar a libertar-nos imediatamente!

Jeremy Hammond

freejeremy.net

Tradução > Ananás

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agência de notícias anarquistas-ana

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