45 dias de norte: dois punks brasileiros sem dinheiro pela Europa – dia 23, dia 22 e dia 21

Dia 23 – Uma cidade tomada pelo A

O Manuel realmente tem um gosto bom pra música. Acordamos escutando o vinil split do Leatherface com o Hot Water Music. Davi iria curtir. O gosto do Manuel e o jeito dele me fazem lembrar o João Branco, do Ordinaria Hit. Até no jeito de jogar bola se parecem. Como tínhamos que estar em Munique pra carona às 14h, tomamos café e saímos atrasados pra pegar o trem barato que nos deixaria no destino às 13h15.

Na estação, enquanto eu tirava dinheiro, Allan e Manuel deram sorte e encontraram três caras que iam pra Munique naquele trem e tinham um ticket válido pra 5 pessoas. Custava 40 euros, então saiu 8 euros pra cada um. Lindo! Antes de partirmos, Manuel disse que ele e Patrick, do Kampferde Hertzen, time que nos eliminou em 2010[1], estão sem time pra jogar e querem jogar conosco. Ótimos reforços. No trem, dormimos até chegar em Munique, com pouca interação com os caras – eram dois afegães e um alemão. A cabine, de segunda classe, era ótima.

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Dia 22 – Cervejas bávaras e futebol

Tomamos um café da manha saudável enquanto pensamos em idéias pra organizar a nossa casa ao voltar pro Brasil. Era o dia do futebol que o Manuel tinha organizado, no fim da tarde. A vida tranquila de Regensburg era contagiante e eu não conseguia nem pensar em terminar meu trampo, que tinha que entregar dali três dias. Allan e Manuel cozinharam um prato húngaro pro futebol do fim da tarde – chama goulash o prato – e a gente ainda jogou com a Mina e a Nicole um jogo de tabuleiro que é metade War, metade SuperTrunfo. Pra criança, comparando animais do mundo todo. Bem legal. A Mina ganhou no final.

Almoçamos também goulash e eu aproveitei pra costurar o fecho novo da minha pochete. As aulas de costura na infância, pra controlar a ansiedade, e a vida punk ajudaram a não esquecer como costura. Ficou torto mas funciona, então tá valendo. Antes de sair, ainda aparei o bigode, que tava quase entrando na boca, e tomei bastante água (acho que a sauna desidratou um pouco; aliás, eu ENGORDEI[1] na Europa, uns 2 quilos), que a Nicole serve numa garrafa com pedras dentro pra energizar. A Nicole, que aparenta ser mais velha que o Manuel (ele tem 34 anos), pareceu o tempo todo meio cansada, desanimada. Manuel disse depois que ela tava estressada do trampo, mas acho que a gravidez ajuda a cansar também. Ela não interagiu muito conosco, sempre esteve meio distante.

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Dia 21 – Finalmente pelados na Europa

A cidade de Regensburg é bastante antiga e atravessada pelo rio Donau, segundo maior da Alemanha depois do Elba. Com suas ruelas tombadas pela Unesco, e por ser a cidade de origem do papa atual[1] (o irmão dele ainda tem negócios na cidade), recebe bastante turismo. Quando saímos da casa de Manuel com a namorada dele, Nicole, e sua filha, Mina, pra ir até o centro (eles iam ao médico fazer ultrassom, descobririam o sexo do filho deles, Nicole está grávida de 5 meses), fomos preparados pra dar uma volta e conhecer isso tudo um pouco. Manuel nos contou que Regensburg estava na “rota do sal”, com os navios passando pelo Donau, e por isso se tornou importante e conseguiu dinheiro. A cidade tem cerca de 1500 anos.

Antes de nos separarmos deles, deu pra perceber muitas bandeiras e negócios turcos e tailandeses. Eles se foram com Mina, que estuda numa escola montessoriana, e nós demos uma volta pela cidade. Tínhamos uma hora e um mapa. Visitamos uma ponte que atravessa o Donau e foi construída em 1200 e bolinha, conhecemos uma área verde e entramos na Regensburg Dome, imponente igreja ao estilo gótico no centro da cidade. Por conta dos mercadores de sal, Regensburg teve bastante imigração italiana, e dava pra notar isso na arquitetura. Vimos também uns stickers da Red Generation, torcida do time da cidade, o Jahn Regensburg.

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agência de notícias anarquistas-ana

O tempo virou
Apressam o passo as saúvas
Onde o guarda-chuva?

Chico Pascoal