Esse manifesto surge das vísceras, das náuseas, da indignação diante de uma pandemia que mais uma vez evidencia a vulnerabilidade, a desigualdade e o conflito que esse sistema capitalista-patriarcal-homofóbico-especista-capacitista… tem com a vida.
Não vamos esquecer que a seleção natural de quem deve morrer ou viver por causa da COVID-19 não só foi realizada pela natureza, como também foi definida e ditada pelos diferentes governos, pois não garante a vida de todxs: nem todxs puderam ficar em casa e nem todxs tiveram acesso a respiradores ou medicamentos específicos nos hospitais. Não vamos esquecer que as mortes nas residências, nas prisões ou nos hospitais são consequências de um modelo que privilegia os lucros contra a sustentabilidade da vida.
Toda essa situação mostra duas coisas: primeiro, a incapacidade daqueles que nos governam de cobrir as necessidades básicas, especialmente das pessoas mais vulneráveis e, segundo, a capacidade de auto-organização, criação e imaginação que alguns coletivos começaram a tecer em redes de apoio mútuo nos bairros de algumas cidades (distribuição de alimentos, ajuda nas compras dos idosos para que não rompam o confinamento, apoio aos presos, realocação em apartamentos para mulheres maltratadas, etc.) para tentar dar força às pessoas mais vulneráveis. Temos medo, mas também sabemos que podemos transformá-lo em um desejo de resistir à injustiça e de construir recursos para a ação com base no que temos ao nosso redor e em nossas realidades diárias. Feminismos, okupas, coletivos anticapitalistas ou ambientalistas já foram exemplo de uma prática social transformadora e radical com lutas locais e, no entanto, globais em sua inspiração e abrangência.
Vamos buscar o poder de agir, mas não guiadxs por uma globalidade abstrata, mas por ações concretas em situações que possam reverter a um bem-estar comum. Vamos formar grupos de mulheres que estão na linha de frente dos setores essenciais sem distinção de categorias ou qualificações, grupos de mulheres e mistos nas vizinhanças e nos bairros, vamos defender nossas liberdades precárias não deixando que nos tirem nossa frágil privacidade e anonimato, não deixemos que nos monitorem com a isca da saúde, devemos organizar a autodefesa digital. Vamos coletivizar e reorganizar nossas vidas.
Este manifesto pretende ser um revulsivo para despertar nossa consciência, para estimular nossa capacidade crítica, um revulsivo contra a obediência, contra a servidão voluntária como ato de fé. Vamos organizar espaços seguros com garantias sanitárias, vamos reivindicar a rua como um espaço antiautoritário de protesto e rebelião contra os ultrajes e restrições dos governos. Em suma, vamos construir modelos diferentes, diversos e inclusivos para todxs, fora da lógica da acumulação, de qualquer tutela ou opressão.
NÃO PODEMOS VOLTAR À NORMALIDADE,
PORQUE A NORMALIDADE ERA O PROBLEMA
REDES, 24 de Abril de 2020
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Fonte: http://redescordialidad08.blogspot.com/2020/04/manifiesto-desde-las-visceras.html
Tradução > Liberto
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agência de notícias anarquistas-ana
folhas voando —
minha avó sempre fazia
previsões de chuvas
Rosa S. Clement
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!