“O dia em que a terra parou?”

Por Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira

Pela internet circulam agora alguns memes e comentários associando os cenários sociais produzidos pelos decretos de quarentena que estão sendo baixados em vários países mundo afora com o cenário pintado ainda nos anos 1970 pelo cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, em sua composição intitulada “O dia em que a terra parou”.

Só que “O dia em que a terra parou”, de Raul, sendo uma obra de um artista declaradamente anarquista, trata-se de uma visão de uma greve geral de sabotagem contra “o monstro Sist.(ema)”, e essa paralisação de agora trata-se de uma imposição dos governos, como mecanismo de teste de sistemas militares de controle social sobre as populações do planeta.

Oxalá a terra venha a parar realmente por causa do prenúncio de um movimento mundializado de solapamento das bases do sistema globalizado, e não por causa do medo e subserviência dxs de baixo a seus mecanismos de terrorismo de Estado, como agora.

Sobrevindo esse dia, aí sim, poderemos cantar: “e o guarda não saiu para prender, pois sabia que o ladrão, também não tava lá; e o ladrão não saiu para roubar, pois sabia que não ia ter onde gastar”.

Porque, afinal, como ficou demonstrado na prática durante a Revolução Espanhola autogestionária de 36, numa sociedade sem propriedade e sem o uso do “meio circulante” – com livre acesso às riquezas, desaparecerá a necessidade fundamental na base da existência das polícias (asseguradoras dos privilégios dxs proprietárixs contra a insatisfação dxs despossuídxs), bem como desaparecerá a necessidade do uso da violência por parte dxs despossuídxs para garantirem o acesso mínimo aos bens e serviços de que necessitam, dos quais são alijadxs simplesmente por não terem acesso ao “meio circulante”.

É, “esta noite, eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou, acordei”.

agência de notícias anarquistas-ana

Manchas de tarde
na água. E um vôo branco
transborda a paisagem.

Yeda Prates Bernis