[Portugal] Novas notas para a compreensão do atual estado de emergência

Regresso a duas noções do meu texto anterior¹ – o bioterror e o ecofascismo – para melhor as esclarecer no seguimento das várias intervenções mais recentes e das interpelações feitas. Este é um diálogo em que nenhum de nós pode ter a certeza de estar certo nos termos que usa, nas indicações que dá e nas posições que defende. Tem porém a vantagem de ser um diálogo autêntico e um esforço em compreender o que se está a passar sem estar refém de pressas, de interesses de audiência e de doutrina feita. Acredito por isso que alguma coisa de interessante e de promissor para o entendimento do presente está a ficar desta troca de ideias.

O bioterror parece-me uma noção capaz de se adaptar ao atual estado de coisas e de o traduzir com alguma segurança. A noção pode ser vista no seguimento da terminologia de Foucault sobre biopoder, quer dizer a prática governamental, de controlar os corpos e regular as populações. Alguma da moderna política de saúde pública que tem sido seguida nas sociedades ocidentais, sobretudo no campo das doenças mentais, é exemplo disso. A evolução farmacológica da psiquiatria mostra com alguma certeza que a regulação pública no domínio da saúde pode degenerar em situações localizadas de terror que podiam ser evitadas. Mas as opções da agroindústria são também um exemplo de como políticas públicas mundiais podem estar na origem de catástrofes biológicas.

A situação atual é distinta, pois resulta dum vírus exterior e afeta não apenas um indivíduo, ou mesmo uma minoria, os loucos por exemplo, mas toda a comunidade humana. Nesse sentido, podíamos de fato deixar de lado a noção de bioterror – tomando-a aqui como uma das consequências mais perniciosas do poder de regular a saúde dos corpos. De fato, “a pandemia atual, tal como é noticiada, é já suficientemente intimidatória para dispensar outros qualificativos” – nas palavras do João Freire.

O problema está em que este vírus não é tão exterior quanto isso. Deixando de lado as teorias que o dão por fabricado por Chineses ou por Americanos – e assim fiz no meu primeiro texto, por achar que não temos o distanciamento bastante para fazer a história do vírus – temos todas as razões para pensar que um vírus com tais características, embora não fabricado em laboratório humano, se deve a fatores humanos. As atividades humanas alteraram o meio natural de tal modo que uma nova idade geológica começou há cerca de dois séculos com a revolução industrial. No Antropoceno o principal fator de modelação natural é humano e não há nesta nova idade geológica qualquer grande fato natural que não possa ser relacionado com atividades humanas.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://aideiablog.wordpress.com/2020/04/24/novas-notas-para-a-compreensao-do-actual-estado-de-emergencia/

[1] https://aideiablog.wordpress.com/2020/04/01/notas-para-a-compreensao-do-actual-estado-de-emergencia-i/

agência de notícias anarquistas-ana

Patos selvagens.
Por que iriam dois para o norte
E dois para o sul?

Paulo Franchetti