Para exigir documentos para todos agora e para todos os que chegarem, a destruição de centros de detenção, o fim dos foyers-prisões, e casas decentes para todos. Contra o racismo e a exploração. Pela nossa dignidade e liberdade. Nem rua nem prisão, documentos e liberdade! O medo mudou de lado, os Gilets Noirs (Coletes Negros) estão aqui!
A pandemia da Covid-19 e o confinamento tal como foi implementado pelo governo servem para atacar ainda mais os albergues de imigrantes. Nós perdemos nossos trabalhos do dia para a noite. A polícia nos assedia e ameaça onde moramos. Somos ameaçados de despejo pelos dirigentes Adama, Coallia, Adef que se aproveitam da situação para expulsar os sans-papier [“ilegais”, sem documentos] de suas casas.
Pressionados pelos Gilets Noirs, muitos foyers organizam uma luta corpo-a-corpo contra os dirigentes: recusam o pagamento do aluguel nessas condições de exploração, cartas coletivas, operações “portas abertas” expulsando os donos. Nós não pagaremos para preparar a destruição da vida coletiva nas residências comunitárias, mas sim iremos continuar nossa luta para [obter] documentos e uma vida digna.
Desde novembro de 2018, nós, os Gilets Noirs, imigrantes com ou sem documentos, homens e mulheres e locatários da rua, lutamos contra o Estado e seus cúmplices. Exigimos documentos para todos/as, sem restrições. Não importa se estamos aqui há um dia ou dez anos, se trabalhamos ou não. Esse documento que nos é negado é o da dignidade e nós atacaremos o Estado francês e todos os seus cúmplices para consegui-lo. Não queremos somente os documentos, mas também quebrar o sistema que criou os ilegais. Todos os dias discutimos como melhorar nossa vida, se defender da polícia, do CRA (Centro de Detenção Administrativa), dos patrões, de resistir a prefeitura. Mas os documentos virão por meio da luta! E a luta não é somente pelos documentos: o que você ainda não viu é a luta que vai te mostrar!
Manifestamos em frente o museu da imigração, em frente do CRA de Mesnil-Amelot, ocupamos a Comédie Française, bloqueamos a prefeitura de Paris, ocupamos o aeroporto de Roissy onde a Air France deporta os imigrantes. Atacamos a sede da empresa Elior que ganha dinheiro graças ao esforço dos sem documentos, e reunimos 600 no Panthéon. Para exigir os documentos e uma reunião com o Primeiro Ministro, para questionar os “grandes homens” e para honrar nossos mortos no Mediterrâneo e no deserto que não tem sepultura.
Contra a Covid-19 e seus cúmplices, autodefesa sanitária!
Desde que a Covid-19 chegou na França, estamos lutando contra o vírus, mas são o Estado e os dirigentes que apodrecem nossas vidas. Vivemos em residências comunitárias como em prisões. Os foyers, gerenciados pelas associações “dirigentes” (como Adoma, Coallia, ADEF) foram construídos para alojar os trabalhadores imigrantes. Há muitos anos, os dirigentes querem destruir a organização de nossas vidas coletivas de imigrantes explorados. Eles constroem residências “sociais” que nos trancam em quartos-celas, sem espaços coletivos. É nossa solidariedade e luta que eles sufocam. Temos que ficar sozinhos, sem família, na esperança de não morrer antes de [tirar] o titre de séjour (autorização de estadia) que talvez pode nos permitir de enterrar nossos mortos no país ou de ver o nascimento de nossas crianças. Nessas residências vivemos com irmãos que possuem os documentos. Mas os foyers são nossos locais de vida política.
No começo do confinamento, os dirigentes fugiram de suas responsabilidades: sem instruções, sem limpeza, sem apoio. Eles colam pôsteres nos muros dos foyers em francês e fecham as salas de oração e reunião. Eles não limpam porque “o alvejante é muito caro”. A única presença dos dirigentes é vir e recolher os aluguéis. O Estado francês de mãos dadas com os patrões nos faz trabalhar em canteiros de obras, em cantinas, à limpar todo o país. Sem documentos estamos à mercê de comerciantes do sono e da superexploração. Temos que trabalhar em segredo. No confinamento estamos sem nada. Sem emprego não há dinheiro para o aluguel, para a família ou para comida. Os dirigentes querem nosso dinheiro, mas temos que comer e cuidar de nós mesmos!
Depois de algumas semanas, sob a pressão das prefeituras e daqueles que não deveriam gritar com os lobos que os foyers são “bombas sanitárias”, os dirigentes foram em alguns foyers. Mas sabemos quem é quem. Supostamente para verificar as regras do confinamento enquanto sabem da situação que vivemos, eles tentam separar os pais dos filhos. Eles mentem, ameaçam cortar a água e a eletricidade, simulam visitas. Na frente de alguns foyers, são os policiais que ameaçam. O Estado não quer evitar a doença, os dirigentes também não. Eles nos querem mortos e querem o nosso dinheiro.
Não esperamos a repressão sanitária para se organizar e se defender. Organizamos uma vaquinha e uma rede para abastecer as famílias e se proteger da doença. Com a ajuda dos nossos camaradas das Brigadas Populares de Solidariedade que ajudam essa auto-organização, estamos indo até os foyers para distribuir material. Eles não se importam conosco: nós mesmos nos protegemos! Nos foyers temos a cultura da solidariedade. Nós mesmos organizamos a limpeza e a desinfecção. Os irmãos mais novos fazem as compras para os mais velhos. Fazemos esta missão para nossos camaradas, irmãos, irmãs, crianças e velhos, porque ninguém fará de outra maneira.
Lutar pela nossa dignidade, pela vida coletiva, para conseguir os documentos
Nos defendemos para não nos esconder. Mas não queremos uma regularização como em Portugal, por alguns meses, somente para alguns que têm sua documentação na prefeitura ou para aqueles que não tem antecedentes criminais ou não são ameaçados de deportação. Não queremos uma regularização como na Itália, oferecendo nossos corpos para que os países europeus fiquem livres. Trabalhar para [obter] documentos, é uma chantagem escravista. Não queremos documentos por uma razão de “saúde pública” ou por “eficácia econômica”. Nossas almas são sacrificadas por esse documento. Somos humanos, nossos direitos deveriam ser ouvidos. Devemos trocar nossas almas pela indústria ou pela economia de outras pessoas? É uma falta de respeito pelos imigrantes. É um insulto.
Queremos que todos os imigrantes, com ou sem documentos, se juntem a nós. Porque o que sofremos, os imigrantes com documentos foram vítimas e serão também. Os imigrantes e todos os explorados do mundo devem se juntar a nós, imigrantes sem documentos. Nós não somos inimigos. A França quer dividir entre os que são regularizados e os que não são. Aqui moramos juntos: o foyer é a família, é o seu pai. Eles chamam os sem documentos de “ocupantes em excesso” e nossos irmãos regularizados de “residentes”. Agora é a hora de defender nossa vida coletiva, esta é a nossa luta. Os residentes com documentos nunca serão livres até que seus filhos também sejam “regularizados”.
Os documentos, até ordem maior, são a chave para toda a vida social digna: viver com a família, andar livremente, trabalhar, estudar, cuidar de si mesmo, morar. Pedimos muito aos deputados, dirigentes, chefes, sindicatos, associações para nos ajudar a nos “regularizar”. Aconteceram muitas petições, fóruns que dizem que o Estado “protege os sem documentos”, muitos parlamentares que querem “regularizar” para nos mandar com mais facilidade para o trabalho sujo que ninguém quer fazer. Não queremos documentos porque fazemos o trabalho que “os franceses não querem fazer”, mas sim para poder viver dignamente.
Nós mesmos vamos pegar os documentos, porque não queremos uma entrevista: não queremos merecê-los ou implorá-los. Precisamos de combate. Já na luta, encontramos nossa liberdade, pois não temos mais medo. Após o confinamento, chamamos todos os imigrantes sem documentos e pessoas que compartilham nossas ideias e maneiras de agir, para apoiar nossa luta, entrar em contato conosco e se juntar ao combate.
Já compartilhamos essa luta com o ACTA, as Brigadas Populares de Solidariedade, Act-Up, o Collectif Place des Fêtes, Genepi, o NPSP (Nagkakaisang Pilipino Sa Pransya), o CREA (Campanha para Requisição de Ajuda Mútua e Autogestão), Ação Antifascista Paris-banlieue, o Observatório do estado de emergência sanitária, a Coordenação militante Dijon, Ipeh Antifaxista, que apoiam este texto. Nossa força é o apoio, mas a força do apoio somos nós também. É preciso organizar ações, ocupações, manifestações, greves, bloqueios. Podemos construir ações juntos nas próximas semanas. Só ganharemos documentos à força.
Para exigir documentos para todos agora e para todos os que chegarem, a destruição de centros de detenção, o fim dos foyers-prisões, e casas decentes para todos. Contra o racismo e a exploração. Pela nossa dignidade e liberdade.
Nem rua nem prisão, papéis e liberdade! O medo mudou de lado, os Coletes Negros estão aqui!
Les Gilets Noirs em luta
E-mail – gilets-noirs-en-lutte@riseup.net
FB – Gilets noirs en lutte
Twitter – @gilets_noirs
Fonte https://paris-luttes.info/gilets-noirs-autodefense-immigree-13871?lang=fr
Tradução > Estrela
agência de notícias anarquistas-ana
Encontrei folhas
Da cor laranja e amarela
Estavam na minha janela.
Ruan Carlos Amora Domingos – 10 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!