É o 40º aniversário da organização!
Por Elizabeth King | 27/04/2020
A organização tem sido chamada um grupo “terrorista alimentar”. Os seus membros têm sido presos e assediados pela polícia. As suas atividades? Distribuir regularmente refeições gratuitas vegetarianas e veganas para comunidades locais nos Estados Unidos.
Food Not Bombs (Comida Sim Bombas Não), uma organização que marca o seu 40º aniversário na primavera de 2020, tem sido uma fonte de refeições gratuitas em todo o país e pelo mundo. O grupo surgiu na Costa Leste em 1980 por ativistas locais que queriam protestar contra o capitalismo e o seu investimento na indústria nuclear. Desde então, a organização cresceu além dos sonhos mais otimistas dos e das fundadoras.
O Food Not Bombs rejeita uma estrutura hierárquica de organização em favor de um modelo horizontal e autônomo, onde qualquer um e qualquer uma pode criar a sua própria seção local e operar de uma forma que melhor atenda às necessidades da sua comunidade. Não há títulos formais dentro da Food Not Bombs, todos e todas são simplesmente um membro. Muitas seções fornecem refeições semanalmente, embora algumas sirvam com mais ou menos frequência. Seções locais recebem doações de alimentos de membros e estabelecimentos da comunidade e preparam as próprias refeições, seja nas suas próprias casas ou num espaço de cozinha doado.
O cofundador do Food Not Bombs, Keith McHenry, diz à Teen Vogue que nos seus 20 e poucos anos, foi inspirado pelo seu professor de história, Howard Zinn, autor de A People’s History of the United States, para se envolver em protestos contra a Central Nuclear da Estação de Seabrook de New Hampshire. Depois de que um associado foi preso durante um protesto anti-Seabrook em maio de 1980, McHenry e amigos fizeram uma venda de bolos para angariar dinheiro para a sua defesa legal, plantando as sementes para o que se tornaria o Food Not Bombs.
Mas a organização enraizou-se realmente em Boston, onde o grupo protestou contra as políticas do recém-eleito presidente Ronald Reagan de cortar os serviços sociais em favor do aumento do orçamento militar.
Em março de 1981, os membros do Food Not Bombs criaram um plano para encenar uma peça de teatro político de rua em Boston, recrutando outros ativistas para se vestirem de vagabundos e ficarem em fila do lado de fora de uma reunião de acionistas do Banco de Boston, como se esperassem à porta de uma cozinha social. McHenry disse que esta reunião foi selecionada porque o grupo diz que alguns membros do conselho do banco também estavam nos conselhos de fábricas de armas.
Mas o Food Not Bombs decidiu que ambos poderiam não fazer uma declaração como realmente alimentar as pessoas necessitadas durante o protesto. Assim, as e os ativistas prepararam uma refeição e McHenry visitou uma cozinha local na noite anterior à manifestação, onde ele fez um discurso e convidou as pessoas para se juntarem ao protesto e serem alimentadas. Este protesto foi uma prévia do tipo de apoio mútuo que o grupo iria fornecer.
Durante este tempo, McHenry trabalhava na seção de produtos numa mercearia cooperativa, onde, para sua consternação, muitas vezes tinha que jogar fora frutas e vegetais orgânicos perfeitamente bons. Em vez disso, ele começou a trazer os bens frescos para os e as moradoras de um projeto habitacional próximo. Não muito longe do projeto, McHenry pouco depois soube que havia um laboratório onde cientistas projetavam sistemas de orientação nuclear para o programa “Star Wars” de Reagan. Uma oposição profunda ao programa nuclear dos EUA expandindo-se no seu próprio quintal ajudou a organização a surgir com o nome Food Not Bombs, diz McHenry à Teen Vogue.
O nome reflete o trabalho do grupo para resistir ao complexo industrial militar, fornecendo apoio mútuo na forma de refeições gratuitas.
O que começou como uma venda de bolos e um pequeno protesto em Boston tornou-se uma organização com múltiplas seções após McHenry viajar para São Francisco e lá iniciar uma seção em 1988. As e os voluntários do Food Not Bombs serviam refeições gratuitas no Golden Gate Park, onde muitas pessoas sem teto e outros membros da comunidade costumavam conviver.
“Foi aí que começamos a ser presos por compartilhar comida”, diz McHenry. Esta seção enfrentou repressão policial contínua, membros que estavam servindo comida no parque foram presos, alguns foram espancados e viram as suas refeições destruídas pela polícia. Na época a organização não tinha uma autorização para servir refeições em público. McHenry diz à Teen Vogue que, no total, ele foi preso cerca de 100 vezes por trabalho relacionado ao Food Not Bombs.
Foi nessa época que o logotipo do Food Not Bombs — um punho roxo levantado segurando uma cenoura — foi criado. McHenry, que desenhou o logotipo, diz à Teen Vogue que ele usou a mão do seu irmão como modelo para o logotipo, que agora é visto em cartazes, bandeiras e literatura.
Por volta da época das prisões em massa de membros no Golden Gate Park, McHenry criou um panfleto explicando como é que alguém poderia começar a sua própria seção do Food Not Bombs.
Atualmente, há seções em todo os EUA, incluindo São Francisco, Chicago, Detroit, New Orleans, Philadelphia, New York City e Wilmington, Delaware. Seções internacionais do Food Not Bombs também podem ser encontrados em todo o lado, inclusive em Londres e Tóquio.
Dana, que fundou a filial Food Not Bombs em Wilmington, Delaware, depois de conhecer ativistas semelhantes durante uma marcha contra a Convenção Nacional Democrática de 2016 na Filadélfia, diz que a sua seção serve comida todos os sábados no exterior de um abrigo local para sem teto. Como muitos grupos do Food Not Bombs, a seção de Wilmington fornece serviços além de refeições. Dana diz que em Wilmington, o grupo recebe doações de Narcan — que é usado para tratar overdoses de opiáceos — e planeja realizar sessões sobre como usar o medicamento. “Muitas pessoas com quem trabalhamos lutam contra o vício”, diz Dana.
A atual seção do Food Not Bombs em Detroit também está ativa há cerca de quatro anos, de acordo com observações fornecidas à Teen Vogue por um dos cofundadores da filial, Diara, e outros membros da seção. Desde a eleição de Donald Trump, a seção criou uma organização irmã chamada Food Not Class para resistir à presença da chamada alt-right [organização fascista]. Colaborando com outra organização local, a Rosa Parks Transit Center, o Food Not Bombs e o Food Not Class Detroit fornecem alimentos, roupas e cobertores e outras necessidades para a classe trabalhadora e para os e as sem teto.
A seção do Food Not Bombs em New Orleans foi recentemente reativada após vários anos de dormência. Kathryn Myers, que agora mora em New Orleans, recomeçou a filial no final de 2019 e começou a funcionar, garantindo doações de alimentos para serviço de refeições e fazendo planos para oferecer chuveiros e cortes de cabelo gratuitos para as e os sem teto na cidade.
Há também uma forte presença do Food Not Bombs em São Francisco. Eddie Stiel, um membro da seção de São Francisco e ativista de habitação de longa data diz que hoje enfrentam menos assédio por parte da polícia (embora um post num blog do grupo diga que policiais prenderam vários membros e destruíram a refeição do grupo em 1º de maio de 2014). Stiel diz que a melhor parte do Food Not Bombs de São Francisco é que o grupo serve comida para a comunidade todas as semanas, e que “conseguimos mantê-lo funcionando durante estes anos todos”.
Manter estas seções em andamento não é uma pequena façanha, dada a repressão estatal que o Food Not Bombs enfrentou.
Além das detenções e perturbações da polícia local em várias seções ao longo dos anos, agentes do FBI colocaram o Food Not Bombs numa lista de grupos cujos membros podem ter a intenção de cometer atos de terrorismo, e várias seções dizem que foram espionadas, atacadas e monitorizadas por agências policiais locais e federais. A organização afirma que o FBI investigou os membros do Food Not Bombs Colorado em 2004 devido à sua associação com a Cruz Negra Anarquista, uma organização com décadas de idade que fornece apoio a pessoas encarceradas. E antes da Convenção Nacional Republicana de 2008 em Saint Paul, Minnesota, o FBI e a polícia local supostamente invadiram uma casa onde os membros do Food Not Bombs viviam, prendendo um membro sob acusação de conspiração de motim em prol do terrorismo e confiscando um saco de cebolas, segundo testemunhas oculares.
Estas perturbações não dissuadiram o Food Not Bombs do seu trabalho: fornecer refeições gratuitas em comunidades locais regularmente, oferecer sustento em protestos de esquerda e até mesmo administrar assistência em catástrofes.
O Food Not Bombs esteve presente durante o movimento Occupy que começou no Zuccotti Park, em New York City, em setembro de 2011. McHenry diz que viajou para Chicago, New York e Washington, D.C., durante o movimento Occupy, trabalhando com o Food Not Bombs para fornecer refeições para ocupadores e qualquer outra pessoa que precisasse de uma refeição.
As seções do Food Not Bombs também têm fornecido apoio mútuo crítico na forma de refeições gratuitas durante a atual pandemia do Covid-19. Dana diz que a maioria dos membros da seção de Delaware estão atualmente desempregados, mas têm “tentado aumentar a nossa produção, já que há tantas pessoas que estão com dificuldades para obter comida agora, e algumas das organizações que normalmente fazem esse trabalho não são capazes de o fazer agora”. A seção de Wilmington que Dana fundou tem tentado fazer duas refeições por semana, em vez de uma.
Myers diz que a nova seção do Food Not Bombs em New Orleans agora tem cerca de cinco membros, que estão em parceria com o Community Kitchen Collective para cozinhar refeições nas suas casas, empacotar as refeições e entregá-las individualmente às e aos sem teto.
Embora a atual iteração da seção Food Not Bombs New Orleans ainda é nova, McHenry e Myers dizem à Teen Vogue que uma seção anterior estava muito ativa quando do furacão Katrina em 2005. No rescaldo imediato da tempestade — que, em combinação com uma resposta fracassada da administração de George W. Bush, custou mais de 1.000 vidas — o Food Not Bombs escreveu na época que era um dos únicos grupos que fornecia refeições quentes regulares aos e às moradoras afetados pelo furacão.
McHenry diz à Teen Vogue que ele nunca imaginou que a organização teria dezenas de seções não só em todos os EUA, mas também pelo mundo. “Mesmo agora é difícil para mim imaginar que o Food Not Bombs está em todo o mundo. Isso assusta-me”, diz McHenry com uma risada. “Quase todas as semanas descubro uma nova seção do Food Not Bombs.
Fonte: https://www.teenvogue.com/story/food-not-bombs-history
Tradução > Ananás
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agência de notícias anarquistas-ana
Dia ensolarado.
Ao som da cachoeira
Caminho tranquila.
Talita Matos Szabo – 15 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!