Inspirados pelo exemplo de Milão, ativistas de extrema-esquerda e migrantes sem documentos querem criar na França uma “solidariedade concreta e imediata”.
Por Abel Mestre | 03/05/2020
Alguns dos ativistas foram multados em 1º de maio por não respeitar as regras de confinamento enquanto distribuíam alimentos em Montreuil (Seine-Saint-Denis). Reunindo pessoas com ideais antifascistas e pró-autonomia, mas também os imigrantes sem documentos do coletivo Coletes Negros, as brigadas populares de solidariedade se definem como uma “rede de grupos de ajuda mútua auto-organizados pela autodefesa do povo para o povo, formada durante a pandemia do coronavírus”. No site da Acta (ligada a Ação Antifascista do Subúrbio de Paris), também podemos ler: “O que o Estado é capaz de fazer é, no máximo, gerenciar o desastre. É preciso confiar em nossas próprias forças”.
Concretamente, os militantes distribuíam máscaras (104.203 máscaras distribuídas, segundo as brigadas) para as pessoas em situação precárias e aos mais expostos: hospitais, entregadores, catadores de lixo, caixas. Eles fabricam e oferecem álcool em gel, preparam e distribuem refeições (mais de 11.000, ainda segundo os números deles, e 12.000 embalagens de alimentos). As brigadas populares de solidariedade reúnem 750 membros em Ilê-de-France, onde se organizam por bairro.
Assim, os “brigadistas” agem no norte, nordeste e sul da região, com Paris como epicentro. É possível criar um grupo através do site deles. As páginas do Facebook e a conta do Twitter são usadas para divulgar suas ações.
Colaboração entre antifascistas e migrantes sem documentos
As brigadas também vão para os foyers [casas em comunidade] dos trabalhadores imigrantes. “A gente trabalha com 43 foyers”, diz Bakary, membro do coletivo que ficou famoso por sua ocupação do Panthéon, em julho de 2019. “Distribuímos comida e medicamentos. Nesse momento, estamos pensando em como organizar o iftar [quebra de jejum durante o ramadã] nos foyers”. Um desafio em tempos de distanciamento social.
O encontro entre antifascistas e migrantes sem documentos não começou na pandemia. Os primeiros sempre estiveram envolvidos na regularização de trabalhadores sem documentos. E o período recente – movimento contra a lei trabalhista em 2016; os “coletes amarelos” em 2018 e 2019; os protestos contra a reforma previdenciária – serviu como um motivo para a colaboração entre eles.
“Somos ativistas dessas lutas, há laços de confiança entre nós”, disse Nargesse, 28 anos, que também é ativista da Ação Antifascista do Subúrbio de Paris. “Queremos estabelecer solidariedade imediata e concreta em nosso dia-a-dia. Colocamos todos em contato com uma abordagem ultra-participativa, sem ser humanitário”. Estes últimos são, de fato, considerados paternalistas demais e não são revolucionários o suficiente.
Uma ideia vinda de Milão
Isto é, o objetivo político desses ativistas da esquerda extra-parlamentar permanece em ação da “autodefesa da saúde”. Ainda de acordo com o texto publicado no site da Acta: “Trabalho de solidariedade imediata, para e com as populações mais afetadas pela crise, que também são aquelas que o Estado se desinteressa estruturalmente”.
Esse raciocínio é articulado à “autodefesa popular”, que pretende combater, de acordo com sua terminologia, “os aspectos fascistas” do regime político francês (principalmente, segundo eles, a violência policial nos bairros da classe trabalhadora, ou a justiça de classe).
A ideia da criação de brigadas populares de solidariedade veio de Milão. Não é de admirar que conheçamos a implantação do pensamento autônomo na capital da Lombardia e a poderosa rede de “centros sociais autogerenciados” herdados nos protestos da década de 1970. “No início do confinamento, nos perguntamos como poderíamos intervir. Nos baseamos nos camaradas milaneses que estavam dez dias à nossa frente”, disse Nargesse novamente.
Se os militantes italianos estão em contato com uma grande ONG em conexão com a prefeitura de Milão, o povo de Ilê-de-France prefere a auto-organização. Eles afirmam ter criado um “comitê sanitário” com profissionais de saúde para impedir a disseminação do vírus, com o uso adequado de máscaras para evitar serem vetores da propagação durante as distribuições ou durante os saques.
As brigadas populares também pretendem ajudar as famílias em dificuldades com apoio educacional. “Fazemos isso pelo Zoom ou por telefone, com o reforço do conteúdo”, detalha Nargesse. “Também fazemos deveres de casa”. Até o momento, cerca de cinquenta brigadas foram criadas em todo o mundo, a grande maioria na França e na Itália.
Tradução > Estrela
agência de notícias anarquistas-ana
Sobre verde imenso
um ponto saltitante
pássaro cantante
Winston
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!