A Covid-19 sem dúvida tornou ainda mais evidente a desigualdade e vulnerabilidade que vivemos nós, a grande maioria da população, e não só no Chile, mas em todo o mundo. Os problemas sociais em relação a temas como a moradia, a educação e a saúde sempre foram visíveis, viver de forma precária é definitivamente, a forma de vida imposta pelo sistema neoliberal. A Covid-19 agudizou ainda mais o ponto crítico de nossos olhares, e como anarcofeministas não podemos estar isentas de relatar certos fatos que estão acontecendo no território que habitamos.
Durante o mês de abril do presente ano, apareceram nos meios de comunicação de massa várias notícias com viés xenófobos e racistas. Além de estampar na capa de um diário uma mulher afrodescendente com seu bebê como representantes da crise sanitária. Pouco depois vários meios fizeram eco de um acontecimento vivido por um grupo de migrantes haitianas em uma construção localizada na comuna de Quilicura. Nas inumeráveis notas sobre este fato, relatavam que a vizinhança junto à polícia foram com intenções de desalojar este grupo de migrantes, acusando-lhes de viverem apunhados, de serem sujos, portadores do vírus e de não terem as condições sanitárias para viver no imóvel. A solução? Ir lá, gritar-lhes, amedrontar-lhes e dizer-lhes que voltem a seu país.
Além de expressar nossa postura totalmente contrária a esta atitude de vizinhos e policiais, queremos dizer o seguinte: Nenhum ser humano, sob nenhuma condição de nenhum tipo, é ilegal. Todes merecemos respeito, todes somos migrantes em alguma medida genealógica, e absolutamente todes deveríamos viver dignamente. Nascer aqui ou lá não faz mais “merecedora” de mais ou menos dignidade a nenhuma pessoa.
Se diz que migrantes vivem apinhados, então queremos perguntar: Não é o problema da moradia um problema histórico no Chile? Hoje em dia os comitês de moradia e de família estão cada dia mais organizados, porque viver dignamente não figura no cronograma do Estado. Familiares e superlotação existem na grande maioria das populações, portanto, se migrantes vivem de forma indigna, é porque vivemos sob um Estado que promove esta forma de viver, e não é opção nem para os pobres nem para migrantes viver assim.
Acusam migrantes de serem portadores do vírus. Por que não dizer as coisas pelo seu nome? Este vírus quem trouxe foi a classe dominante desde a Europa que, ao contrário, têm uma vida totalmente assegurada. Aqui também há uma dupla moral, porque se estes migrantes fossem ricos, ninguém lhes tocaria nem um fio de cabelo. Por que se aborrece uma nacionalidade diferente só quando é pobre? Não fazem isso os ricos com os pobres ao culpar-nos de uma fraqueza que nem sequer conhecemos, como a razão pela qual somos pobres? Sabemos que são as estruturas sociais as que nos categorizam em relação a quantos direitos merecemos e é o Estado o que jamais cumpriu com seu verdadeiro papel social, mas pelo contrário, se dedicou a aprofundar o modelo neoliberal, que ressalta ainda mais esta injustiça.
Também lhes acusam de serem sujos, de não ter as condições para superar o vírus, que saiam para trabalhar… A esses vizinhos lhes perguntamos: a grande maioria dos chilenos está passando a quarentena em casa e vive sob as condições sanitárias para sobreviver a este vírus? Por acaso não temos que sair dia a dia para buscar nosso sustento? Por que sempre se insiste em olhar a palha no olho alheio? É tão difícil gerar laços fraternos e de apoio mútuo?
A imprensa amarela burguesa e a polícia estão tão deslegitimados que simplesmente seguem cavando sua própria sepultura, não temos muitos comentários para eles, salvo que repudiamos sua atuação e que apesar de que sigam insistindo em atentar contra o povo, seja com suas notícias sensacionalistas e falsas ou com sua desmedida violência, com organização e informação os enfrentaremos.
Tentam criar ódio entre os pobres, despossuídos e oprimidos porque sabem que nossa união é seu fim.
Combatendo a ignorância, eliminaremos o racismo, nenhum ser humano é ilegal!
Saúde e Anarcofeminismo
Órgão Anarco Feminista Santiago
Tradução > Sol de Abril
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!