O gel não basta

Por Voltaire de Souza

Medo. Cautela. Preocupação.

Não é só saúde.

O coronavírus chega ao bolso das pessoas.

O pastor Quinzinho estava revoltado.

– E agora? Não vai ter culto?

As autoridades recomendam. Nada de aglomerações.

– Como fica minha grana?

As doações vinham em dinheiro vivo.

– Também aceito cartão.

Era preciso tomar medidas imediatas.

– Chama o Bola Sete. Do financeiro.

Tratava-se de um ex-bicheiro.

– Me converti a Jesus.

– Como estão as contas?

Bola Sete abriu a pastinha.

– Foram quatro carros de luxo comprados no mês passado.

– Que mais?

– Nove relógios Rolex.

– E quanto entrou de dízimo?

– Caiu quase a zero.

Quinzinho fechou os olhos.

– Jesus… aguardo inspiração…

Um raio de luz entrou pela janela do templo.

Enquanto isso, a faxineira Dalva passava desinfetante no salão. Os braços e pernas de Quinzinho começaram a tremer.

– É o Espírito Santo… Louvado seja.

Demitiu Dalva na hora.

– Nada de desinfetante por aqui.

Quinzinho anuncia nas redes sociais.

– Cura do coronavírus. Vigília de oração.

Ele cobra baratinho.

– Por mil reais vou até no hospital.

O álcool ajuda.

Mas há outros modos de molhar as mãos.

agência de notícias anarquistas-ana

No outono as folhas
Caem e o caminho
Tapete se transforma

Dalva Sanae Baba