
Por Jeff Shantz
Levou apenas algumas semanas para que os políticos e analistas pudessem pensar abertamente sobre o cálculo da morte que deveria ser feito para determinar quantos deveriam morrer para “salvar a economia”, ou mais precisamente para restaurar os lucros aos proprietários e investidores. As paralisações e o isolamento podem ser bons para as pessoas e para o planeta, mas não foram tão bons para a acumulação de capital. Afinal, o capitalismo não se importa se as pessoas ou o planeta morrem, desde que a Dow Jones suba. Os fingimentos foram desfeitos, o cerne do sistema está evidente.
Problemas Sistêmicos
A crise da COVID-19 mostrou as contradições de uma sociedade em que os trabalhadores produzem enorme valor (tarefas, serviços, produtos, cuidados) que eles não têm acesso e que é acumulado pelo capital. Mostra também que os trabalhadores não controlam nem mesmo a tomada de decisões sobre o próprio trabalho.
Ficaram poderosamente evidentes questões de redistribuição de riqueza, reorientação da produção (fazer ventiladores e suprimentos médicos podem ser mais importantes que carros e tanques), e a necessidade de acesso igualitário a bens e serviços essenciais (moradia, assistência médica, alimentação, etc.).
A crise também tem mostrado que ações políticas necessárias há muito tempo, como moradia para sem-teto, assistência de renda ou renda garantida, acesso universal ao atendimento médico, podem ser implementadas de forma surpreendentemente rápida e direta – pelo menos mais facilmente do que nos foi dito. O fato de não terem sido implementadas anteriormente não é uma questão de falta de recursos, mas de preferências políticas e falta de vontade. Os governos simplesmente decidiram não fazer isso antes (mesmo quando crises como a dos sem-teto aumentaram).
Ajuda Mútua e Solidariedade no âmbito da COVID-19
Talvez o acontecimento mais significativo para pensar em mudanças para um futuro ecológico pós-COVID tenham sido as mobilizações inspiradoras de ajuda mútua e de solidariedade de pessoas que têm se organizado para apoiar seus vizinhos e comunidades. Desde grupos que preparam refeições e cestas de cuidados essenciais (papel higiênico, higienizador, sabonete, etc.), barracas e roupas para desabrigados, exemplos impressionantes de solidariedade social têm ajudado a superar parte da alienação e do individualismo da vida habitual sob o capitalismo e mostram a conexão necessária para mudar as coisas de forma mais positiva.
Também temos visto a organização de greves de aluguel, com pessoas desafiando coletivamente a obscenidade dos locadores que exigem aluguel (mesmo que os governos tenham oferecido alívio hipotecário aos proprietários) enquanto as pessoas estão sem trabalho.
As paralisações resultantes da crise da COVID-19 têm demonstrado a importância do trabalho, muitas vezes desvalorizado socialmente. A crise deixou claro que catadores de lixo, motoristas de ônibus, trabalhadores de mercearias, entregadores e professores são essenciais para a manutenção adequada da sociedade. CEOs, banqueiros de investimentos, proprietários de imóveis, especuladores não servem para nada.
Sindicalismo Verde
O sindicalismo verde, mesclando ecologia radical com organização radical do trabalho, é uma abordagem da ecologia social que enfatiza as conexões entre a destruição da natureza e a exploração da classe trabalhadora, o domínio dos povos e territórios indígenas, como enraizados na produção para o lucro e a acumulação privada. Tanto a justiça ecológica quanto a justiça social exigem uma reorientação participativa da produção e da troca, baseada nas necessidades coletivas e não no lucro.
Não é toda a humanidade que é o vírus, como algumas narrativas já disseram, é um sistema que utiliza a natureza e o trabalho dos trabalhadores para enriquecer financeiramente pequenos números de pessoas que reivindicam a posse tanto da terra quanto da mão-de-obra.
A COVID-19 deu uma pequena visão sobre os impactos sociais da crise ecológica que será maior à medida que a catástrofe climática evoluir – se houver um impulso para um “retorno ao normal”. Ela reforça que os impactos são sentidos de forma desigual pelos pobres, indígenas, classe trabalhadora – não pelos bilionários. Ela mostra que os recursos que são produzidos coletiva e socialmente devem ser compartilhados coletiva e socialmente.
O sindicalismo verde enfatiza as habilidades que as pessoas da classe trabalhadora têm em reorientar a produção para práticas ecologicamente e socialmente justas e sustentáveis. Um exemplo no Canadá tem sido os trabalhadores de areias asfálticas (tar sands) que pedem a interrupção das atividades e defendem trabalhos de recuperação, limpeza e restauração (o que também significa mais trabalho em um período de tempo mais longo). Guiados pelas comunidades indígenas, cujos territórios estão sendo destruídos.
Alguns já conectaram esses pontos e já houve chamadas para uma greve geral. #GeneralStrike foi a principal tendência nas mídias sociais por alguns dias em meados de março. Algumas greves aconteceram, incluindo ações de trabalhadores de serviços e de entregadores (como os trabalhadores da Amazon e da Purdue Farms).
Talvez um exemplo mais revelador tenha ocorrido quando os mineiros saíram da mina Hudbay Lalor’s, no norte de Manitoba, por causa de suas preocupações com a COVID-19, depois que empreiteiros foram levados à cidade depois que a prefeitura solicitou que a companhia suspendesse as viagens aéreas para a região.
Algumas comunidades indígenas da British Columbia (territórios não-cedidos) criaram bloqueios para impedir a entrada de turistas em seus territórios durante a crise.
O sindicalismo verde, a ênfase nas causas capitalistas industriais das crises ecológicas e as possibilidades de reorientação das relações sociais para deixar de destruir a natureza e as comunidades humanas, ao mesmo tempo em que atende equitativamente às necessidades humanas, e os exemplos emergentes de ajuda mútua e solidariedade para esses fins, é um contraponto necessário ao exterminismo do ecofascismo e dos eruditos de Wall Street.
Tradução > Otchobi
agência de notícias anarquistas-ana
Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho
Danita Cotrim
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?