Já Rudolf Rocker, em 1925, denunciava essa distinção entre o socialismo utópico, supostamente tudo o que antecede Marx, e o socialismo científico, resultado das ideias de Marx e Engels. Após a consolidação do totalitarismo, fascista e comunista, Rocker não pôde deixar de fazer uma enorme crítica ao socialismo autoritário sob o título de “A Influência das Ideias Absolutas no Socialismo”.
A suposta “missão histórica do proletariado” só poderia ser questionada agora; uma classe social, além de ser impossível estabelecer os limites de tal conceito, não pode ser atribuída a certas tarefas históricas ou tornar-se representante de certas correntes ideológicas. Naturalmente, pertencer a um determinado estrato social não garante o pensamento e a ação dos indivíduos. Assim, o anarquismo critica o determinismo econômico e histórico, qualquer tipo de processo natural que ocorra fora da vontade humana. Rocker ousa até mesmo acusar o marxismo de ser absolutista e de fazer danos irreparáveis ao socialismo, confiando no desenvolvimento mecânico e desconsiderando as premissas éticas. Não se pode mais reivindicar Proudhon, entre os antigos socialistas, já que foi ele quem mais insistiu em negar uma panacéia universal que resolvesse todos os problemas sociais; encontramos nos franceses, embora existam, é claro, aspectos de suas propostas que foram superados com o tempo, uma crítica feroz a qualquer tendência absolutista e a qualquer sistema fechado. É um legado inquestionável para o anarquismo, a negação de todo dogmatismo e sectarismo, e a plena confiança na pluralidade social.
É claro, Marx e seus apoiadores também chamaram Proudhon de “utópico”. O desenvolvimento do capitalismo, com seus poderosos monopólios, aliado ao fortalecimento do Estado, devia ser visto como uma negação das propostas de Proudhon. Precisamente, Proudhon, conhecido explicitamente como o primeiro anarquista da modernidade, soube prever o desenvolvimento capitalista e avisar em conformidade. O advento do fascismo no século XX, juntamente com os graves problemas de burocratização e a negação dos direitos pessoais e da liberdade no socialismo de Estado, só pode dar razão moral às advertências anarquistas. O Proudhon foi talvez o primeiro, como aponta Rocker, a prever que a união entre socialismo e absolutismo implicaria uma tirania sem precedentes. A influência do autoritarismo sobre o movimento socialista remonta à sua primeira fase, com a Grande Revolução e o longo período das guerras napoleônicas. Após esse período turbulento, houve um período de resignação e desespero, um terreno fértil para a reação e o autoritarismo.
Os chamados “socialistas utópicos”, Saint-Simon, Fourier e Owen, testemunharam esse tempo turbulento; assim, Rocker afirma julgar suas ideias e atos em relação à época em que viveram, sem recorrer a essa classificação arbitrária e insignificante do “socialismo utópico” e depois chegar ao “socialismo científico”. É claro que mesmo esses precursores do socialismo, por mais avançados que fossem, não poderiam escapar às influências autoritárias da época. Rocker lembra que o absolutismo napoleônico havia relegado a tradição liberal para segundo plano; havia uma nova fé na onipotência da autoridade. Na velha escola socialista, portanto, há um certo flerte com concepções absolutistas e uma hostilidade às aspirações liberais. Rocker denuncia essa influência nociva, a do jacobino e da tradição autoritária; porém, houve um notável contrapeso com o pensamento de Saint-Simon, com o associacionismo federalista de Fourier e, sobretudo, com a já anarquista filosofia de Proudhon. Entretanto, a situação na Alemanha seria muito diferente, não havia mais uma tradição revolucionária e o liberalismo era uma cópia fraca do inglês; até o fim da Primeira Guerra Mundial, o alemão era um estado semi-absoluto. O socialismo de um Ferdinand Lassalle, mais do que o de Marx e Engels, e sua confiança inabalável num estado todo-poderoso, exerceram uma grande influência no movimento operário alemão.
Para Rocker, a influência de Marx sobre a classe trabalhadora alemã foi de natureza muito diferente. Marx também captou influências absolutistas, pois subordinou todo o desenvolvimento social às necessidades forçadas baseadas nas condições econômicas; sua suposta descoberta das leis do movimento social foram para ele “puras e absolutas”. Trata-se de uma concepção mecanicista e fatalista dos fatos históricos que é apresentada, não raro na obra de Marx, como uma verdade absoluta. No entanto, Rocker considera que Marx também teve a influência de Proudhon, portanto seu objetivo final foi também a eliminação do Estado na vida social. Porém, como já insistimos muitas vezes, onde difere é na maneira de atingir esse objetivo; Bakunin e os anarquistas insistirão no fim prévio do Estado, ao lado das instituições de exploração econômica, a fim de possibilitar o livre desenvolvimento da vida social. As concepções centralistas e autoritárias de Lasalle e Marx acabarão por predominar sobre o socialismo libertário, o que levou nas décadas seguintes a uma concepção socialista rígida e dogmática, com a pretensão até de ter uma base científica. Era uma tradição fatalista, e com uma fé cega no Estado, que se tornaria o poderoso guia do movimento socialista internacional; Rocker, com triste ironia e retomando as palavras de seu amigo Erich Mühsam, lembrou que essa influência seria tão terrível quanto a política de Bismark e só poderia ter um nome: Bismarxismo. Foi o terreno fértil para as ditaduras: o socialismo só pode ser livre ou não existirá.
Capi Vidal
Fonte: http://reflexionesdesdeanarres.blogspot.com/2013/06/rocker-y-la-tradicion-socialista.html
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
figos pretos
em farrapos nas figueiras
chuva de outono
Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!