“Não sejas gentil nessa boa noite… Enfurece-te, enfurece-te contra a morte da luz” – Dylan Thomas
Mais uma morte de uma pessoa negra pela polícia. Mais um assassinato do Estado. Mais uma vez, as ruas estão cheias de uma furiosa exigência por justiça. Mais uma vez a justiça tem um nome – Justiça para George Floyd…
Mas a reivindicação também é sem rosto, genérica e universal nos sentidos mais concretos. Pois o rosto está envolto nos números, na insuportável contagem de mortes, sem ser reduzido a uma estatística; emerge uma figura universal, a figura dos e das oprimidas, espezinhadas, subalternas, a face inferior da narrativa de lei e ordem de todos os Estados e de todos os impérios. Nos Estados Unidos, a história é velha e conhecida. Frutos estranhos pendurados nas árvores, segregados no sul, marginalizados em guetos urbanos, transformaram-se numa classe inferior e deixados para se matar uns aos outros ou se drogarem até a morte. Mas também corpos negros que reverberam com dignidade, corpos que nunca deixaram de resistir, de se mobilizar, de lutar, de gritar em voz alta que as suas vidas importam; corpos que se recusaram a ser objetos da lei e se tornaram sujeitos da justiça. Os Estados Unidos da América gostam de lembrar o movimento dos direitos civis, mas têm sido forçados a recordar também os seus longos verões quentes, na nossa era de novos movimentos e novas revoltas.
Décadas de ação afirmativa, de reformas bem-intencionadas ou não tão bem intencionadas, tentativas de integração. As coisas melhoraram, dizem eles. No entanto, as coisas também permanecem as mesmas; as ruas continuam a encher-se de sangue e cadáveres e depois de raiva, de novo e de novo e de novo. Não é preciso um cientista político para ver que a violência que a população negra sofre é sistêmica e institucionalizada ou que a sua marginalização e exclusão estão incorporadas às operações do sistema capitalista. Classe e raça se fundem para criar corpos que podem ser mortos; mas também corpos que se revoltam. Os conservadores chamá-los-ão de criminosos; os liberais chamá-los-ão de insensatos; alguns esquerdistas sentirão que são justificados, mas ainda preferirão cantar louvores vazios sobre a “força da não-violência” ou fazer uma virtude da vitimização. Mas para os oprimidos e as oprimidas da história, o tumulto e o fogo sempre foram uma das suas formas de fazer justiça, de se tornarem a justiça. Pode não ser nem a solução nem a revolução. Mas fazendo as noites mais brilhantes, ilumina o caminho para um futuro diferente.
Não é o nosso trabalho ou ao nosso gosto fazer julgamentos do alto sobre corpos que lutam pelas suas vidas. Nem as imagens de revoltas são estranhas ou exóticas para nós; corpos também são explorados e marginalizados em todo o mundo; corpos acampados, criminalizados, mas também assassinados.
George Floyd gritou
NÃO CONSIGO RESPIRAR…
Agora todos e todas nós gritamos
NÃO CONSEGUIMOS RESPIRAR
A revolta em Minneapolis não tem a “nossa simpatia”, inspira-nos.
LUTA CONTRA O PODER!
Solidariedade com a revolta de Minneapolis contra a violência policial e o racismo institucionalizado!
Void Network [Teoria, Utopia, Empatia, Artes Efêmeras]
Tradução > Ananás
Conteúdos relacionados:
agência de notícias anarquistas-ana
lua alta
céu claro
o som da folha caindo
Alexandre Brito
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!