
Dez etnias indígenas estão entre as vítimas apontadas na Comissão Nacional da Verdade. Entenda o conflito entre esses grupos e o regime militar
Por Joseane Pereira | 25/05/2020
O massacre de indígenas na ditadura militar brasileira vem desde o governo Castelo Branco de 1964, que através do Plano de Integração Nacional (PIN), procurou expandir as fronteiras internas do Brasil. Isso significou perseguição, prisão, tortura e assassinato de lideranças indígenas, que lutavam por seus territórios e cujo comportamento era considerado inadequado ao projeto desenvolvimentista do país.
A Comissão Nacional da Verdade apontou a inclusão de dez etnias indígenas entre as vítimas das violações de direitos humanos no regime militar. Segundo o relatório, de 1964 a 1985, 8.350 indígenas foram mortos em massacres, roubo de terras, remoções forçadas dos territórios, prisões, torturas e maus-tratos.
A psicanalista Maria Rita Kehl, responsável pelo capítulo dedicado às comunidades indígenas, investigou a violação de direitos humanos entre esses povos e identificou, por exemplo, que os indígenas da etnia Cinta Larga, de Rondônia, foram os mais atacados: 3.500 perderam a vida durante a ditadura.
Os ataques iam de envenenamento por alimentos misturados com arsênico a aviões que atiravam para as crianças das aldeias brinquedos contaminados com vírus de sarampo ou varíola. “Muitas dessas violações foram cometidas com a conivência do governo federal, por meio do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), e depois da Funai”, afirma o relatório.
A abertura da Rodovia Transamazônica, projeto que pretendia atravessar o país através da Amazônia, também contribuiu para o massacre: 29 grupos indígenas foram afetados tragicamente, dentre eles 11 etnias isoladas. Apenas com a Constituição de 1988, instaurada após o fim da ditadura, o direito à terra e à diferença cultural foi consolidado novamente para esses povos.
Incompreensão de longa data
A vista grossa dos diversos governos brasileiros para a ação violenta de seringueiros, garimpeiros e grileiros contra indígenas, como se sabe, não terminou com o fim da ditadura. E se até hoje aldeias são invadidas e tratadas com pouco cuidado, a origem desse descaso talvez esteja naquele primeiro contato dos espanhóis com os nativos do nosso país.
O frei Gaspar de Carvajal, espanhol que em 1541 acompanhou a expedição de Francisco de Orellana cruzando o rio Amazonas, já expunha a incompreensão do europeu com o estilo de vida indígena. Em seus relatos, ele afirma que esses povos eram “seres animalescos e sem Deus”, que não mereciam atenção e nem mesmo uma tentativa de coexistência.
O religioso defendeu, junto ao Estado espanhol, que as sociedades indígenas da Amazônia deveriam ser erradicadas, destituídas de seus grupos e colocadas a serviço da colonização – escravizadas, portanto.
Embora seja muito antigo, o relato de Carvajal não é tão diferente do que ainda encontramos atualmente. “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país”. A fala é de 1998. Seu autor, o atual presidente do Brasil.
Conteúdo relacionado:
agência de notícias anarquistas-ana
sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos
Nenpuku Sato
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?