Por Hamilton Borges | 28/05/2020
Estamos no meio de uma pandemia planetária, na curva da morte de uma crise sanitária gestada pelos senhores do capital. Os senhores do sistema de supremacia branca operam a morte negra para além da conjuntura.
Essa não é uma guerra simplesmente adotada contra o vírus: ainda é uma guerra racial. Alguns de nós teimam em fazer protestos virtuais, barricadas de lives orientados pelos coachings das fundações que dominam esse segmento acovardado dos movimentos sociais brasileiros. O mais do mesmo espírito de desbunde, ativistas que resolvem tudo com roda de conversa e reinventam o lucro em cima da desgraça alheia.
A orientação é ficar em casa e eles se plugaram aos avatares, que operavam mesmo antes da crise. Querem nos apresentar essa nova militância, sem cheiro, sem muque, sem vergonha na cara.
Solidariedade não é o mesmo que essa movimentação insana de tirar fotos com doação de cesta básica e deixar às moscas o sujeito atendido por sua caridade. Temo que essa gente vai cobrar com moeda eleitoral na boca de urna das próximas eleições.
Vamos ter que criar nossas vias pela realidade que se apresenta, nossa responsabilidade é apresentar às gerações futuras uma pedagogia do real, uma filosofia do real, luta real, vida real e rua.
A luta virtual, como se apresenta, parece única alternativa mas é armadilha, nos coloca no mesmo edifício dos inimigos e de seus colaboradores. Precisamos escapar desse calabouço de indignação fake, uma vida fabricada em tubos. Notem o riso triste dessas selfies alegres sobre tudo.
O governador da Bahia, Rui Costa, em entrevista alegre e sorridente sobre o coronavirus, deu uma declaração para o arrepio dos direitos humanos em qualquer lugar do planeta… menos na Bahia, feudo que o governador domina com poder de calar filiados cheios e cheias de frases de efeito sobre a morte negra, porém incapazes de se sobrepor à decisão do chefe branco sobre a escolha de uma candidata a prefeita de Salvador. Ele emplacou uma oficial da polícia militar como pré-candidata. A PM é a instituição que mais se fortaleceu ficando blindada de qualquer ofensiva legal contra seus desmandos, brutalidade e morte em todo território baiano. A parte perdedora do partido faz live até agora para chorar sua perda e grita tardiamente para mostrar ao chefe que tem fibra.
O governador é cínico e tem uma pose liberal, sorri fácil para as câmeras e sugeriu que o aumento dos crimes no Estado se deve às saídas de prisioneiros dos antros penais que ele administra. Gaiolas herméticas e masmorras fedorentas entupidas de seres humanos sem direitos, todos e todas prontas para serem infectados. Rui Costa faz coro com Jair Messias Bolsonaro, para que a recomendação n° 62 do Conselho Nacional de Justiça não tenha efeito e que mulheres amamentando, mulheres com filhos até 12 anos, homens com mais de 60 anos, pessoas com asma, diabetes, HIV, e outras comorbidades cumpram suas medidas longe das grades para não morrerem infectados atrás das grades. O Governador é o responsável pelos altos índices de morte negra na Bahia. Vejam o programa real de seu partido PT, desde a administração de Jaques Wagner com seu baralho do crime, cartilha da tatuagem, contêineres para prender pretos, morte, morte e morte.
O que a vida exige de nós é vida real, luta real, volta para o campo, protestos pela vida e por água, apoio aos familiares dos presos, escrita de literatura, criação artística, amor, namoro e coragem.
Continue tomando os cuidados para não se infectar, continue protegendo sua família, mas estude, se exercite, se prepare.
Nós vamos voltar às ruas.
agência de notícias anarquistas-ana
no filme mudo
uma ave que eu cria extinta
está cantando
LeRoy Gorman
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!