Por um lado temos Donald Trump e o procurador-geral culpando pelos incidentes a supostos grupos de extrema-esquerda, antifascistas e anarquistas.
Em paralelo, grupos ultraconservadores e de extrema-direita culpam o supervilão histrião George Soros de ser a mão oculta que está alimentando os protestos violentos.
No outro lado do espectro político temos os Democratas acusando pelos incidentes a nacionalistas de extrema-direita infiltrados, a coletivos supremacistas brancos, a cartéis da droga, e, inclusive, a agentes estrangeiros.
Parece que todos eles, os de um lado e os de outro, tentam tirar crédito político do que acontece, e parece que uns e outros digam coisas opostas. Mas, na realidade, se observarmos bem, tanto Republicanos como Democratas estão dizendo o mesmo: todos tratam de nos convencer de que atrás dos distúrbios há alguém que manipula a população de uma ideologia ou de outra. Todos tratam de impedir a todo custo que possa chegar a se interpretar que são os indivíduos americanos conscientes em seu conjunto (ou uma grande parte inconforme destes) os que se levantam contra a injustiça e a opressão constante do sistema, todos querem evitar que se interprete que são os indivíduos os que se sublevam contra o sistema, sem servir a nenhuma parte do espectro político, mas só a si mesmos, todos buscam deslegitimar a violência usada pelo indivíduo. Esta ideia (a ideia de que é uma parte do povo a que está se levantando) é perigosa para as elites, porque então não seria já um conflito de direitas contra esquerdas, ou de brancos contra negros, mas um conflito dos de baixo contra os de cima, dos oprimidos contra o sistema que os reprime como indivíduos (independentemente de suas ideias ou da cor de sua pele, inclusive ainda que estas tenham um componente de peso importante). E essa ideia pode chegar a se materializar justo no momento em que, previsivelmente, começam a notar-se os efeitos da crise econômica que estas elites provocaram com sua crise sanitária do Covid-19. Por essa razão, tanto uns como outros, tanto Democratas como Republicanos, tratam de estimular o conflito ideológico tanto quanto possam para dividir a população, para poder tirar proveito político e, sobretudo, para salvar o sistema que os alimenta.
Se nos fixamos bem, todos os que vivem deste sistema coincidem no mesmo: não querem distúrbios, não querem violência, não querem que se assaltem negócios, não querem que os indivíduos tomem a justiça em suas próprias mãos, pois isso demonstraria que não creem no sistema. Mas, em troca, esses mesmos que vivem do sistema querem a violência do Estado, querem que se ‘assaltem’ as terras nas quais vivem outros povos, querem o saque legal, o assassinato legal, e oficializado pela lei, e fomentado pelo Estado. Tal e como fizeram desde sempre, aqueles que se beneficiam desta ordem de coisas tratam de fazer ver que a vida daqueles que sigam um curso diferente da ordem marcada pela civilização ocidental vale menos que a daqueles que estão dentro dessa ordem.
Muitos não querem ou não podem imaginar (e tratam de anular) o fato de que haja gente que use a violência contra a propriedade privada, contra as multinacionais, contra a polícia, etc. Pois que se inteirem: As pessoas sim saqueiam por sua própria vontade, as pessoas sim fazem distúrbios, as pessoas sim destroçam o mobiliário urbano propriedade do Estado, e não o farão somente por um ideal (pela nação, por questões de “raça”, de identidade, por uma ‘sociedade futura’, etc.), mas porque perderam todo o respeito à ordem imperante e à lei que a sustenta: muitos já não creem na lei (esses tempos nos quais a lei tinha algum sentido se acabaram!), muitos já observam a lei e os direitos só como o delírio de uns poucos poderosos os quais buscam impor a todo custo esse seu delírio sobre a totalidade da sociedade. Mas a ordem da propriedade privada sob o regime capitalista não é mais que um delírio deles, uma miragem, um truque de mago, uma ilusão de ótica que se desvanece enquanto a pessoa começa a reapropriar-se de sua vida, tanto no plano material como no relacional e, portanto, quando a pessoa desenvolve sua própria cosmovisão.
Em muitas cidades dos Estados Unidos os departamentos de polícia estão chamando as pessoas a se manifestar “pacificamente” e a assinalar e ‘isolar’ os “manifestantes violentos”. Quando a polícia (serviçal das elites) te diz que faças algo, então é hora de saber que o caminho correto está no lado contrário ao que te dizem. Deixemos uma coisa clara: a polícia sim usa infiltrados, mas a principal infiltração que faz a polícia nos movimentos é com o fim da pacificação desses movimentos ou sua desarticulação (lutas internas, etc.), só que esta infiltração quase sempre permanece invisibilizada, pois seu objetivo é a domesticação e recondução dos movimentos para que se tornem inofensivos.
Não fales com policiais, não te fies nunca de um policial, eles sempre mentem, são serviçais submissos da ordem estabelecida, são o reflexo mais patético da servidão moderna, são a principal força de choque que permite a violência e a exploração perpétua de uns humanos sobre outros: os policiais (e todas as instituições) são a fonte e o principal sustento de todas as discriminações, pois qualquer violência que o povo exerça entre si, no fundo é um reflexo da violência que esses “controladores pela força”, os “agentes da Lei” e as instituições, exercem contra os indivíduos do povo.
Ultimamente há algumas pessoas (sobretudo alguns seguidores de teorias da conspiração) que falam do ‘Deep State’ (‘Estado profundo’), e querem nos fazer crer que existe um ‘Estado profundo’ corrupto estancado dentro da estrutura do Estado, e que a solução a esse ‘Estado profundo corrupto’ é uma limpeza ou depuração de algumas pessoas ou instituições do Estado e… volta a começar na roda de hamster. Como se só se tratasse de uns quantos indivíduos corruptos e malvados que se quiseram meter no Estado para tirar proveito! Pois não, não existe nenhum ‘Estado profundo’, porque TODO o Estado é em si mesmo um ‘Estado profundo’: o Estado é em si mesmo a grande máfia, é a grande máfia impondo-nos a ilusão de que só pode existir UMA ordem das coisas: a sua; impondo-nos a ilusão de que tudo deve conduzir-se para as instituições e ser levadas a cabo mediante as instituições e com uma intenção conciliadora e pacificadora. Todo o Estado é um “Estado profundo corrupto”; todas as instituições são opressoras.
Tout le monde detéste la police. ACAB.
Anarquista.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
minhas mãos te olham
estranha fotografia
onde meus olhos te tocam
Lisa Carducci
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!