A FAU tem um predecessor histórico: a “Freie Arbeiter-Union Deutschlands” (FAUD). A FAUD foi fundada em 15 de setembro de 1919 e veio da “Freie Vereinigung deutscher Gewerkschaften”, a FVdG (Associação Livre dos Sindicatos Alemães), que na época era uma cisão do órgão sindical majoritário. A FAUD era a mais importante organização anarcossindicalista da Alemanha na época da República de Weimar e como tal rejeitou a luta centralista dos trabalhadores, seja por via do parlamentarismo ou por partidos comunistas.
A FAUD era composta por sindicatos locais, a maioria deles na região do Ruhr, bem como em Berlim. Em seu auge, no início da década de 1920, tinha cerca de 150.000 membros.
Ao mesmo tempo, havia um grupo feminista dentro da FAUD chamado “Syndikalistischer Frauenbund” (Federação dos Sindicatos de Mulheres) com até 1.000 membros, assim como uma associação juvenil chamada “Syndikalistisch-Anarchistische Jugend Deutschlands” (Juventude Anarcossindicalista Alemã).
Em 1933 a FAUD decidiu dissolver-se para evitar uma proibição por parte dos nacional-socialistas. Mas, ao mesmo tempo, foi feita uma tentativa de reorganizar e reestruturação clandestina. O foco do anarcossindicalismo, nesta época, mudou para a luta antifascista e para ajudar as pessoas da religião judaica a escapar. Um exemplo conhecido é o grupo antifascista “Schwarze Scharen” (Rebanho Negro), que existiu até 1937.
A nova FAU. Fundada em 1977
Após a Segunda Guerra Mundial, o anarcossindicalismo na Alemanha era praticamente inexistente. No final dos anos 70, foi fundada a “Anarchosyndikat Köln” (Sindicato Anarquista de Colônia). A luta mais importante que travou foi uma greve de seis dias em 1973, numa fábrica da Ford, depois de 500 trabalhadores terem sido despedidos. Foram principalmente os trabalhadores estrangeiros que realizaram a greve, exigindo a anulação dos despedimentos, a redução do ritmo da linha de montagem e um aumento salarial de um marco alemão por hora.
O “Sindicato Anarquista de Colônia” foi o núcleo inicial da FAU, fundada em 1977. Sua peculiaridade também era não ter contato com nenhum membro da histórica FAUD e, portanto, buscar comunicação com membros da CNT que fugiram para Paris após a guerra. O contato com a CNT foi sempre intenso e até hoje continua a ser o sindicato mais próximo da FAU.
Nos primeiros dez anos de sua existência a jovem FAU estabeleceu suas ideias e princípios, não sem longas discussões e divisões. Finalmente, decidiu-se concentrar na propagação das ideias anarcossindicalistas, combinando-as com a luta trabalhista e social.
Desde o início, a FAU organiza anualmente seus congressos, nos quais os delegados votam sobre propostas previamente apresentadas por grupos locais, bem como sobre a eleição do comitê nacional.
Os grupos locais também se federam em grupos regionais, discutindo estratégias e assuntos relacionados apenas para a região correspondente. Até o final dos anos 80, a maioria dos grupos locais estava localizada no norte e oeste da Alemanha.
A FAU está se consolidando
Também houve longas discussões sobre a participação nos conselhos de empresa. Ficou decidido que a FAU não participaria dos conselhos de empresa, optando pela ação direta como ferramenta da luta sindicalista.
A partir da segunda metade dos anos 80, as mulheres começaram a se organizar na FAU, discutindo uma orientação antipatriarcal e feminista do sindicato, a falta de mulheres na organização, além de se concentrarem na posição das mulheres nas relações industriais. No congresso de 1988 foi decidido mudar o nome, incluindo a forma feminista no nome (“Trabalhadoras e Trabalhadores”).
Outra linha de ação importante foi aconselhar os desempregados em relação aos auxílios estatais, que na Alemanha anda de mãos dadas com a exigência de busca intensiva de emprego, tendo que aceitar em muitos casos contratos de trabalho precários para que a agência de emprego possa reduzir o número de desempregados. Este modelo estatal não permitia o sustento das famílias e, em muitos casos, eram empregos temporários oferecidos pelas ETTs (empresas de trabalho temporário) alemãs.
No final dos anos 90, foram criadas federações setoriais nas áreas de assistência, agricultura e educação.
Os últimos dez anos da FAU até a atualidade
Entre 2008 e 2009, uma luta sindical começou na FAU Berlim em um cinema alternativo, do Instituto Rosa-Luxemburgo e do Partido A Esquerda. Eles exigiram aumentos salariais e um acordo coletivo com a FAU, pois era o sindicato mais representativo de todo o pessoal. O diretor de cinema se defende legalmente e obtém uma proibição da FAU. A FAU Berlim, na época, tinha cerca de 50 membros.
Na Alemanha, por lei, somente a organização com representação suficiente na região pode ser um sindicato. O tribunal argumentou que a FAU Berlim não era representativa da região de Berlim. Com esta decisão, a FAU Berlim foi proibida de tomar qualquer tipo de ação sindical, inclusive definindo-se como um sindicato. Se não cumprisse, havia o risco de ter de pagar uma indenização de 250.000 euros ou, se não pudesse pagar, os representantes seriam presos.
Contra essa jurisprudência anti-sindical, a FAU apresentou uma reclamação. Mas também organizou a solidariedade internacional e nacional, com duas manifestações, e recebeu dinheiro para financiar as ações, bem como as audiências. Finalmente, em junho de 2010, o Tribunal Superior de Berlim decidiu que a proibição era nula.
A partir desse momento, a FAU aumentou sua reputação e seu conhecimento entre os trabalhadores. Em Berlim a adesão quadruplicou e em outras cidades também.
Nos últimos 5 anos a ação sindical da FAU aumentou: em cidades como Dresden, Jena e Halle com fortes mobilizações na educação universitária; e em Hannover e Frankfurt com importantes lutas nos setores de saúde e educação.
Atualmente, a FAU conta com cerca de 1000 associados com presença em empresas de diferentes setores e tamanhos.
Fonte: https://www.cnt.es/noticias/fau-la-anarcosindical-alemana/
Tradução > Liberto
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agência de notícias anarquistas-ana
ventania lá fora
uma mosca no rosto
lívido da vidraça
Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!