9 propostas para ações futuras
1. Nada justifica a violência policial; seja fazendo uma caminhada de manhã, falsificando uma nota de vinte ou quebrando as vitrines de uma joalheria. Isso que o Estado colonial determina como crimes são sempre tentativas de escapar à pobreza e à violência sistemática, ou ao resultado disso. Defendemos uma justiça reparadora centrada nas necessidades e experiência das vítimas, não uma justiça punitiva centrada nas necessidades comerciais e estatais. Aqueles que participam das manifestações reproduzindo o discurso da classe dominante e agindo como a polícia fazem o trabalho dos opressores.
2. Defendemos a destruição da polícia, porque mesmo quando não assassinam pessoas negras e aborígenes em plena luz do dia, ela mantém a ordem social do capitalismo e da supremacia branca. É a polícia que impede as pessoas sem alojamento de dormir em condomínios vazios, que deixa na rua as famílias que não podem pagar pelo aluguel exorbitante ou que espanca os migrantes esfomeados a procura de uma refeição gratuita em um estabelecimento que pertence aos milionários.
3.Cabe a nós e às nossas comunidades o desenvolvimento da autogestão que torna a polícia obsoleta. Isso começa falando com nossos vizinhos oferecendo-lhes nossa assistência se eles precisarem ou ensinando como reagir quando nossos próximos enfrentam uma crise de saúde mental.
4. O vandalismo político é mais compreendido e a violência contra a propriedade privada e material é moralmente justificado diante das violências do poder. Cada vitrine representa uma barreira entre nós e um mundo que nos é inacessível. Elas representam uma paisagem urbana construída para suprir as necessidades de uma economia que nos impede de morar e comer decentemente sem passar a maior parte dos dias trabalhando. Os grafites e os carros de luxo queimando marcam uma interrupção necessária da violência normalizada e invisível do cotidiano.
5. Aqueles que dizem que as pessoas negras e racializadas pagam o preço da revolta violenta, nós respondemos que pagamos o preço de cada dia sem revolta violenta. Uma análise histórica dos movimentos de libertação mostra a necessidade de uma inversão do equilíbrio de poder, alimentada pela ameaça de uma insurreição permanente. Se as nossas lágrimas fossem suficientes para que os nossos opressores nos deixassem viver, já não sentiríamos mais a pressão do seu joelho na nossa garganta durante muito tempo.
6. Ouvir e amplificar o discurso dos negros moderados, despolitizados ou burgueses é uma forma de racismo traiçoeiro, que permite aos não-negros performar um papel de aliados sem comprometerem os seus privilégios. Os brancos que se preocupam realmente com nossas vidas deveriam ler os revolucionários negros e se informar sobre as ideologias anarquistas e decoloniais radicais.
7. O discurso midiático e policial de que o vandalismo do domingo à noite foi uma aventura separada do resto da manifestação dócil não se baseia nos conhecimentos de nossas motivações. É um discurso estratégico visando enfraquecer nossos movimentos. O seu maior medo é que nós tenhamos consciência de que a insurreição não é o objetivo de apenas alguns grupos especializados, mas sim a manifestação da revolta popular– e então saberemos que somos capazes de recriar 31 de maio não importa onde, nem quando nem com quem.
8. A afirmação de que apenas os “anarquistas brancos” participaram da revolta do domingo é um insulto aos manifestantes negros, aborígenes e pessoas racializadas que arriscaram tudo. Quem disse isso provavelmente não nos acompanhou na rua durantes muito tempo depois dos primeiros tiros da polícia. Depois da segunda e terceira onda de gás lacrimogêneo, a maioria das pessoas brancas tinha ido embora, deixando para trás uma multidão de manifestantes, na sua maioria negros, à leste e oeste de Saint-Urbain. De qualquer maneira, os cúmplices que lutam ao nosso lado são todos bem-vindos, muito mais do que aqueles que reproduzem comportamentos policiais ou que apenas procuram reproduzir keep up with the Joneses em um mundo branco – um mundo que nos asfixia. O sucesso deles é uma garantia de perseverança individual, mas jamais uma vitória coletiva. Estamos lutando por um mundo totalmente diferente.
9. Finalmente, quando gritamos “sem justiça, sem paz”, estamos falando sério. Queremos que as pessoas que normalmente podem se dar ao luxo de existir na ignorância do nosso sofrimento se sintam incomodadas. Na noite do domingo passado, quando corremos no ritmo das vitrines estilhaçadas, sentimos por um momento que não seríamos ignorados. Sem justiça? Então, sem paz.
Tradução > Estrela
agência de notícias anarquistas-ana
Nos olhos da libélula
refletem‑se
montanhas distantes.
Issa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!