Por AnarcoSSA | 16/06/2020
Lembrai como a mídia burguesa foi conivente com o aparato repressivo do Estado brasileiro e prontamente condenou (deslealmente) aquele espontâneo sentimento de descontentamento surgido entre as massas.
Lembrai como apenas a “infame” tática black bloc assegurou a integridade física dos mais variados manifestantes – com as mais diversas opiniões e ideologias – contra o monopólio da violência por parte do Estado; incluindo jornalistas, fotógrafos e outros profissionais dos grandes conglomerados de mídia, uma vez que a arbitrariedade das forças policiais começou a se alargar para atingir também eles.
Lembrai como a mídia burguesa, após ver-se vítima de efetiva brutalidade policial e tentativas de censura, dividiu aqueles que estavam protestando entre “vândalos” e “manifestantes”; o discurso já não era mais o mesmo dos primeiros atos onde condenava a todos, agora somente demonizava aqueles que pareciam “incivilizados” demais para seus objetivos liberais.
Lembrai como foi muito conveniente para a parte hegemônica dos setores de esquerda aderir ao discurso de “protestos pacíficos” engendrado pela grande mídia em parceria com movimentos da direita. Em prol da manutenção dos restos de uma institucionalidade que respirava por aparelhos, em prol de dialogar outra vez mais com a velha burguesia liberal, em prol duma tentativa de conciliação que vinha ofuscando a reforma tributária prometida a mais de uma década; Em prol de tudo isso foi que a esquerda hegemônica e reformista entregou seus distantes irmãos anarquistas (e outros adeptos de táticas black blocs e afins) em sacrifício no altar do Capital para que a mídia burguesa – como o bom sacerdote submisso do capitalismo que é – exibisse publicamente os “criminosos” que inflamariam o punitivismo reacionário da plateia.
Lembrai como os gritos de “sem violência” e as camisas da CBF surgiram de mãos dadas, em paralelo ao sequestro das pautas populares pelos veículos de mídia servos do capital; sim, pode-se dizer que foi lá o berço de Bolsonaros e MBLs, todos gestados no mesmo contexto da retórica contraditória (quiçá reacionária) de um Arnaldo Jabor da vida que três anos mais tarde lançaria a máxima “ser revolucionário é ser liberal”.
Lembrai como os protestos – antes capitaneados pela esquerda – agora eram reféns de uma escusa amálgama de liberais, conservadores, nacionalistas, militaristas, reacionários e toda uma sorte de figuras abjetas. O alvo não estava mais fixado no preço abusivo da passagem de ônibus ou nos gastos governamentais com a Copa do Mundo que ocorreria no ano seguinte, o alvo agora era claramente a presidente da época, Dilma Roussef (que, para o bem ou para o mal, era até aquele momento o símbolo de poder institucional de uma esquerda conciliadora, juspositivista, acomodada e enfraquecida).
Lembrai como no dia 20 daquele mês os militantes da esquerda partidária foram agredidos, as bandeiras foram rasgadas e as camisetas retiradas à força, como no dia 20 daquele mês as manifestações coloridas e espontâneas haviam artificialmente se convertido em verde-amarelas e rigorosamente organizadas.
Lembrai como a direita vinha lambendo suas feridas desde o fracassado Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros (Cansei) em 2007; lembrai também que foi em 2013 que conseguiram um novo sopro de energia para os levar até o presente momento onde um genocida despreparado e inapto ocupa a presidência em meio a uma pandemia global desacreditada e/ou relativizada por este – bem como pelo seu séquito de apoiadores.
Lembrai de Junho de 2013 para que não se cometam os mesmos erros outra vez, lembrai de Junho de 2013 para não mais desperdiçar o sangue derramado pelos companheiros do front, lembrai de Junho de 2013 para que o ovo da serpente não termine de eclodir, lembrai de Junho de 2013 para lembrar quem são seus verdadeiros aliados, lembrai de Junho de 2013 para que nossos irmãos e irmãs não continuem a pagar pelos erros de uma sociedade doente e atônita.
P.S.: recomendamos a leitura de “As jornadas de Junho de 2013 no Brasil: anarquismo e táticas black blocs” de Isaías Albertin Moraes & Fernando Antonio da Costa Vieira.
agência de notícias anarquistas-ana
Quietude –
O barulho do pássaro
Pisando as folhas secas.
Ryúshi
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!