Covid-19 e luta de classe no Chile

Declaração pública da Sociedade de Resistência de Vários Ofícios Valparaíso em face da crise da doença coronavírus na região chilena.

A burguesia chilena transformou a pandemia da Covid-19 em um negócio lucrativo e um meio de justificar a submissão da população aos seus desígnios autoritários. Eles não estão interessados na saúde dos trabalhadores, mas apenas em manter seus privilégios de classe.

Através da mídia, dia após dia, são transmitidas figuras de infectados e mortos, que mais do que informar sobre os avanços da doença, parecem ser feitas com o propósito de justificar a repressão e o confinamento da população, e assim poder manter escondida a corrupção e as negociações da burguesia.

O estado falhou na prestação dos cuidados de saúde que os doentes do Covid-19 necessitam, com muitos agora “pré-hospitalizados” em clínicas ou ambulâncias, ou enviados de volta para casa por causa de um colapso do sistema hospitalar.

Longe de se concentrarem na crise, os políticos pedem medidas mais restritivas e uma “guerra contra a pandemia”, enquanto discutem na televisão as novas resoluções que vão tirar de sua posição privilegiada, com total desconhecimento da realidade do país, causando morte, desabrigos e pobreza.

O Estado, através de sua ala armada, a polícia e os militares, reprime a população nas ruas, enquanto as grandes empresas transnacionais se beneficiam da crise através de subsídios e créditos que lhes são concedidos pelo Estado.

Foi estabelecida uma quarentena forçada na capital e em outras cidades, que teve impacto sobretudo sobre os trabalhadores que vivem do seu sustento diário, enquanto a burguesia pode permanecer isolada em suas casas, graças às facilidades trabalhistas e econômicas que o governo lhes proporciona. Quando doente, a burguesia é tratada em clínicas privadas financiadas durante anos pelo Estado, mantidas por uma desigualdade brutal na renda e pelos recursos herdados da ditadura de Pinochet.

Nós trabalhadores sabemos que a pandemia pode ser controlada com meios adequados de higiene e proteção pessoal, mas o Estado, longe de fornecer os recursos necessários para poder enfrentá-la, optou por nos mergulhar numa “guerra”, militarizando o país, revivendo os dias sombrios do “toque de recolher” e estabelecendo uma quarentena forçada mesmo para aqueles que não estão infectados, como forma de nos disciplinar, nos submeter e aumentar o controle sobre uma sociedade que está em processo de mobilização devido a anos de abuso e exploração. Enquanto isso, nos bairros populares, os infectados e doentes devem voltar para suas casas, onde muitas vezes compartilham casas precárias, com apenas um banheiro, e com a angústia de poder infectar suas famílias.

O Estado nos obrigou a superar a crise econômica resultante da pandemia com nossas parcas economias do “seguro-desemprego” ou com títulos de fome, como a “Renda Familiar de Emergência”, que gira em torno de US$ 70 por mês. O governo começou a entregar uma caixa de mercadorias por casa, por apenas uma vez, o que é absolutamente insuficiente em casas proletárias superlotadas, e que, ao contrário, responde à necessidade de aparecer em programas de televisão através de funcionários e políticos nas campanhas eleitorais.

Nós, trabalhadores, temos que nos orientar dia a dia para trazer nosso sustento para nossas casas, evitando doenças, a polícia e os militares. Há décadas estamos endividados em lojas de departamento e supermercados, fornecendo-nos os meios de subsistência e alimentos pagos em prestações, a única saída que o capitalismo nos oferece para sobreviver à miséria. A crise econômica causada pela pandemia nos empobreceu ainda mais, mergulhando cada família proletária em uma crise de doença, desesperança e fome.

Hoje, nós trabalhadores estamos desorganizados em decorrência da repressão policial, do militarismo, da dispersão causada por anos de propaganda capitalista e da ideologização com que o liberalismo mergulhou vastos setores da população no desprezo, no individualismo e na desconfiança em relação à sua própria classe.

Só a união proletária, em organizações libertárias longe de interesses partidários ou econômicos, nos permitirá encontrar o apoio mútuo necessário, não só para superar esta crise, mas também para tecer redes de solidariedade de classe, para enfrentar a guerra em que a burguesia nos envolveu e para avançar rumo à Revolução Social e ao Comunismo Libertário.

CONTRA O ESTADO E SUA VIOLÊNCIA!

AGORA E SEMPRE A AÇÃO DIRETA!

CONTRA O ABUSO E A EXPLORAÇÃO CAPITALISTA!

LUTA ANARCOSSINDICALISTA!

Sociedade de Resistência Ofícios Vários Valparaiso

srov.valparaiso@gmail.com

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

O chapéu de palha
Atravessa o milharal –
Que calor!

Yayú