Por Edison Veiga | 14/06/2020
Há 130 anos, um grupo de imigrantes italianos chegou ao Brasil e fundou uma colônia agrícola no Paraná. Como todos os imigrantes, traziam sonhos e muita esperança na bagagem. Entretanto, estes também vinham movidos por uma ideologia: liderados por Giovanni Rossi (1856-1943), escritor, engenheiro agrônomo e médico veterinário de Pisa, na Toscana, queriam implementar no Brasil uma comunidade anarco-socialista, batizada de colônia Cecília.
“A colônia Cecília, experiência que buscou pôr em prática os princípios anarquistas e que nasceu em 1890 no Estado do Paraná, é o aspecto mais conhecido do anarquismo italiano no Brasil e sua primeira manifestação. Todavia, existem muitas impressões falsas sobre essa experiência, uma vez que a imagem da Cecília, que transparece nas obras sobre o anarquismo e nas obras de ficção que lhe foram consagradas, deve-se mais à lenda do que à realidade”, pontua a pesquisadora Isabelle Felici, professora de estudos italianos da Universidade de Montpellier, em artigo acadêmico sobre a empreitada intitulado A Verdadeira História da Colônia Cecília de Giovanni Rossi.
“É muito provável que, se a lenda não se tivesse apoderado da história da Cecília, transmitindo uma versão desviada da verdade, a experiência comunitária não teria impressionado tanto as imaginações.”
“O século 19 é o século da ciência, em que os pensadores buscavam novas experimentações. Umas destas experimentações foi a Cecília”, contextualiza à BBC News Brasil o escritor e professor universitário Miguel Sanches Neto, reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa e autor do romance Um Amor Anarquista, ambientado na Cecília. “O idealizador [Giovanni Rossi] era um intelectual com formação na área agrícola, que havia escrito um livro sobre uma experiência fictícia do anarquismo. Ele escolheu um grupo de jovens e resolveram testar as ideias na prática social. Não vieram para fazer a revolução.”
“Cecília era uma colônia anarquista socialista — o anarquismo pela destruição do poder central e o socialismo pelo compartilhamento dos recursos obtidos”, acrescenta o escritor. “Seguindo teóricos da época, seriam mais das ciências aplicadas do que da teórica. O intelectual era Giovanni Rossi.”
De acordo com as pesquisas de Felici, o Brasil não foi a primeira escolha do grupo. Em dezembro de 1889, o jornal italiano L’Eco Del Popolo, de Cremona, publica artigo anunciando que Rossi e seus companheiros iriam testar suas ideias, na prática, no Uruguai. “Quanto a Rossi, ele não dá nenhuma explicação sobre essa mudança de destino, e sua partida para o Brasil é muito discreta”, escreve a pesquisadora.
A bordo do navio Città di Roma, Rossi e seus companheiros embarcaram no porto de Gênova em 20 de fevereiro de 1890. Aportaram no Rio de Janeiro em 18 de março. Ali se abrigaram em uma hospedaria de imigrantes.
“Nós pretendemos constituir aqui uma colônia anarquista, que possa dar à propaganda uma demonstração prática de que nossas ideias são justas e realizáveis, e à agitação revolucionária na Europa auxílios financeiros”, escreveu ele, em carta enviada ao jornal anarquista francês La Révolte.
“Já faz alguns anos que nós discutimos na Itália as vantagens e os perigos que uma tal empresa poderia apresentar; e após ter estudado a questão, nós nos decidimos. Nós partimos às oito do dia 20 de fevereiro, e em Gibraltar uma família de camponeses espanhóis se juntou a nós. Nós partiremos amanhã para Porto Alegre para procurar um terreno propício.”
No dia 26 de março, o grupo embarcou novamente no navio Desterro, com destino a Porto Alegre. Mas a viagem foi abortada em escala no porto de Paranaguá, no Paraná, dois dias depois — porque alguns deles não suportaram os enjoos a bordo. “Nós devíamos ir a Porto Alegre, mas o mal de mar fazia sofrer tanto dois dos nossos companheiros, que decidimos poupá-los de outros cinco ou seis dias de navegação e descer aqui, para fundar a nossa colônia social em alguma parte do Paraná, onde sabíamos que encontraríamos um clima ameno e saudável”, escreve Rossi na edição de 1891 de seu livro Un Comune Socialista.
>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-52973847
agência de notícias anarquistas-ana
Insetos que cantam…
Parece que as sombras se amam
nos cantos escuros.
Teruko Oda
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!