Os Coletes Amarelos parecem desafiar tanto o poder como a análise. Com base em experiências diretas, este pequeno livro questiona as práticas que têm sido utilizadas – e por vezes confrontadas. Enquanto cada nova sequência da luta parecia apagar a anterior, aqui recontamos os acontecimentos: dos bloqueios aos tumultos, das ocupações nas áreas centrais às assembleias populares, dos apelos à unidade com as forças policiais às críticas à repressão.
O que nos diz esta revolta no decurso da luta de classes que surgiu e se manteve fora do quadro das forças políticas clássicas? Quais são os movimentos que o agitam? Quais são os desdobramentos que a ordem social sugere?
O coletivo Ahou ahou ahou, formado para a escrita deste livro, é composto por quatro indivíduos que viveram a luta dos Coletes Amarelos em Paris, Marselha e em várias pequenas cidades do sul da França.
“Todo mundo concorda com isto: estamos assistindo a sequência do movimento dos Coletes Amarelos, a um fenômeno de “colete-amarelização” de lutas e manifestações sociais. O termo tem ganhado espaço nos meios de comunicação social e no vocabulário ativista. Significa algo como “selvageamento”, “perda de controle através da luta”. Neste sentido, a “colete-amarelização” é, em última análise, apenas uma forma franco-cêntrica de se referir à dinâmica geral da luta de classes que se manifesta em todo o globo. Com efeito, em muitas partes do mundo, chegou o momento das lutas em que os líderes políticos e sindicais são rejeitados à margem dos movimentos, é o tempo dos motins. Da América Latina ao mundo árabe, da Europa ao Extremo Oriente, desenvolvem-se lutas em que as exigências são múltiplas, difusas, por vezes contraditórias, reunindo vários componentes sociais, subjetivando-se sob a forma do povo – lutas em que as “classes” recusam a sua marginalização política e os pobres que protestam contra a violência social que lhes é feita se misturam de forma mais ou menos harmoniosa. Esta é a dinâmica geral da luta de classes no momento presente, com a propagação dos movimentos por períodos de tempo sem precedentes, o fracasso permanente das tentativas de negociação, a tensão na guerra civil… Sabemos que o teto de vidro é sólido, vemos isso todos os dias. Atacar coletivamente a própria reprodução como trabalhador não é uma tarefa pequena. Paradoxalmente, é algo mais difícil do que enfrentar a polícia na rua: estamos sozinhos, temos medo, e as relações de solidariedade são minadas por todos os lados pela vulnerabilidade uns dos outros. No entanto, por trás da polícia, do governo, do Estado que redistribui o dinheiro, existe uma relação social estruturada em torno da exploração do trabalho. Este é o verdadeiro coração da organização social: nos permite comer, mas ao mesmo tempo é o nó da desigualdade, de todas as desigualdades. Nenhum sistema político será “justo” enquanto essa exploração continuar. Portanto, é neste campo de trabalho que terá de ser avaliado o significado histórico do fenômeno dos Coletes Amarelos nas lutas.”
“Se os Coletes Amarelos certamente não “ganharam”, podemos dizer que eles “perderam”? Não existe tanta certeza. Pelo contrário, a sua mera existência e a forma como impulsionaram a dinâmica da insubordinação social abre a porta a todo o tipo de esperanças fora da ordem vigente.”
Ao mesmo tempo, Niet! éditions está lançando 3 álbuns de fotos sobre as lutas sociais atuais.
Também disponível a partir de 12 de Junho. Por cada álbum vendido, um euro será doado a um fundo antirepressão.
As edições
Criada no início de 2016, nossa estrutura editorial se baseia em uma organização coletiva, com objetivos claros: propor, numa perspectiva de luta de classes, uma ampla difusão de ideias e práticas antiautoritárias e antipatriarcais, e desenvolver um dispositivo coletivo ligando as lutas.
A crítica social e a rejeição de todas as formas de dominação
Queremos publicar textos que analisem acontecimentos atuais ou a história das lutas populares e autônomas, dando prioridade aos escritos resultantes da experiência direta da realidade social: histórias, testemunhos, entrevistas… Queremos imaginar uma continuidade entre a história e o presente, entre a teoria e a prática, para nos ajudar a pensar no mundo atual e na forma como podemos agir nesse contexto.
Estrutura de publicação coletiva e dispositivo para a luta
Niet! éditions se baseia em um funcionamento não hierárquico e se esforça para propor livros baratos, além de ninguém ser remunerado no nosso coletivo. Queremos fazer livros que todos possam ter e compartilhar, para aguçar a raiva e alimentar a imaginação.
Tradução > Estrela
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!