[EUA] Declaração da NAASN sobre os protestos contra a violência policial

A Rede Norte-Americana de Estudos Anarquistas (NAASN, sua sigla em inglês) condena os assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery, Tony McDade, David McAtee, Nicholas Gibbs, Chantel Moore e as inúmeras outras vidas negras, indígenas e de cor (BIPOC – Pessoas Negras, Indígenas e de Cor) roubadas pela violência policial e supremacia branca. A longa história de brutalidade e assassinato racista da polícia foi facilitada por uma cultura de impunidade que incentiva essa violência.

Portanto, apoiamos em solidariedade ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e outros grupos anti-racistas na condenação de assassinatos policiais e na repressão violenta de protestos, exigindo e lutando pela justiça racial e exigindo mudanças estruturais radicais há muito esperadas. Isso inclui desinvestir, desautorizar e abolir a polícia e as prisões e investir em alternativas de saúde, educação e segurança lideradas pela comunidade. Como estudiosos e ativistas anarquistas, também denunciamos a transformação de anarquistas e antifascistas em bodes expiatórios para deslegitimar esse movimento por justiça, criar desculpas para mais violências contra manifestantes e criminalizar dissidências.

Esses e muitos outros casos de flagrante abuso do poder policial são exemplos gritantes de injustiça e racismo sistêmicos. A polícia aterroriza comunidades negras, indígenas e de pessoas de cor, comunidades LGBTQ +, pessoas com deficiência e pessoas pobres e sem moradia diariamente. A ameaça coercitiva de violência policial e prisão é onipresente. As forças policiais militarizadas em todo o mundo impõem sistemas violentamente racistas, ecologicamente destrutivos e de supremacia branca do capitalismo e colonialismo.

Devido à natureza inerentemente violenta e injusta do sistema de policiamento, apoiamos organizações como o MPD150, que exigem que a polícia seja responsabilizada, desinvestida e finalmente abolida. A verdadeira justiça não é possível até que os sistemas que geram injustiça sejam desmantelados. Orçamentos astronômicos para sistemas penitenciários e forças policiais opressivas e militarizadas devem ser desviados para as comunidades carentes. Em vez de dedicar fundos públicos para policiar e aprisionar pessoas desabrigadas, por exemplo, esses fundos devem ser usados para tornar a habitação um direito humano.

A polícia justifica sua existência preenchendo papéis sociais necessários, desde a resposta a emergências até a orientação do tráfego. Embora as atividades policiais violentas e racistas devam deixar de existir por completo, papéis como resposta a emergências devem ser desempenhados por organizações responsáveis, desarmadas, baseadas na comunidade e democráticas.

Como uma rede transnacional de pesquisadores e escritores que operam dentro e fora do sistema oficial de ensino superior, acrescentamos nossas vozes ao apelo a todas as instituições de ensino para que se desviem da polícia local e desinvistam, desarmem e desmembrem suas próprias forças policiais. Convidamos todos os acadêmicos, professores e intelectuais públicos a usarem suas posições para criticar instituições opressivas e se organizarem para removê-las de nossas comunidades.

Como uma comunidade de estudiosos dedicados ao estudo do anarquismo na América do Norte, reconhecemos o perigo quando o presidente Trump e outros culpam “bandidos anarquistas” e ativistas antifascistas por instigar a violência, desviando cinicamente a atenção da violência supremacista branca e da extrema-direita que ele incentivou e permitiu.

Os líderes autoritários empregam há muito tempo o estereótipo de “anarquista que lança bombas” para deslegitimar protestos e justificar a violência policial contra movimentos populares por justiça social. De fato, após a Primeira Guerra Mundial, o governo americano fomentou um “terror vermelho” anti-anarquista. Nesse período reacionário houve violência, espancamentos, prisões, censura, deportações em massa de ativistas e execuções da classe trabalhadora, incluindo a execução por cadeira elétrica de dois radicais imigrantes, Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti. Agora, vemos a mesma história começar a acontecer nos Estados Unidos, quando um presidente temeroso ameaça suspender os direitos civis e humanos para “dominar” os “anarquistas rebeldes.”

Chamamos de covardes essas táticas de propaganda pelo que são: tentativas fáceis de distrair o público americano das reais fontes de violência, desigualdade e racismo. Observamos, em resposta, que os anarquistas desempenharam papéis úteis e produtivos em quase todos os principais movimentos sociais horizontais (não-eleitorais) da história moderna norte-americana.

Em vez de demonizar os anarquistas, convidamos todos a considerar a sabedoria e o discernimento encontrados nos métodos de organização não-hierárquica e no pensamento político radical, incluindo especialmente a longa tradição do pensamento e prática políticos radicais dos negros, do abolicionismo à ação anti-racista e ao feminismo negro, e além.

Por fim, repetimos as palavras que Sacco e Vanzetti escreveram pouco antes de o Estado de Massachusetts os matar há 93 anos.

O que desejo mais do que tudo nesta última hora de agonia é que nosso caso e nosso destino sejam compreendidos em seu ser real e sirvam como uma tremenda lição para as forças da liberdade, para que nosso sofrimento e morte não tenham sido em vão.

– Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, 1927

As palavras de Sacco e Vanzetti soam verdadeiras para todos os outros mortos pela polícia e pelo sistema penitenciário, que enchem os livros de história dos EUA e de tantos outros países. Através dos movimentos pela liberdade, aprendemos com as lutas uns dos outros e nos opomos contra sistemas interligados de dominação. Garantiremos que essas mortes não foram em vão.

Em solidariedade através da luta sem fim,

Rede Norte-Americana de Estudos Anarquistas, 2020

naasn.org

Tradução > abobrinha

agência de notícias anarquistas-ana

O vaga-lume à noite
acende sua luz.
Pisca-pisca.

Aprendiz